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Roteiro de 24 horas em Buenos Aires para recém-chegados

Vamos deixar a rivalidade de lado porque todos sabemos, ao menos no quesito futebol, qual o país sul-americano que está “bien en la foto”. E também porque Buenos Aires é uma festa para nós. Avenidas e prédios que nos fazem sentir em qualquer capital europeia, restaurantes para comer rezando — e bebendo os melhores vinhos do continente —, museus enormes e plurais: do modernismo latino-americano do MALBA aos principais expoentes do academicismos francês do Belas-Artes . Sem contar os muitos teatros, livrarias e cafés. De dia, praças deliciosas e os enormes Bosques de Palermo . Para quem prefere a noite, uma Avenida Corrientes sempre acesa e repleta de opções.

Nos últimos anos, mesmo com a montanha-russa da economia argentina, que já não é mais aquela pechincha, muitos brasileiros se arvoraram a visitar ou revisitar a capital portenha — 24% dos estrangeiros chegados em Buenos Aires em 2023 vieram do Brasil. A seguir, você encontra um roteiro vapt-vupt com o que há de mais clássico em Buenos Aires:

Dia 1

16h30

Passado todo o périplo da chegada, digamos que seja um final de tarde e, convenhamos, viagem dá uma fome danada. Pegue o rumo do Microcentro, caso já não esteja hospedado por lá, e vá até a estonteante Confiteria Ideal . O icônico Café Tortoni também é uma opção — e, para alguns, ponto obrigatório — mas a fila para uma mesa não raro pode levar coisa de uma hora.

A Ideal , a 10 minutos de caminhada do Tortoni , foi aberta em 1912 em um suntuoso salão neoclássico e não deve nada em história e requinte a qualquer outro café portenho — nem mesmo ao próprio Tortoni . Nesse pedaço argentino da belle époque, é recomendado pedir o café de sua preferência — o cappuccino é ótimo — para acompanhar algum dos doces de pâtisserie expostos como esculturinhas na vitrine. O biscoito amanteigado, especialidade da casa, também é ótima pedida.

Satisfeita a fome, a dica é dar um pulo no Obelisco o mais famoso monumento de Buenos Aires está a pouquíssimos metros da Ideal . Do pé da torre é possível ver outro gigante portenho, o Teatro Colón . A principal casa de espetáculos da Argentina é uma das maiores do mundo e comporta mais de 2.000 espectadores. Para quem tiver mais tempo, vale assistir a uma apresentação ou ao menos fazer uma visita guiada ( reserve pelo site ou compre na bilheteria).

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17h30

O Obelisco está fincado em um dos mais importantes cruzamentos de Buenos Aires, no encontro da Avenida 9 de Julio — aclamada como a mais larga do mundo — com a Avenida Corrientes , endereço da noite portenha.

Ao entrar na Corrientes você estará cercado por cafés, pizzarias, livrarias e teatros, muitos teatros! A avenida é a Broadway portenha, com destaque para o lindo complexo San Martín , um belo exemplar modernista, na altura do número 1530.

Perto dali, na altura do número 1660, aproveite para conhecer o Paseo la Plaza , praticamente uma síntese da avenida. Ao entrar pelo estreito corredor, que mais parece uma passagem secreta, somos levados a um centro comercial onde funcionam lojas, bares e restaurantes. Por ali, várias pessoas se aglomeram esperando para entrar no teatro onde rolam shows, stand-ups e peças. No mezanino tem até um museu dedicado aos Beatles : trata-se da coleção particular do argentino Rodolfo Vázquez, o maior colecionador de memorabilia Beatle do mundo — feito sancionado até pelo Guinness.

Flanar pela Corrientes está ainda mais agradável porque desde 2019, a partir das 19h, toda uma via da avenida é fechada para carros, tornando-a um imenso calçadão. A avenida é repleta de livrarias, assim como outras regiões badaladas de Buenos Aires, que tem a maior quantidade per capita do mundo.

21h30

Estar na Corrientes é uma ótima oportunidade para conhecer a Guerrin . A mais famosa pizzaria é a salvação para aqueles que saem tarde dos teatros vizinhos — a casa só abaixa as portas às 2h. Um clássico de lá é a fugazzetta, uma pizza sem molho com camadas transbordantes de queijo e cebola. Depois dessa refeição “levinha”, o aconchego do seu hotel ou Airbnb é a melhor pedida.

