Recentemente, a atriz Luana Piovani levantou uma discussão importante sobre Fernando de Noronha e a forma como o turismo é praticado na ilha. Em suas palavras, apenas os grandes investidores e donos de pousadas (em sua maioria não moradores locais) são os que realmente lucram. Já os habitantes de Noronha acabam pagando o preço alto desse modelo de turismo, sem ter acesso sequer ao básico, como saneamento adequado ou serviços de saúde suficientes.
Um exemplo simbólico citado é o preço médio de uma garrafinha de água: R$ 13,00. Enquanto os visitantes pagam essa conta por alguns dias, (enquanto estão passando suas férias), os moradores precisam lidar com esse custo todos os meses. Isso significa viver em uma ilha onde a economia gira em torno do turismo, mas sem participar dos benefícios que ele deveria trazer.
A desigualdade fica ainda mais evidente quando olhamos para a infraestrutura. No início de 2025, o Portal de notícias G1 noticiou que moradores do Bairro da Coreia, em Noronha, enfrentaram ruas tomadas por lama e até casas alagadas após um desvio do curso da água da chuva feito pelo próprio governo local. Ou seja: enquanto as áreas turísticas recebem toda a atenção, os bairros onde vive a população seguem sem estrutura mínima.
Na área da saúde, a situação também preocupa. Com pouco mais de 3 mil habitantes, Noronha conta com apenas uma psiquiatra para atender toda a comunidade, incluindo dezenas de mães com filhos autistas. Hospitais, pronto-socorros e postos de atendimento são escassos, e muitas vezes não dão conta das necessidades de quem mora no arquipélago.
Esse modelo não pode ser confundido com turismo de base comunitária. O conceito de turismo de base comunitária envolve a participação direta dos moradores na cadeia produtiva: eles não trabalham apenas, mas também recebem parte dos lucros, através de uma infra estrutura no local, têm seus negócios fortalecidos e veem a qualidade de vida melhorar a partir da presença dos turistas, o que, diga-se de passagem, não acontece em Fernando de Noronha.
O desafio está justamente em repensar esse modelo de negócio para que a ilha não seja apenas um cenário de belas fotos e um destino bom somente para quem visita, mas também se torne um lugar justo e agradável para a comunidade local, onde os moradores cresçam junto com o turismo e possam viver bem, com qualidade de vida.