A história da Ponte Vecchio, em Florença , na Itália, e o fim da Segunda Guerra Mundial, que completa 80 anos em setembro, têm algo em comum: a figura de Hitler. O ditador alemão teria poupado a ponte da destruição quando invadiu o país.
O motivo para esse fato soa, no mínimo, inusitado: Hitler a teria achado muito bonita. E se por acaso existisse algo correto que o nazista possa ter feito ao longo de sua vida, seria exatamente isso: enaltecer a beleza dessa passagem.
Destruída e reconstruída antes de ser poupada
Na era romana, a Vecchio era uma estrutura de madeira ligando as margens do rio Arno. Ao longo dos séculos, as frequentes enchentes danificaram a passagem por diversas vezes. Em 1333, uma grande inundação a destruiu.
A ponte de pedra atual começou a ser construída logo após a enchente e foi concluída por volta de 1350. Além de facilitar o trânsito de civis e mercadorias, passou a abrigar lojas.
Com a guerra, entre 1939 e 1945, assolando a Europa, e sendo a Itália um dos palcos do conflito, a preservação da passagem em um ponto estratégico virou um mistério. Para não dizer lenda.
Em entrevista ao iG Turismo, a professora Geovana Vieira, graduada em História, detalha o que se sabe sobre isso.
“Durante a Segunda Guerra Mundial, a Ponte Vecchio foi a única ponte de Florença poupada da destruição pelas tropas nazistas durante a retirada alemã, em 1944. Embora não existam documentos oficiais que comprovem a razão exata dessa decisão, há diversos relatos e hipóteses. Uma das versões mais conhecidas é a de que o próprio Hitler teria ordenado que a ponte fosse preservada, por considerá-la bonita demais”, explica.
“Outra hipótese sugere que, embora os nazistas de fato tenham colocado explosivos na ponte, um italiano sabotou a operação e impediu sua destruição. No entanto, nenhuma dessas versões foi confirmada por documentos históricos, o que mantém o episódio envolto em mistério. O que se sabe é que, embora a Ponte Vecchio tenha sido poupada, os prédios em suas duas extremidades foram destruídos pelos alemães, bloqueando o acesso à travessia”, acrescenta.
Saiba mais
Vieira, que também é estudante de Artes e Filosofia, destaca curiosidades sobre a Ponte Vecchio.
Do comércio ao círculo da elite, a estrutura medieval se mostra não só como um elemento turístico, mas também histórico.
“A Ponte Vecchio vai muito além de uma simples estrutura física, ela se tornou um verdadeiro símbolo histórico e cultural de Florença, assim como o Coliseu é para Roma, mas com sua própria identidade. Ela é parte da transformação urbana de Florença, e também uma marca de resistência: foi a única ponte da cidade não destruída pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, o que contribui ainda mais para o seu valor simbólico”, destaca.
“Quando o comércio foi permitido sobre a ponte, ainda na Idade Média, os primeiros comerciantes foram açougueiros, peixarias e curtidores, ofícios comuns na época, mas que geravam mau cheiro e os resíduos eram descartados diretamente no rio Arno, o que tornava a área extremamente desagradável. Com o tempo, esse cenário passou a ser considerado inadequado e, por isso, no final do século XVI, a mando da família Medici, foi proibida a presença de comércios ligados à carne e ao peixe na ponte”, recapitula.
Segundo a historiadora, para evitar o odor, outro tipo de comércio foi definido na região. A venda de itens de luxo, como joias, foi priorizada, o que representou uma nova mudança na Ponte Vecchio .
“Foram instaladas joalherias, ourivesarias e lojas de luxo, conferindo à
Ponte Vecchio um novo status, mais alinhado ao refinamento estético e político de Florença no período da Renascença. E essa transformação permanece até hoje: as lojas da ponte continuam sendo, em sua maioria,
joalherias, o que reforça o caráter simbólico e histórico do local”, conclui.
Além da Ponte Vecchio
Florença é um dos destinos internacionais mais buscados por turistas ao redor do mundo.
Ao iG Turismo, o guia turístico Gustavo Gaiarsa elenca outros espaços menos conhecidos e indicados para quem quer explorar a cidade de forma mais autêntica.
“Há muitos outros museus e igrejas na cidade que merecem mais atenção por parte dos turistas. Entre as igrejas, Santa Croce, San Lorenzo, Santo Spirito e Santa Maria Novella, com obras de arte de grandes mestres como Donatello e Michelangelo, não são tão procuradas pelos turistas brasileiros”, nota.
“Entre os museus, destaco o Bargello, um museu de esculturas em um palácio medieval que é impressionante, nele também há muitas obras de Donatello, algumas de Michelangelo e de outros mestres como Andrea del Verrocchio (o mestre de Leonardo da Vinci) e Giambologna”, completa.
Ele destaca que, além do Duomo, Galleria degli Uffizi e Galleria dell’Accademia, tem notado um interesse crescente no Palazzo Vecchio e no Palazzo Pitti, residência que a família Medici comprou da família Pitti em 1550. Neste local ficam os famosos Jardins de Boboli.
“As redes sociais despertaram muito interesse nas “Janelinhas do Vinho”, aberturas na fachada de diversos palácios históricos na cidade que eram usadas para vender garrafas de vinho em épocas de peste, e que atualmente foram incorporadas por alguns restaurantes, bares e gelaterias. Considero o interesse autêntico”, finaliza ele, que tem família 100% italiana.