Viajar de avião no Brasil está virando um luxo. E o assunto voltou a ganhar força depois que Gol e Latam anunciaram a criação de novas tarifas com cobrança adicional até pela bagagem de mão (aquela que vai no compartimento acima dos assentos). A justificativa seria conter os preços das passagens. Mas será que isso realmente acontece? Na prática, os custos das companhias continuam subindo, e o passageiro segue pagando a conta.
O primeiro fator é o combustível. Os aviões usam um tipo especial de querosene, o querosene de aviação, que representa cerca de 30% do valor total da passagem. É um combustível mais caro e com cotação internacional em dólar. Isso significa que qualquer oscilação no câmbio impacta diretamente o preço final do bilhete.
Outro ponto é o leasing , que nada mais é do que o aluguel das aeronaves. Poucas companhias são donas dos próprios aviões. A maioria paga um valor mensal às empresas estrangeiras que fabricam e fornecem essas aeronaves, e, claro, também em dólar. Se o câmbio sobe, o custo sobe junto.
Mas não é só isso. As companhias aéreas brasileiras lidam todos os anos com milhares de ações judiciais por atrasos, cancelamentos e extravio de bagagens. Esses processos custam caro e acabam sendo embutidos nos preços das passagens.
Além disso, há o peso dos impostos e das taxas aeroportuárias, que tornam a operação no Brasil uma das mais caras do mundo. Cada voo exige o pagamento de uma série de tarifas, de embarque, de pouso, de permanência e até de uso da infraestrutura. Tudo isso acaba refletindo no valor que chega ao consumidor.
Nesse cenário, surgem as novas tarifas apresentadas como “alternativas econômicas”, mas que raramente geram o benefício prometido. Foi o que aconteceu quando começaram a cobrar pelo despacho de malas: a promessa era que as passagens ficariam mais baratas, mas o que se viu foi exatamente o contrário.
Hoje, o brasileiro paga mais caro para voar e recebe menos benefícios. O que antes era um meio de transporte acessível e rápido, vem se tornando um artigo de luxo para boa parte da população.
No fim das contas, o problema não está apenas no preço da passagem, mas em todo o modelo de aviação comercial do país, um sistema caro, burocrático e dependente do dólar. E enquanto ele continuar assim, a conta vai seguir chegando ao mesmo destino: o bolso do passageiro.







