Uma plataforma com informações sobre cadeias agropecuárias e outros temas transversais para apoiar, de forma on-line, serviços de assistência técnica e extensão rural. Esta é a Ater+ Digital que disponibiliza a extensionistas de todo o País ferramentas digitais para facilitar ações remotas e presenciais. São vídeos, áudios, aplicativos, cartilhas, infográficos, cursos e outros conteúdos destinados a orientar o trabalho de agentes de extensão rural.
Com o lançamento da plataforma, os técnicos de extensão rural terão à disposição, já de início, conteúdos organizados em sete hubs virtuais temáticos: Apicultura, Caprinos e Ovinos, Feijão, Mudanças Climáticas, Nutrição e Saúde e Sistemas Agroflorestais.
A organização dessas páginas, com informações em linguagem concisa e acessível, envolveu equipes de diferentes unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e instituições parceiras. Outros hubs com conteúdos sobre outras cadeias produtivas já estão em desenvolvimento, com previsão de lançamento ainda neste ano.
Este uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) representa também um esforço para superar um desafio: somente 18,2% dos agricultores familiares brasileiros dizem ter acesso a serviços de assistência técnica e extensão rural (Ater), segundo o Censo Agropecuário de 2017.
As iniciativas em formato digital, portanto, têm potencial para trazer extensão a esse tipo de serviço, assim como facilitar a interação de instituições de pesquisa e Ater brasileiras com técnicos e produtores rurais.
“A plataforma traz diferentes formatos que permitem atendimentos técnicos adaptados para a realidade de cada produtor. Além disso, atende à demanda de oferecer conteúdos técnicos e ferramentas digitais, de maneira organizada e agregada, validados por equipe especializada”, destaca o pesquisador Luciano Nass, da Embrapa Meio Ambiente, um dos integrantes das equipes que desenvolveram conteúdos para a plataforma.
Segundo Rodrigo Ferraz, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
(IICA), que atuou como consultor técnico do projeto que originou a plataforma, a Ater+Digital é uma ferramenta para uso nas rotinas de técnicos e produtores rurais, com potencial para proporcionar, a baixo custo, a circulação de inovações, intercâmbios de novas tecnologias e experiências úteis. Para ele, o uso das TICs pode tornar esse compartilhamento de informações bem mais ágil.
“É importante destacar que a Ater digital, bem como suas ferramentas, não são contrapartida à extensão rural tradicional e sim um complemento que aborda os novos desafios da comunicação, utilizando avanços tecnológicos e o novo comportamento das sociedades urbanas e rurais”, ressalta Ferraz. De acordo com ele, instituições de Ater relatam aumento significativo na frequência de contato com os produtores rurais, ao integrar meios digitais nas suas atividades. “Além disso, as ferramentas digitais permitem a interação entre o técnico e o produtor entre uma visita e outra, possibilitando a troca de informações e a realização de uma série de tarefas durante esse período”, acrescenta.
Conteúdos digitais para inovação e interação
O desenvolvimento da plataforma Ater+ Digital mobilizou profissionais de diferentes
áreas, como Pesquisa & Desenvolvimento, Transferência de Tecnologia, Comunicação e Tecnologia da Informação. Os resultados, mostram, na visão de Nass, o diferencial de uma curadoria especializada com conteúdos produzidos por instituições referências na área da agricultura familiar.
“A plataforma apresenta como principais novidades a oferta contínua de informações, cursos, materiais educativos, links para outros sites e a realização de atividades informativas como webinars e lives. Além disso, a plataforma divulga novidades e tecnologias do setor agropecuário em cada um dos temas escolhidos”, frisa o pesquisador.
Já Vanessa Magalhães, analista de Tecnologia da Informação da Embrapa Gado de Leite, destaca a intenção da plataforma em aprimorar canais de comunicação e interação com o público-alvo, ao facilitar a disponibilização ágil de informações técnicas para extensionistas e produtores por meio digital. No processo de desenvolvimento da plataforma, ela coordenou testes com técnicos, para obter feedback e desenvolver conteúdos mais alinhados com as necessidades dos usuários.
“O objetivo é que essa infraestrutura seja eficiente em proporcionar inclusão, compreensão, esclarecimento e adoção das tecnologias recomendadas pela Embrapa e seus parceiros. Isso, por sua vez, deve contribuir para promover mudanças de comportamento entre produtores, consumidores e tomadores de decisões quando necessário”, acredita Magalhães.
Políticas Públicas
A estruturação de soluções digitais para o compartilhamento de informações qualificadas tem potencial para ampliar as possibilidades de acesso continuado dos agricultores familiares aos serviços de assistências técnica e outras políticas públicas. Essa é a principal contribuição esperada pelos ministérios da Agricultura e Pecuária (Mapa) e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) com a criação da Ater+ Digital.
A ideia do projeto surgiu em 2020 a partir de um diagnóstico sobre a baixa cobertura da assistência técnica no campo, especialmente na região Nordeste, conta Paulo Melo, da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo (SDIMapa). Ele explica que o intuito nunca foi substituir a assistência técnica presencial pela remota ou digital.
“A proposta sempre foi fornecer ferramentas digitais para aumentar o alcance da assistência técnica feita por pessoas, diretamente no campo”, afirma, ressaltando que a cobertura pode ser ampliada não só em termos geográficos, mas também com a assistência técnica em contato mais frequente com o produtor, mesmo à distância.
Werito Fernandes de Melo, coordenador de Formação e Construção de Conhecimento
no Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural do MDA, lembra que durante a pandemia de Covid-19 a realização de ações de Ater de forma remota acabou sendo impulsionada como um meio para prestar atendimento aos agricultores naquele momento.
“As organizações prestadoras de serviço, públicas e privadas, responderam de diferentes maneiras a esse desafio buscando, dentro das especificidades de cada região e empresa, as alternativas viáveis para esse atendimento. Nesse contexto, hoje a plataforma surge como uma oportunidade estruturada de prover informações, organizadas e validadas por especialistas, que podem facilitar muito o trabalho dos extensionistas”, explica.
Para ele, o uso de ferramentas digitais deve facilitar o acesso dos agricultores a políticas públicas que auxiliem no aprimoramento dos sistemas de produção, na melhoria dos índices de produtividade e rentabilidade, maior sustentabilidade das propriedades e melhoria da
qualidade de vida das famílias no meio rural.
A organização da informação disponível é outra contribuição do projeto para a política de assistência técnica pública, segundo Paulo Melo, do Mapa. “Ela pode ajudar a identificar lacunas de conhecimento a respeito de determinado assunto, seja uma praga, uma doença ou um processo de colheita, e servir como um poderoso instrumento gerador de demandas por formação e informação para o produtor”, destaca.
Nesse sentido, ele também aponta como benefício a possibilidade de aproximar ainda mais as instituições de pesquisa e o setor produtivo, a partir do momento que os hubs virtuais forem utilizados como um canal de comunicação entre os agricultores, a assistência técnica e a pesquisa agropecuária, contribuindo para a compreensão das demandas reais do campo.
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