Natural de Tupã, no interior de São Paulo, Maira Cristina Britto Fernandes, de 57 anos, segue o legado deixado por seu pai na produção agrícola. Hoje, como produtora de soja na região de Rio Brilhante (MS), ela iniciou sua trajetória após se formar em administração de empresas e combinou sua paixão pelo agronegócio com o desejo de adquirir conhecimento.
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Memórias à tona
A paixão de Maira pelo grão começou desde muito cedo. Durante as férias, ela ia para a fazenda de seu pai em Mato Grosso do Sul. ”Minhas memórias de infância são muito fortes aqui. Quando ele comprou a propriedade, eu tinha apenas nove anos. Eu adorava o bosque, que já era uma reserva legal, local onde tinha um riacho que eu descansava”, diz.
Em meio às árvores e às águas do riacho, Maira acompanhava seu pai nas fazendas, que inicialmente eram voltadas para a pecuária, com um pouco de cultivo de cana-de-açúcar. “Vim para o Mato Grosso do Sul aos seis anos, quando tudo era fogão a lenha, lamparina e luz a motor. Sempre gostei de explorar as matas e os pequenos rios, que eu chamava de ‘minha florestinha’, acompanhada por meus irmãos e primos”, conta.
De acordo com a sojicultora, seu pai sempre se preocupou com o meio ambiente e deixou um legado importante. “Nós buscamos viver em harmonia com a natureza, com respeito ao solo e proteção dos mananciais, sempre com o apoio de nossos colaboradores”, complementa.
Caminho de adaptações
Na década de 1980, a separação da empresa familiar trouxe mudanças à vida de Maira. Seu pai ficou com as terras em Mato Grosso do Sul, mas enfrentou dificuldades financeiras, o que o levou a arrendar parte da propriedade. Nesse período, seu irmão mais velho, que decidiu não continuar os estudos, começou a trabalhar na fazenda, abrindo novos negócios, enquanto sua mãe assumiu a administração da empresa.
Por outro lado, Maira e seu irmão mais novo focaram na educação. Maira se mudou para São Paulo para ampliar seus conhecimentos, enquanto seu irmão se formou em agronomia, em Dourados.
Safra atual
A sojicultora destaca que a safra atual está com 80% das áreas plantadas e 60% das sementes germinadas, no entanto, enfrenta desafios, especialmente relacionados à dessecação das plantas. Ela menciona que o problema vai além de questões específicas da propriedade, o que reflete na ineficiência nos manejos adotados. Quanto às pragas, a situação está controlada na maior parte das áreas, embora em regiões mais úmidas tenha sido notado o surgimento de caramujos.
Para lidar com as adversidades, os produtores da região têm adotado um manejo cauteloso, com a rotação de culturas e gramas. Além disso, buscam diversificar as moléculas e princípios ativos nos fungicidas e inseticidas para evitar a resistência. “Algumas áreas, como aquelas onde o ciclo da cana-de-açúcar é interrompido pela soja, apresentam uma infestação maior de pragas, o que é esperado”, detalha Maira.
Ela explica que, atualmente, foram realizadas coberturas com crotalária e braquiária na propriedade, e há expectativas de que essa mistura melhore a fertilidade do solo e, consequentemente, a produção da próxima safra de soja. A equipe segue atenta e avalia os resultados ao longo da temporada, com o objetivo de garantir tanto a produtividade quanto a saúde do solo.
Tecnologias e estratégias
Maira destaca a importância da tecnologia no manejo agrícola: ”Investimos em rotação de culturas, manejo da fertilidade do solo e controle de pragas. Nossas análises de solo estão bem equilibradas, sem toxicidade de alumínio, graças às correções que realizamos anualmente.”
Ela ressalta que os mixes de sementes para cobertura, como a braquiária combinada com crotalária, têm mostrado resultados positivos na produção de soja. ”O plantio do milho safrinha é realizado com cobertura, a fim de garantir que o solo permaneça protegido, inibindo o crescimento de mato e mantendo a umidade do solo”, conclui Maira.
Embora o ano tenha sido marcado por um regime de chuvas tardias, a estratégia de irrigação em algumas áreas proporciona segurança adicional. Maira enfatiza que a equipe é fundamental para o sucesso da produção: ”Priorizamos a qualificação dos trabalhadores e a aquisição de equipamentos, pois são eles que fazem a diferença.”
Ela conclui que o cuidado com a fertilidade do solo e a sustentabilidade das práticas agrícolas são essenciais. ”Devolvemos ao solo o que ele utiliza, em um equilíbrio que nos proporciona estabilidade na produção, mesmo em anos secos. A gestão adequada das coberturas e a proteção contra incêndios são igualmente importantes para manter a saúde dos mananciais e das reservas naturais.”