sexta-feira, 9 de maio de 2025

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O mercado bilionário dos robôs humanoides é real

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O mercado bilionário dos robôs humanoides é real

Segundo relatório divulgado pelo Morgan Stanley, os robôs humanóides têm potencial para movimentar até US$ 3 trilhões por ano só nos Estados Unidos. A projeção considera a evolução rápida da chamada “IA incorporada” — a combinação de inteligência artificial generativa com sistemas físicos capazes de executar tarefas complexas no mundo real. Ou seja, a IA sai da tela. Ganha pernas, braços, sensores de profundidade e capacidade de segurar ferramentas.

Não é surpresa para ninguém que a China está liderando a corrida para transformar essa tecnologia em produto escalável. A aposta é que robôs com aparência e mobilidade humanas sirvam como força de trabalho real em setores como logística, manufatura, assistência a idosos e até serviços domésticos. O que antes era um conceito experimental começa a adquirir contorno econômico e previsibilidade de mercado.

O estudo, intitulado The Humanoid 100, mapeia 100 empresas com exposição direta ou indireta à cadeia de valor dos robôs humanoides. Essa cadeia vai desde os “cérebros” — chips, modelos de linguagem, softwares de visão computacional — até os “corpos” — motores, sensores, atuadores, ligas metálicas e sistemas de bateria. Trata-se de uma nova indústria que se posiciona como herdeira natural do ecossistema de veículos elétricos e automação industrial.

E veja só: 73% das empresas envolvidas estão na Ásia, e mais da metade delas são chinesas. O Ocidente, com exceção de nomes como Tesla e Nvidia, está atrasado diante da dimensão dessa revolução. O paralelo com a indústria de veículos elétricos — onde a China já assumiu a dianteira global — não é coincidência.

Em fevereiro, publiquei uma coluna discutindo o elo entre Elon Musk, o fascismo e os robôs. Mostrei como a retórica do inimigo comum — neste caso, os imigrantes ilegais — não apenas alimenta discursos populistas, mas também prepara terreno para justificar a substituição dessas populações por robôs. Musk já declarou que seu robô Optimus poderá cuidar dos seus filhos, cortar sua grama e fazer compras. Tudo isso, segundo ele, por um preço semelhante ao de um carro. A ausência de milhões de trabalhadores imigrantes não criaria um rombo econômico — criaria um mercado. E a Tesla estaria posicionada para ocupá-lo.

Essa perspectiva não é marginal. O relatório aponta que a adoção em larga escala de robôs humanoides pode começar a ganhar tração já na década de 2030, atingindo escala global por volta de 2050. A ideia de um robô como “substituto universal” — capaz de se adaptar a diferentes contextos e tarefas — está deixando de ser utopia para virar tese de investimento. 

Não é por acaso que o Morgan Stanley descreve a “IA física” como uma tecnologia com capacidade de impactar o PIB global e a própria definição de trabalho. Não se trata apenas de automatizar tarefas, mas de redesenhar as estruturas sociais e produtivas em torno de uma nova força de trabalho que não adoece, não dorme, e — por enquanto — não questiona.

No fundo, este não é mais um artigo sobre robôs. É sobre como o mundo se prepara para coexistir com máquinas que ocuparão funções sociais e econômicas centrais. O impacto disso não está apenas nas fábricas ou nos gráficos financeiros — está no tecido social. E, para quem ainda acha que é cedo para essa conversa, talvez seja hora de olhar de novo para o calendário. Eles já chegaram.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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