Dia 2

9h

Buenos dias, Buenos Aires ! Se na noite anterior o percurso foi do Obelisco para a Corrientes , hoje é dia de percorrer a Avenida de Mayo , uma das grandes avenidas da cidade, do já mencionado Tortoni e, seguindo em direção ao rio da Prata, do principal edifício do país, a Casa Rosada .

Apesar de ser um dos mais famosos monumentos argentinos, a Casa Rosada não é o único atrativo dos arredores da Plaza de Mayo Eigenes Werk/Wikimedia Commons

Vale começar a caminhada na Plaza del Congreso , a casa do parlamento argentino. Dali, seguindo o curso das águas de Mayo , podemos apreciar o auge da arquitetura eclética que caracteriza Buenos Aires desde o início do século XX — período em que toda a Argentina viveu um boom econômico. Vale manter os olhos mais atentos ao Palácio Barolo , no número 1370 e ao Edifício La Inmobiliaria , no 1033.

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10h30

Chegamos à Plaza de Mayo ! A mais famosa praça de Buenos Aires é essa que carrega o nome da avenida e serve de esplanada para a Casa Rosada , residência oficial do presidente . A foto em frente ao escritório de Milei, porém, não é a única coisa que se pode fazer por lá.

Ao redor da plaza é possível conhecer ainda a imensa Catedral Metropolitana — um templo em estilo neoclássico onde está enterrado o General San Martín, herói da independência argentina. Vizinho à igreja e mirando a Casa Rosada está o Cabildo , uma das pouquíssimas edificações coloniais ainda de pé na cidade que guarda um museu contando a história da Argentina desde o domínio espanhol até sua emancipação.

Você pode também aproveitar para entrar na Calle Defensa, onde aos domingos uma feira de artesanato imperdível se instala ali e vai até San Telmo . Mas a dica nesse dia é explorar apenas o comecinho dela onde está o Buenos Aires Museo (BAM) , que conta por meio de painéis, fotos e objetos a história da cidade. O precioso do lugar é o terraço, suba e veja os lindos grafites de Mariela Ajras nas empenas de prédios vizinhos.

13h30

A elegante Recoleta será a próxima parada, mas antes é preciso almoçar. Nada mais justo que seja uma parrilla porteña. Pegue um táxi e siga até a Parilla Peña , próxima a Avenida Callao , que serve uma carne de respeito. De entrada, uma bela empanada de carne antecede o corte de sua preferência. A especialidade é o ojo de bife, parecido com a nossa picanha. Como é um restaurante frequentado pelos locais, e fora do circuito tradicional, os preços são quase tão agradáveis quanto a comida. Conta fechada, descemos por aquela mesma Callao .

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15h

Ao fim da avenida, estamos no Cemitério da Recoleta . Alguns dos mortos mais famosos de Buenos Aires estão aqui, em especial o túmulo da ex-primeira dama Evita Perón, que é na verdade bastante simples e vive lotado de flores. Há aqueles menos populares e com histórias mais inusitadas, como a de um ex-funcionário do cemitério que, depois de juntar dinheiro e comprar o próprio jazigo, se matou no dia seguinte.

Cemitério da Recoleta, Buenos Aires, Argentina
O cemitério da Recoleta é casa de algumas das mais famosas figuras históricas argentinas Andrew Currie/Wikimedia Commons

Ao sair do cemitério, vale descer até o vizinho Museu Nacional de Belas Artes . A entrada é gratuita e a coleção não deve nada aos grandes museus da Europa, com exemplares de Picasso, Monet, Goya e Renoir espalhados pelo imenso palácio. Além deles, uma série de artistas argentinos fazem parte do acervo.

Ficou aquele gostinho de quero mais? Claro, Buenos Aires faz isso com a gente. Então se tiver alguns dias a mais, aproveite para ir até Palermo para conhecer o MALBA (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires) e ver o Abaporu, de Tarsila, in loco. E depois, adentrar o pedaço conhecido como Palermo Soho, a região mais trendy e descolada e explorar miolinho composto pelas calles Costa Rica, Armenia, Gurruchaga, Thames, Gorriti…

Tem ainda San Telmo , onde há o mais movimentado mercado municipal da cidade e a feira das pulgas, aos domingos. E, claro, não dá para deixar de conhecer La Boca e La Bombonera — casa do Boca Junior — ou o Monumental , do rival River Plate. Ir a Buenos Aires é como visitar um irmão desgarrado, aquele com quem às vezes nos desentendemos, mas que nunca deixamos de encontrar.

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