Na pacata Lanjarón, município de pouco mais de 4 mil habitantes no sul da Espanha, um decreto inusitado entrou para a história em 1999: estava oficialmente proibido morrer aos sábados e domingos.
A determinação, publicada pelo então prefeito José Rubio, não tinha validade jurídica, mas surgiu como resposta a um impasse sério. O cemitério local havia atingido a capacidade máxima, e a administração não encontrava espaço para abrir novas covas. Como alternativa, enquanto aguardava a compra de um novo terreno, Rubio optou por uma medida simbólica, carregada de ironia.
No texto, a população era aconselhada a cuidar da saúde “com extremo zelo” para evitar falecer até que a questão fosse resolvida. A iniciativa rapidamente chamou a atenção da imprensa internacional e foi recebida com humor pelos moradores. Ninguém, evidentemente, foi punido por descumprir a norma.
A ideia, no entanto, cumpriu o objetivo principal: pressionar por uma solução e colocar a pequena cidade da Andaluzia no mapa de curiosidades globais. Até hoje, a história é lembrada como um dos episódios mais singulares da região, famosa também por suas fontes de água mineral e pela proximidade com a Sierra Nevada.
Proibições semelhantes em outros lugares
Lanjarón não foi a única cidade a lançar mão de um decreto “contra a morte”. Em 2005, Biritiba-Mirim, no interior de São Paulo, ganhou notoriedade ao aprovar projeto semelhante. À época, o prefeito Roberto Pereira da Silva enviou à Câmara uma proposta que proibia oficialmente os moradores de morrer.
A justificativa era parecida: o cemitério municipal estava superlotado e, por estar em área de preservação ambiental, não poderia ser ampliado. O projeto previa até punições para “infratores”, embora, na prática, não tivesse aplicabilidade. O episódio gerou repercussão nacional e acabou acelerando a revisão de normas ambientais. Em 2010, o município inaugurou um novo campo-santo com capacidade para 12 mil sepulturas.
Na França, a vila de Sarpourenx também se tornou notícia em 2008 após decreto semelhante, assinado pelo prefeito Gérard Lalanne, que ironicamente previa punições severas para quem morresse sem vaga garantida no cemitério local.
Essas iniciativas, apesar do tom satírico, evidenciam um problema concreto enfrentado por muitas cidades: a falta de espaço para sepultamentos e a necessidade de políticas públicas para lidar com a questão de forma sustentável.