segunda-feira, 23 de junho de 2025

Rádio SOUCG

  • ThePlus Audio

Términos Inacabados – Episódio 28

Oaristo – Episódio 28

 Braz passa mais um dia sendo observado depois de uma aparente recaída.

Ele precisa avisar Jerusa sobre os alertas feitos por Ingmar.

Ela o ouviria?

Braz sente que toda sua trajetória após a separação e o sucesso que fez como influenciador não faziam mais o menos sentido.

Rompeu com Jerusa por que mesmo? Por que ela tinha uma vida agitada? Por que precisava viajar e conviver com os políticos que ele detestava? Sua implicância com o interesse obsessivo dela pelos textos do Machado de Assis lhe pareciam agora não apenas ridículos, mas um álibi, um pretexto. 

Ele fora um idiota em propor um afastamento que sequer desejava. Queria viver aventuras com outras mulheres? Gozar novamente uma vida de liberdade? Mas que tipo de liberdade um sujeito pode ter se o preço for renunciar ficar com a pessoa com a qual podia conversar sobre quase tudo? Que eram muito mais rápidas não apenas nas questões do mundo prático, mas também nas especulações teóricas.

 Não lembrava de ter as conversas com nenhuma outra companhia, homem ou mulher, as conversas que teve com Jerusa. Oaristo é o nome dos diálogos amorosos entre um casal. Talvez não fosse exatamente assim.

 E por que o irritou tanto quando ela trouxe pela primeira vez as obras completas e ficou fascinada pelo “A queda que as mulheres têm pelos tolos.”?  Não era bem fascínio, era admiração e repulsa. Sua ambivalência é que o irritou. Ela passou a pesquisar as circunstâncias e o contexto no qual Assis teria escrito o livro.

E o que de fato ele não aguentou é que ele fosse de fato o tolo. E talvez nem fosse essa. O coma as vezes faz milagres. A experiencia de quase morte muda os sujeitos que se acercam do fim da jornada. E Braz notou que por projeção arruinou a única relação que fazia sentido em sua vida.

Todos os seus amigos tinham ou tiveram amantes. E não tinham o menor escrúpulo em fazer comentários horrendos não apenas sobre suas esposas, mas sobre os relacionamentos prévios. Depois da separação passou a integrar grupos misóginos, frequentou rodas com espécimes de machos grotescos, e eram tantos que deduziu que havia uma epidemia de cafajestes supostamente bem-casados. Para se entrosar precisava mergulhar nos mesmos lugares-comuns, nos clichês que aumentavam as vantagens dos alfas e minimizavam as mulheres.

Ficou especulando como pode deixar-se cegar por este tipo de frivolidade. Uma superficialidade que parecia bem tolerada até pelas esposas de seus convivas. Quando se tornou conhecido e muito mais rico essa promiscuidade estética tornou-se tão comum que não mais poderia discerni-la do que realmente pensava. Havia um mimetismo incontrolável. Lembrou- se do personagem Zelig, do filme de Woody Allen, mas logo descartou a imagem, era muito pior.

Braz começou a admitir que seu afastamento de Jerusa era por medo. Um medo inconsciente do triunfo da visão panorâmica do feminino contra a percepção segmentada do masculino. E não era uma constatação apenas romântica. Era uma dedução afetiva: só feminino poderia entender a impreenchível lacuna dos homens.

Jerusa tinha absoluta razão, Machado enxergou longe. Ela se revoltara não contra as constatações precisas do escritor, mas contra as generalizações, as análises dos críticos e sobretudo porque ele não explicitou de quem era o texto.

“Afinal, de quem era o texto, Machado?”

Era essa a “carta” que figurava em seu diário.

Continua

gente.ig.com.br

Enquete

O que falta para o centro de Campo Grande ter mais movimento?

Últimas