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'Já trabalhei no ônibus': nômades digitais buscam estadias coworking

A digitalização que ocorreu após o período pandêmico impulsionou o home office e também o nomadismo digital
, termo que define o estilo de vida escolhido por profissionais que viajam pelo mundo enquanto trabalham.

Segundo o Relatório Global de Tendências Migratórias 2022, da Fragomen, empresa especializada em migração, hoje existem mais de 35 milhões de adeptos a esta forma de viver pelo mundo. A expectativa é de que até 2035, este número aumente para 1 bilhão de pessoas.

Um dos pontos principais para estes viajantes é escolher locais adequados para alinhar espaço de trabalho e estadia no destino escolhido. Contudo, a tarefa nem sempre é a mais fácil de executar.

“Sempre tive esse sonho de trabalhar online para ter liberdade geográfica e já faz mais de 10 anos que trabalho com o marketing digital, mas me tornei nômade em 2022, quando de fato decidi fazer uma viagem de um ano pela  América Latina
e vi que era muito mais fácil do que eu imaginava”, conta Monique Bordin, especialista em comunicação criativa.

Pela região, Monique já foi à Argentina
, Uruguai
, Bolívia
,
Peru

, México,
Colômbia

 e
Panamá

. “Foram 7 países e 23 cidades”, comenta.

Local de trabalho

Encontrar locais adequados para trabalhar é uma parte crucial da vida de um nômade digital, e Monique afirma que tem suas estratégias. A especialista em comunicação geralmente escolhe hostels que já oferecem uma infraestrutura de coworking, evitando a necessidade de se deslocar constantemente em busca de um local para trabalhar.

“Eu nunca trabalho na cama ou com o notebook no colo”, enfatiza a profissional.

“Eu preciso de pelo menos uma cadeira com uma mesa adequada. Não consigo funcionar se estiver desconfortável”, diz.

Quando os hostels não oferecem essa estrutura, a comunicadora procura cafés locais que tenham mesas e tomadas individuais.

Ao contrário de Monique, o jovem Matheus Veadrigo, que também é adepto ao nomadismo digital e, que trabalha como auxiliar administrativo e recursos humanos, já precisou trabalhar em lugares sem estrutura de escritório mínima, como no quarto e no ônibus.

Contudo, ele explica que as situações foram exceções, e que normalmente encontra boas estruturas com facilidade.

“Devido à disponibilidade de mobilidade, em qualquer lugar é possível trabalhar, basta ter uma boa internet”, completa o rapaz, que virou nômade digital há quatro meses. Na sua trajetória, ele já visitou 
Ilhabela

,
Ubatuba

,
Paraty

, Sete Lagos, Maresias e
Poço de Caldas

. A única estratégia dele é sempre buscar lugares que tenham uma boa internet, questão que também é crucial para Monique.

Depois de algumas experiências frustrantes, ela aprendeu a importância de pesquisar as condições da internet em cada destino. Em algumas regiões montanhosas do Peru e do norte da Argentina, por exemplo, a conexão de internet pode ser irregular.

“Por serem regiões montanhosas, o sinal da internet não funciona muito bem, e fiquei várias vezes sem conseguir trabalhar por isso”, conta.

Espaços se adaptam aos nômades digitais

O Hostel da Vila, em  Ilhabela
, teve uma demanda tão alta para este tipo de hóspede que foi obrigado a criar um coworking apenas para atender este público. Em meio a natureza, o espaço conta com uma internet de alta qualidade e também mesas e cadeiras para um maior conforto dos viajantes trabalhadores.

“Começamos a receber um outro perfil de hóspede. Não eram turistas, que queriam apenas ter momentos de lazer, mas sim pessoas que desejavam trabalhar com alta performance sem abrir mão de estar em um lugar tranquilo e próximo a natureza”, comenta Felipe Gamba, cofundador do Hostel da Vila.

De acordo com o empresário, nos últimos anos este público tem crescido cada vez mais no estabelecimento e, diferente do turista comum, tem tido preferência em estadias principalmente nos dias de semana.

Felipe informa ainda que a maior parte dos nômades digitais são brasileiros, mas que o hostel também percepeu um procura expressiva de turistas internacionais. A propriedade já recebeu hóspedes de mais de 60 nacionalidades e, entre elas, as que mais se destacam são as argentinas, com 16,32% do total de hóspedes estrangeiros, seguidas pelas alemães (14,10%), israelenses (9,50%), francesas (10,04%) e britânicas (7,28%).

O cofundador conta que adaptou a parte de cima do hostel para deixá-la com uma estrutura mais adequada para o coworking: “Me inspirei tanto em outros estabelecimentos no exterior quanto também nos coworkings nacionais”. Contudo, o hoteleiro ressalta que o grande diferencial de sua propriedade é a vista para o mar.

“Colocamos diversas mesas e cadeiras com pontos específicos para eles [os nômades digitais] conectarem os seus smartphones e notebooks. Além de uma internet de alta velocidade.”

Os hotéis brasileiros também têm adotado a nova forma de oferecer serviços e atrair interessados. Um dos expoentes do movimento é a Accor. Em 2020, a rede inaugurou a operação da marca Wojo, existente desde 2019 e que traz modelos de coworking diretamente para o mundo hoteleiro.

Percepção dos nômades digitais

Matheus, que nunca viajou para fora do Brasil, afirma que quando viaja, escolhe o tempo que vai ficar na hospedagem de acordo com o que encontra no local. “Caso o lugar seja bom fico mais de um mês”. Além disso, ele também percebeu que houve mudança nos locais para facilitar a vida dos nômades digitais.

Monique, por outro lado, afirma não encontrar com facilidade espaços próprios para coworking fora do Brasil. “Pela América Latina, principalmente pelas cidades que passei, por serem menores, acaba nem existindo um espaço de coworking, então tem que improvisar em um café. Já cheguei a trabalhar na loja de conveniência de um posto de gasolina, por exemplo.”

Para ela, as hospedagens da América Latina estão se adaptando aos poucos a essa nova realidade. “O que vejo ser diferente na Europa, onde o trabalho remoto já é uma realidade mesmo antes da pandemia”, finaliza.


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