O Metropolitan Museum of Art de Nova York, nos Estados Unidos, anunciou que vai expor uma pintura atribuída a Jacques Guillame Lucien Amans, que retratou no século 19 um garoto de 15 anos escravizado, conhecido apenas como Bélizaire, e que posteriormente foi apagado do quadro. A obra de arte “Bélizaire e as Crianças Frey”, de 1837, passou por uma restauração, a imagem do menino voltou à tela e estará em exibição na Galeria 756 da American Wing entre setembro e outubro.
O pintor neoclássico francês Amans trabalhou em Nova Orleans do final da década de 1830 até a década de 1850 e foi contratado pelo comerciante e banqueiro alemão Frederick Frey para que pintasse a imagem de seus três filhos, Elizabeth, Léontine e Frederick Jr. O que chamou a atenção foi a presença de Bélizaire logo atrás, algo muito raro para a época, o que mostra a importância do garoto na família Frey.
“A aquisição desta pintura rara é transformadora para a American Wing, representando nosso primeiro retrato naturalista de um sujeito negro situado em uma paisagem do sul – uma obra que nos permite colmatar muitas ausências e assimetrias de acervo”, explicou Sylvia Yount, curadora responsável da American Wing no Met.
Em algum momento na virada do século 19 para 20, a imagem de Bélizaire foi apagada do quadro e a obra continuou dentro da família Frey, agora sem a imagem do garoto. Em 1972, uma descendente da família chamada Coralie D’Aunoy Frey doou a pintura para o Museu
de Arte de Nova Orleans e alertou que a imagem do menino havia sido apagada.
A pintura permaneceu por muitos anos guardada até que, em 2005, foi vendida em um leilão a um colecionador de antiguidades por US$ 7,2 mil, o equivalente a R$ 35 mil, depois repassado para outro colecionador de arte chamado Jeremy K. Simien. Este último foi o responsável pela restauração e que trouxe Bélizaire de volta ao quadro.
“’Bélizaire e as Crianças Frey’ é uma adição altamente significativa à coleção do Met e mais um passo no nosso caminho para ampliar e diversificar as narrativas em nossas galerias. A pintura rara e profundamente atraente carrega um imenso significado histórico e artístico e representa um marco importante no nosso compromisso contínuo de compartilhar histórias profundas de identidades e lugares, bem como de memória e apagamento”, disse Max Hollein, diretor e CEO francês do Met.
Esta obra de arte oferece uma reflexão sobre o clima racial de Nova Orleans no período anterior à guerra. O solene e bem vestido Bélizaire é retratado com sensibilidade, de maneira altamente observada e digna, colocado acima e à parte das crianças Frey.
As filhas do comerciante, Elizabeth e Léontine, retratadas na pintura, morreram vítimas de febre amarela no mesmo ano em que a imagem foi feita. Já o menino mais novo, Frederick, também morreu alguns anos depois.
O site New York Post diz que, depois da descoberta deste quadro, pesquisadores tentaram encontrar algum documento que narrasse a história de Bélizaire, mas as únicas informações apontam que ele sobreviveu até a era da Guerra Civil e, em 1861, foi listado nos inventários de Nova Orleans – pouco antes de as forças da União capturarem a cidade, um ano depois.
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