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Após entusiasmo inicial, jornalismo busca respostas para desafios da IA

JOSEP LAGO

Um logotipo de Inteligência Artificial (IA) no Mobile World Congress em Barcelona, 27 de fevereiro de 2024

Josep LAGO

A chegada da inteligência artificial (IA) pode ser uma ferramenta de apoio ou um elemento transformador para o jornalismo, mas as redações buscam respostas para os novos desafios, que vão de questões trabalhistas a éticas.

– Qual o futuro do meu emprego? –

Essa pergunta está na boca de todos os participantes do Festival Internacional de Jornalismo celebrado nesta semana na cidade italiana de Perugia.

O uso de ferramentas de IA para transcrever áudios, resumir textos ou traduzir se torna uma prática nas redações. Na Alemanha, o grupo Axel Springer anunciou no começo de 2023 um corte na equipe de seus jornais Bild e Die Welt, argumentando que a IA poderia substituir jornalistas, principalmente aqueles responsáveis pela diagramação e revisão.

Há um ano e meio, a IA generativa, que permite criar textos e imagens de forma simples, abriu caminho para novos usos, levantando novos tipos de preocupação. Vozes e rostos, por exemplo, podem ser clonados para produzir um podcast ou telejornal.

No ano passado, o portal filipino Rappler lançou uma marca para jovens criando histórias em quadrinhos, gráficos e vídeos a partir de artigos longos.

Os representantes dos veículos concordam que o ofício de jornalista se concentrará em tarefas de maior valor agregado. “As ferramentas que produzimos são assistentes” na realização do trabalho, ressaltou no festival o diretor do Google News, Shailesh Prakash.

– Questão de custo –

O custo da IA generativa despencou desde a chegada do ChatGPT, em novembro de 2022. Criada pela empresa americana OpenAI, essa ferramenta se tornou acessível para qualquer redação.

Inspirado nessa ideia, o veículo colombiano especializado em jornalismo investigativo Cuestión Pública criou sua própria ferramenta, que permite a busca automática de elementos de contexto para notícias de última hora. Esse aporte “pode ser editado imediatamente com o nosso aplicativo”, destacou a diretora geral do veículo, Claudia Báez.

– Informação e desinformação –

Segundo estimativa do EveryPixel Journal, em meados de 2023 a IA gerou a mesma quantidade de imagens em um ano do que a fotografia em 150 anos de história. Diante desse tsunami de conteúdo gerado por máquinas, como distinguir a informação?

Frente aos “deepfakes”, vídeos enganosos, os veículos de comunicação e o mundo da tecnologia se uniram, por exemplo, com o lançamento da Coalizão para a Procedência e Autenticidade do Conteúdo (C2PA), que busca melhorar a identificação e origem de informações digitais.

“O cerne do nosso trabalho continua sendo a apuração, a reportagem de campo. Vamos continuar dependendo por muito tempo de repórteres humanos”, talvez com o apoio da inteligência artificial, afirmou a subdiretora de Informação da AFP responsável pela IA, Sophie Huet.

– Da lei da selva à regulamentação –

A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) expandiu o escopo de sua missão para a defesa da informação viável e apresentou em 2023 a Carta de Paris sobre Inteligência Artificial e Jornalismo.

A regulamentação é criada frente a uma tecnologia em constante evolução. O Parlamento Europeu aprovou no mês passado um texto pioneiro para regular o uso da IA no território da União Europeia sem frear a inovação.

Nas redações, são cada vez mais frequentes as diretrizes de boas práticas. “Mudamos nossas diretrizes a cada três meses”, destacou a diretora da Quintillion Media, Ritu Kapur, na Índia.

– O dilema dos direitos autorais –

Os sistemas de IA precisam ser abastecidos com dados. O jornal The New York Times processou em dezembro a OpenAI e a Microsoft por violação de direitos autorais.

Outros fecharam acordos com a OpenAI, como o consórcio alemão Axel Springer, a agência AP, o jornal francês Le Monde e o grupo Prisa Media (El País, As) na Espanha.

Diante da crise, a colaboração pode ser tentadora, destacou a professora da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, Emily Bell, em Nova York. Para a acadêmica, há uma pressão externa para “não perder o trem”.

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