Quando cheguei em
Trancoso
, distrito do município de
Porto Seguro
, no litoral da
Bahia
, não sei explicar, mas fui tomado pela energia mágica do lugar. Meu primeiro contato com o destino turístico foi com o famoso Quadrado de Trancoso, uma área natural cercada por pequenas casinhas coloridas onde funcionam restaurantes e lojas variadas.
O Quadrado está situado em um plateau em cima de uma falésia, que tem uma vista surpreendente para o Oceano Atlântico, – especialmente para a Praia dos Nativos -, conhecida como Mirante do Quadrado.
A fundação de Trancoso data de 1586, que levou o nome de Aldeia São João em seu batizado, quando padres jesuítas descobriram a região e resolveram utilizá-la como aldeamento indígena para a catequização da população que lá já habitava.
O território ganhou, então, o nome de São João dos Índios. Foi inclusive na região, em um morro chamado de Monte Pascoal que a esquadra de Pedro Álvares Cabral desembarcou em 22 de abril de 1500, tomando posse do (futuro) Brasil em nome de
Portugal
.
Trancoso balado e área VIP de Porto Seguro na atualidade ganhou esta forma em meados da década de 1970 com o movimento hippie, cujos integrantes deram início a repaginada turística e de luxo da região.
O município baiano, que tive oportunidade de explorar para além de Trancoso, é lindo As pessoas são receptivas, e os preços de praticamente tudo, desde alimentação a itens de decoração típicos, são muito baratos – especialmente para alguém que saiu de uma capital cara como o
Rio de Janeiro
, o que é o meu caso.
Contudo, Trancoso é outra realidade. O local respira padrão alto e disfarça com seu ar interiorano e pitoresco sua verdadeira finalidade: a de ser um lugar no litoral baiano para os mais endinheirados que buscam refúgio do estresse cotidiano nas grandes metrópoles.
Inclusive, foi em Trancoso que a cantora Beyoncé se hospedou quando esteve no Brasil, pela última vez, em 2013. Na ocasião, além do Rock in Rio na Cidade Maravilhosa, a cantora performou em
Fortaleza
,
Belo Horizonte
,
São Paulo
e
Brasília
– mas escolheu o distrito baiano para chamar de lar durante a passagem pelo solo brasileiro.
Depois de cada apresentação, a artista norte-americana retornava a Trancoso, para recarregar as energias na casa da condessa Georgina e do conde Ruy Brandolini.
A propriedade possui 6 mil m² de terreno, além de um charmoso château de 800 m² assinado pelo arquiteto Fabrizio Ceccarelli e pelo decorador Sig Bergamin.
Uma reportagem do UOL de 07/09/2013
informara que a cantora pagou cerca de R$ 1 milhão por dez dias de hospedagem.
Durante sua passagem pelo distrito, a grande diva do pop tornou uma sorveteria local famosa ao visitar o estabelecimento e provar um dos gelatos da Gelateria do Beco.
Eu estive no local e a sensação é a de que estava na frente da própria cantora.
Isto porque há uma foto da rainha pendurada em uma das paredes do estabelecimento em que ela aparece tomando a iguaria brasileira no sabor de cacau.
Reza a lenda que ela estava no Quadrado de Trancoso quando alunos que saíram da aula e passavam pelo local reconheceram a cantora, que aproveitou a euforia juvenil e visitou as casas que formam o Quadrado, tomou o sorvete, jogou futebol, entre outras atividades.
Tudo foi registrado e incluído no videoclipe de “Blue”, música dedicada à primogênita da artista com o rapper Jay-Z. No vídeo ainda é possível ver outras imagens da cantora por Trancoso, para além da região do Quadrado.
Igreja de São João Batista
A Igreja de São João Batista, ou Igrejinha do Quadrado, como é conhecida, fica ao final da quadra de grama do Quadrado de Trancoso, em frente ao Mirante que dá à vista da Praia dos Nativos. E essa igreja tem história!
Mais de um século e meio após a fundação da Aldeia de São João a imagem de Santo André – que está presente na igreja até hoje, situada no altar lateral da direita – é trazida para Trancoso (no ano de 1738).
Em 1759 a Aldeia foi elevada à condição de Vila de São João e no ano seguinte, em 1760, os padres jesuítas deixaram a vila devido às pressões do Marquês de Pombal, importante secretário de Estado do Reino de D. José I. Ainda em Portugal o Marquês, que era contrário a catequização indígena pelos padres, já havia expulsado os jesuítas, tal como fez no Brasil.
