A cultivar de capim-elefante BRS Capiaçu, desenvolvida pela Embrapa para a pecuária leiteira, expande sua aplicação e se consolida como uma alternativa promissora para a geração de energia renovável. Dez anos após seu lançamento, o capim mostra potencial técnico e econômico para uso em indústrias, como cimenteiras, além de outras aplicações em bioenergia.
A planta é capaz de produzir cerca de 50 toneladas de matéria seca por hectare ao ano, um volume 30% superior ao de outras cultivares disponíveis no mercado. Essa produtividade chamou a atenção da indústria e motivou a parceria entre a Embrapa e a Ciplan/AS para desenvolver um protótipo teórico de uso da biomassa do capim em altos-fornos. Segundo o pesquisador Juarez Campolina Machado, o poder calorífico da BRS Capiaçu é competitivo frente a combustíveis fósseis, como o coque de petróleo.
Samuel Oliveira, também da Embrapa, destaca que os testes iniciais indicam viabilidade técnica e econômica do capim para o setor cimenteiro. Além disso, novos estudos estão em andamento para avaliar o uso da BRS Capiaçu na produção de biogás, biometano e etanol de segunda geração.
Entre as iniciativas, está o projeto Biograss, realizado em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Bioköhler, que testa a codigestão de sorgo e capim-elefante com resíduos da produção animal em Toledo, Paraná.
A elevada produtividade da BRS Capiaçu também a torna atraente para o mercado de etanol de segunda geração, que utiliza biomassa fibrosa como matéria-prima. Segundo Machado, a cultivar oferece vantagens por seu ciclo curto e alta produção de biomassa.
Na pecuária leiteira, a BRS Capiaçu se destacou inicialmente pela capacidade de produção de silagem de qualidade a custos reduzidos. De acordo com Antônio Vander Pereira, o custo da silagem de milho ou sorgo é até três vezes maior do que a do capim. A planta chega a ultrapassar quatro metros de altura e possui alto valor nutricional, especialmente quando utilizada como capim verde.
Além disso, a cultivar apresenta tolerância ao estresse hídrico e à geada, características que a tornaram popular em todas as regiões do Brasil. No entanto, possui baixa tolerância a áreas alagadas, exigindo planejamento para o cultivo.
O produtor Victor Ventura, de Santo Antônio do Aventureiro, em Minas Gerais, relata que utiliza a BRS Capiaçu como base alimentar para 300 vacas leiteiras, obtendo alta produtividade e redução de custos. Para ele, a cultivar representou um “divisor de águas” no sistema de produção.
Fruto de 15 anos de pesquisa e melhoramento genético da Embrapa, a BRS Capiaçu é hoje cultivada de Norte a Sul do Brasil, e seu uso como fonte de energia renovável reforça a importância de soluções agrícolas sustentáveis para a geração de renda e a preservação ambiental.