quinta-feira, 25 de setembro de 2025

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Machu Picchu pode perder título de maravilha do mundo!

Machu Picchu pode perder título de Maravilha do MundoVitor Vianna

Machu Picchu, ícone máximo do turismo no Peru e uma das mais impressionantes obras deixadas pelos incas, vive um momento delicado. Desde 2007, quando foi eleita uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo, a cidadela atrai milhões de viajantes e se consolidou como símbolo da América do Sul. Mas a própria popularidade que a tornou mundialmente famosa pode, agora, colocar em xeque esse reconhecimento.

Nos últimos dias, a organização New7Wonders lançou um alerta: se não houver mudanças rápidas na forma como o local é administrado, Machu Picchu corre o risco de perder o título. Não se trata de uma ameaça vazia, para manter o status de Maravilha do Mundo, o destino precisa cumprir critérios de preservação, gestão sustentável e respeito às comunidades locais.

Onde estão os problemas: A lista de dificuldades é extensa. Entre as principais, está a superlotação de turistas. Estima-se que, em 2025, o sítio arqueológico receba cerca de 1,5 milhão de visitantes, número que pressiona não apenas a estrutura do local, mas também o meio ambiente e a qualidade da experiência para quem chega. Em dias de pico, são milhares de pessoas circulando pelas ruínas ao mesmo tempo.

Porém, desde junho de 2024, Machu Picchu passou a adotar oficialmente um sistema de limitação do número de visitantes por dia… um tanto controverso, pois se existe uma regra de controle e mesmo assim o local continua enfrentando superlotação, significa que a medida não tem sido aplicada de forma eficiente ou que os mecanismos de fiscalização falham. Essa contradição gera ainda mais dúvidas sobre a real gestão do sítio: afinal, se o objetivo era conter a pressão do turismo, como explicar o crescimento contínuo do fluxo de visitantes?

Outro ponto sensível, é o transporte até a cidade base para Machu Picchu. O trajeto de trem até Aguas Calientes, seguido de ônibus até a entrada, tem sido alvo de críticas e protestos. Comunidades locais questionam concessões feitas sem diálogo, enquanto bloqueios em trilhos e estradas já chegaram a deixar turistas presos na região. Soma-se a isso um sistema de ingressos instável, com relatos de falhas na venda online e até de comércio paralelo de bilhetes.

Minha percepção como viajante: Falo não apenas como profissional da área do turismo, mas como alguém que acompanha Machu Picchu de perto. Desde 2013, visito o local pelo menos uma vez por ano e pude testemunhar mudanças significativas ao longo da última década. Muitas delas até tinham boas intenções, mas, na prática, acabaram prejudicando a experiência do visitante. Um exemplo claro é o sistema atual de ingressos. Antes, era possível explorar as ruínas de forma mais livre. Hoje, a venda é feita em setores delimitados, obrigando o turista a escolher áreas específicas e limitando a circulação. Essa fragmentação retira um pouco da magia de estar em um espaço único e integrado, tornando a visita menos fluida e, em muitos casos, frustrante.

Conflitos sociais e impacto econômico: Os protestos não nascem apenas de problemas logísticos. Parte da população de Cusco e arredores sente-se excluída das decisões que envolvem Machu Picchu. Muitos reclamam que a riqueza gerada pelo turismo não se distribui de forma justa e que os contratos de concessão favorecem empresas externas, sem garantir benefícios diretos às comunidades.

Esses conflitos internos têm repercussão internacional. Para quem planeja visitar a cidadela, notícias sobre greves, bloqueios ou falta de transporte criam insegurança. Para um destino que vive essencialmente do turismo, a credibilidade é tão importante quanto a preservação física do sítio.

O que está em jogo: Caso o alerta se confirme e Machu Picchu deixe de ser considerada uma das Novas Sete Maravilhas, o prejuízo vai além do orgulho nacional. O efeito imediato seria na reputação internacional do destino, podendo reduzir o fluxo de visitantes e, consequentemente, comprometer a economia de toda a região, altamente dependente do turismo.

Mas há também um risco menos visível: o da degradação irreversível de um patrimônio histórico. O excesso de turistas, aliado a falhas na gestão, pode acelerar o desgaste das estruturas incas, comprometendo a integridade de um dos sítios arqueológicos mais valiosos do planeta.

O desafio para o futuro: Para evitar esse cenário, é preciso um plano estratégico de longo prazo, que envolva:

– Limite claro de visitantes por dia; – Transporte eficiente e transparente; – Venda de ingressos digital e controlada; – Participação efetiva das comunidades locais; – Adoção de políticas de turismo sustentável.

Não se trata apenas de manter um título, mas de garantir que Machu Picchu continue sendo um patrimônio vivo, respeitado e acessível para as próximas gerações. O mundo já viu outros destinos sofrerem com o turismo massivo, como Veneza e Dubrovnik. A diferença é que, no caso da cidadela inca, está em jogo um legado que não pode ser reconstruído.

Machu Picchu sempre simbolizou a harmonia entre história, natureza e cultura andina. Se esse equilíbrio se perder, o risco não é só deixar de figurar entre as Maravilhas do Mundo, mas de comprometer para sempre a autenticidade de um lugar único.

turismo.ig.com.br

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