Entre 1815 e 1817 o convento e a biblioteca dos padres jesuítas foram demolidos e deram lugar à atual igreja que foi erguida com pedras de arrecifes com um tipo de reboco comum na região conhecido como “reboco Santa Fé”, feito de areia e óleo de baleia.
Os altares, as imagens de São João Batista, São Benedito, São Sebastião e Santo André presentes hoje na igreja são os originais de sua inauguração. Desde outubro de 2008, a Paróquia São João Batista é administrada pela Congregação dos Freis Missionários Servos do Senhor, e composta por 10 comunidades que estão nas periferias e zona rural do distrito de Trancoso.
Praia dos Nativos
A Praia dos Nativos é aquela avistada atrás da Igreja de São Batista, no plateau em cima de uma falésia. A vista é excepcional e mesmo que o visitante seja de um local litoral, como no meu caso, é impossível não ficar admirado e contemplar a perfeição da natureza que se impõe no ambiente.
Se você tiver sorte, como eu tive, é possível conhecer amigáveis micos-leões-dourados nas árvores do local. Eles aceitam bananas em troca de carinhos e atenção. É nesse momento que a gente aproveita e registra o encontro da fauna local com nós, humanos.
Na região da vista à praia ainda é possível provar quitutes locais, – com os poucos vendedores de rua que estão presentes -, como sucos que misturam as iguarias caju e cupuaçu, ou provar o imperdível acarajé baiano (foi a primeira vez que eu comi e, sim, é delicioso), ou comprar as famosos fitas coloridas que são vendidas na
Bahia
, que por lá vêm com os nomes do municípios ou dos distritos gravados.
Sobre o acarajé, vale contar um ponto curioso da minha expericiência. Eu sou uma
pessoa vegetariana
e queria muito provar o acarajé nesta que foi a minha primeira visita à Bahia, uma vez que ir ao estado nordestino e não comer o prato típico e ancestral significa que a viagem não valeu.
Minha saída foi pedir o prato sem o camarão, o que para os carnívoros pode ser um pecado. Provei a iguaria sem o animal e a fama do quitute fez jus ao seu gosto. Eu amei. Contudo, depois fiquei sabendo de uma notícia desagradável, do meu ponto de vista de uma pessoa defensora dos animais.
Os ingredientes do acarajé são um bolinho feito de massa de feijão fradinho, frito no azeite de dendê, e o recheio mais tradicional – o qual provei – leva vatapá, vinagrete e o camarão (que dispensei).
O que eu não sabia, e que descobri depois de contar a experiência no agora “X”, o antigo “Twitter”, é que o vatapá também leva camarão em sua receita. Que lástima! Ao menos saí com um boa história para contar.
Descendo à praia, o que fiz com o transporte da Forma Turismo, empresa de turismo estudantil que convidou o iG Turismo
para conhecer Porto Seguro e reservou um dia específico para visitarmos Trancoso (
conto a experiência em Porto e com este nicho de turismo nesta reportagem
), a sensação paradisíaca se eleva à sua máxima potência.
Talvez fosse porque era uma sexta-feira, no início da tarde, ou porque a viagem se deu durante o inverno brasileiro, ou seja, a baixa temporada no litoral, mas um fato é que a praia estava praticamente vazia o que acentuou a experiência paradisíaca que o destino proporciona.
Era lindo olhar ambos os meus lados e não enxergar uma montanha de banhistas, quase empilhados uns aos outros tentando garantir o melhor lugar ao sol, o que é praticamente comum nas praias do Rio.
A imagem da fusão do céu, com a areia, com as árvores e com o mar posso definir como a materialização da perfeição.
Para fechar este combo, o mar tinha água morna e com ondas baixas. Era super calmo e agradável, dei um mergulho e fiquei contemplando aquela beleza da natureza, lugar reservado para os mais abastados – que sempre têm à sua disposição o melhor que o mundo pode oferecer. Me senti sortudo por uma tarde.
Vale ressaltar que os preços em Trancoso não são nada amigáveis (voltando para a realidade). No restaurante que almoçamos para mim só havia opção de salada, peguei a que tinha mais legumes e verduras, e um prato saiu no valor de R$ 60,00.
O atendimento é um primor, assim como em Porto Seguro (que têm preços muito mais convidativos), é importante frisar! Na praia a todo momento aparece um ambulante, que te leva na lábia, na simpatia, e que faz a renda na base do sorriso. Gastei mais do que devia com lembrancinhas, mas não me arrependo.
A única coisa que posso dizer é: existe uma magia inexplicável naquele lugar, e se tiver a oportunidade, vá à Trancoso!
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