Uma das operações policiais mais letais da história do Rio de Janeiro, realizada nos complexos da Penha e do Alemão e classificada por diversos setores da sociedade como uma verdadeira chacina, deixa neste momento uma grande pergunta: qual será o impacto disso no turismo da cidade?
Eu, como carioca e como turismólogo, vejo essa situação com enorme preocupação. O Rio já convive há muitos anos com uma reputação difícil, a de ser uma cidade perigosa. E, nas minhas andanças pelo Brasil, eu ouço sempre a mesma frase: “Tenho muita vontade de conhecer o Rio, mas tenho medo.”
O curioso é que, nesse caso, mesmo a área afetada pela operação não sendo uma área turística, o impacto acaba sendo inevitável. Afinal de contas o turista não separa a cidade em zonas. Para quem está de fora, o que chega é a manchete: “Chacina no Rio de Janeiro.” E é isso que forma a imagem que fica (a imagem de insegurança).
O turismo é um setor que depende diretamente da sensação de segurança. Quando o noticiário mostra cenas de violência ou de grandes operações policiais, o medo fala mais alto, e muita gente simplesmente cancela ou adia a viagem. Isso afeta toda a cadeia: hotéis, guias, motoristas, agências, restaurantes, passeios, tudo.
E é triste, porque o Rio tem todos os ingredientes para ser o grande cartão-postal do Brasil, uma cidade linda, com cultura vibrante, gastronomia riquíssima e um povo acolhedor. Mas agora, mais do que nunca, a gente vai ter que vencer um novo obstáculo: provar para o brasileiro e para o mundo que o Rio continua sendo uma cidade segura para visitar.
E essa talvez seja a parte mais difícil. Na minha opinião, o Rio vai enfrentar alguns grandes desafios daqui pra frente:
Primeiro, reconstruir sua imagem (dentro e fora do Brasil). O noticiários estão sendo intensos, e isso exige um trabalho de comunicação coordenado entre governo, trade turístico e imprensa, mostrando que o turista é bem-vindo e que o Rio continua funcionando normalmente.
Segundo, garantir segurança em áreas turísticas e fortalecer a presença policial preventiva, sem que isso soe como militarização. O visitante precisa se sentir protegido, não vigiado.
Terceiro, reaproximar o turismo doméstico. O brasileiro precisa voltar a acreditar no Rio. Isso significa investir em campanhas nacionais, parcerias com influenciadores, e mostrar que a cidade continua viva, acolhedora e cheia de experiências positivas.
Quarto, apoiar o turismo de base comunitária. As comunidades que vivem do turismo cultural (especialmente nas favelas) vão sentir esse impacto mais rápido. É importante que projetos locais não sejam deixados de lado.
E quinto, criar políticas públicas permanentes que conectem segurança, cultura e turismo. O que o Rio precisa é de planejamento, não de ações pontuais apenas quando algo explode na mídia.
O Rio de Janeiro é muito maior do que as suas crises. Mas enquanto a violência continuar dominando as manchetes, esse será o maior desafio do turismo carioca: reconquistar a confiança de quem sonha em conhecer a nossa cidade maravilhosa. E talvez exista algo de profundamente simbólico nisso tudo: A cidade que abriga o Cristo Redentor (com os braços abertos sobre a Guanabara) hoje parece precisar ser redimida.
O Cristo continua ali, imponente, olhando de cima, testemunhando as dores e as belezas de um povo que tenta, todos os dias, acreditar de novo. Que esse mesmo Cristo, que é símbolo de fé e acolhimento, inspire também as autoridades e todos nós, para que o Rio volte a ser lembrado não pelas suas tragédias, mas pelo que sempre foi: um lugar de alegria, esperança e de braços abertos para o mundo.








