sábado, 9 de agosto de 2025

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Tragédia da Voepass completa um ano sem respostas

Era para ser apenas mais um voo regional. Um percurso curto, de pouco mais de uma hora e meia, ligando o interior do Paraná à Grande São Paulo. Mas o que começou como rotina na manhã de 9 de agosto de 2024 terminou em tragédia: o voo 2283 da Voepass Linhas Aéreas caiu em Vinhedo, matando todos os 62 ocupantes a bordo — 58 passageiros e quatro tripulantes.

Nesta semana, a queda completa um ano sem respostas definitivas, sem conclusões técnicas que expliquem por que uma aeronave considerada segura e tripulada por pilotos experientes despencou de quase quatro mil metros de altura a 440 km/h, deixando um rastro de dor e um luto que ainda sufoca as famílias das vítimas.

E algumas delas estão no Vale do Paraíba. Cinco vidas da região foram interrompidas naquele dia, entre elas a do médico José Roberto Leonel Ferreira, formado pela Faculdade de Medicina de Taubaté (FMT), que acabara de se aposentar e estava prestes a conhecer o neto, nascido dois meses antes.

Em Guaratinguetá, o tempo parece ter parado para os familiares de Maria Auxiliadora Vaz de Arruda, a Dora, e de José Cloves Arruda. Casados há décadas, voltavam de uma visita a parentes quando embarcaram no ATR 72-500. Dora era conhecida por sua atuação na Igreja Católica; Cloves, fotógrafo de casamentos. Um casal amado, cujas ausências ainda ecoam nos corredores da paróquia São Pedro Apóstolo.

A queda

O voo saiu de Cascavel (PR) às 11h58. Até às 13h20, tudo seguia normal. A aeronave já estava em fase de aproximação para o Aeroporto de Guarulhos quando começou a perder altitude de forma abrupta. Em segundos, iniciou uma queda descontrolada. Às 13h22, colidiu com a área externa de uma casa em um condomínio no bairro Capela, em Vinhedo. Milagrosamente, os moradores do imóvel escaparam ilesos.

As gravações da cabine revelaram os minutos finais da aeronave: alertas constantes de gelo, falhas intermitentes no sistema de degelo e uma curva brusca à direita que antecedeu o início do mergulho fatal. A última frase captada pelo gravador de voz foi dita por um dos tripulantes: “Bastante gelo”.

Luto interrompido

José Carlos Copetti, morador de Jacareí, era gerente de uma empresa de ovos e viajava a trabalho. Em Ubatuba, Ronaldo Cavaliere deixou o filho Enzo, então com 12 anos. Mudara-se para Maceió para acompanhar de perto o crescimento do menino. Na queda, pai e filho foram separados por um vazio que nenhuma investigação será capaz de preencher.

Um piloto e uma fé

Apesar de não ser natural do Vale, o piloto Danilo Santo Romano, de 35 anos, tinha uma forte ligação com a região. Dias antes do acidente, visitou o Santuário Nacional de Aparecida, onde depositou uma réplica do avião aos pés da santa. Devoto fervoroso, Danilo era entusiasta da aviação e demonstrava religiosidade nas redes sociais.

A ironia é cruel: o mesmo avião que ele ofereceu em fé à Padroeira do Brasil foi aquele em que perdeu a vida.

Sem respostas

Um ano após a tragédia, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) ainda não concluiu o relatório final. O documento preliminar apontou alertas sucessivos de gelo na aeronave, falhas no sistema de degelo e possíveis efeitos de um fenômeno raro, o “supercooled large droplet”, em que gotas de água congelam rapidamente nas superfícies do avião.

Apesar disso, a FAB afirmou que a aeronave estava em condições de voo, os pilotos tinham treinamentos atualizados e os alertas meteorológicos estavam disponíveis e visíveis.

“A aeronave entrou em uma atitude de voo anormal e girou cinco vezes em parafuso até colidir com o solo”, explicou o relatório parcial, baseado nos dados da caixa-preta.

Responsabilidades

A Voepass, anteriormente chamada de Passaredo, teve seu Certificado de Operador Aéreo cassado em junho deste ano. Segundo a Anac, a companhia não conseguiu comprovar condições mínimas de segurança após a tragédia.

Fundada em Ribeirão Preto, mas com raízes em São José dos Campos, a empresa já havia enfrentado uma recuperação judicial em 2012, e operava com 11 aeronaves antes do acidente.

O acidente em Vinhedo foi o mais grave da  aviação brasileira desde o desastre da TAM, em Congonhas, em 2007.

Veja, em ordem alfabética, a lista dos passageiros e tripulantes:

Adriana Santos
Adriano Daluca Bueno
Adrielle Costa
Alipio Santos Neto
Ana Caroline Redivo
Andre Michel
Antonio Deoclides Zini Junior
Arianne Risso
Constantino Thé Maia
Daniela Schulz Fodra
Danilo Santos Romano
Débora Soper Avila
Denilda Acordi
Deonir Secco
Diogo Boeira Avila
Edilson Hobold
Eliane Andrade Freire
Gracinda Marina Castelo da Silva
Hadassa Maria da Silva
Hiales Carpine Fodra
Humberto de Campos Alencar e Silva
Isabella Santana Pozzuoli
José Carlos Copetti
José Cloves Arruda
José Roberto Leonel Ferreira
Josgleidys Gonzalez
Joslan Perez
Kharine Gavlik Pessoa Zini
Laiana Vasatta
Leonardo Henrique da Silva
Liz Ibba dos Santos
Lucas Felipe Costa Camargo
Luciani Cavalcanti
Luciano Trindade Alves
Maria Auxiliadora Vaz de Arruda
Maria Parra
Maria Valdete Bartnik
Mariana Belim
Mauro Bedin
Mauro Sguarizi
Miguel Arcanjo Rodrigues Junior
Nélvio José Hubner
Paulo Alves
Pedro Gusso do Nascimento
Rafael Alves
Rafael Fernando dos Santos
Raphael Bohne
Raquel Ribeiro Moreira
Regiclaudio Freitas
Renato Bartnik
Renato Lima
Ronaldo Cavaliere
Rosana Santos Xavier
Rosangela Maria de Oliveira
Rosangela Souza
Rubia Silva de Lima
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