segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Rádio SOUCG

  • ThePlus Audio

Cristais gigantes de Naica desafiam cientistas no México

Cristais de gipsita com até 12 metros de comprimento continuam a intrigar pesquisadores quase 25 anos após serem descobertos por mineradores em Naica, no México. A chamada Caverna dos Cristais, localizada a 290 metros de profundidade, oferece as condições ideais para o crescimento dessas formações raras, que levaram cerca de 1 milhão de anos para atingir o tamanho atual.

A descoberta foi revelada em 2000 por trabalhadores da empresa Industrias Peñoles. Desde então, cientistas de vários países visitaram o local em expedições limitadas por conta das condições extremas de temperatura e umidade. O programa Chemical & Engineering News detalhou os bastidores dessa exploração científica, que ainda busca formas de preservar os cristais gigantes.

Formação milenar em caverna subterrânea

O surgimento da caverna remonta a cerca de 26 milhões de anos, quando uma câmara de magma aqueceu águas subterrâneas ricas em minerais. O resfriamento gradual da água permitiu que cristais de gipsita, mineral composto por sulfato de cálcio e água, crescessem de forma lenta e contínua. Essa formação depende de temperaturas entre 54 °C e 58 °C, faixa estável para o crescimento do mineral.

Juan Manuel García-Ruiz, cristalógrafo da Universidade de Granada, foi um dos primeiros a estudar o local. Ele descreveu a experiência como um momento inesquecível: “ Quando entrei pela primeira vez, depois de alguns minutos de estupor, comecei a rir. Estava eufórico ”.

Pesquisadores confirmaram que as condições da caverna permitiram que os cristais crescessem em ritmo infinitesimal: cerca de 10⁻⁵ nanômetros por segundo. Isso equivale a aumentar a espessura de uma folha de papel a cada 200 anos. Estima-se que os cristais maiores levaram quase um milhão de anos para atingir 1 metro de largura.

Outras galerias próximas, como a Caverna das Espadas, possuem cristais menores. Isso se deve ao resfriamento mais rápido da água nessas áreas, o que favoreceu a nucleação em vez do crescimento prolongado. “ É um exemplo clássico de nucleação e crescimento cristalino ”, explica o pesquisador Alexander Van Driessche.

Enquanto as condições em Naica eram ideais para poucos cristais crescerem muito, em outras cavernas formaram-se muitos cristais pequenos. Estudos realizados em laboratório com amostras da caverna ajudaram os cientistas a entender esse processo. As descobertas podem até contribuir para pesquisas sobre formações minerais em Marte ou no controle de incrustações em dessalinizadoras.

García-Ruiz e Van Driessche também investigam diferenças entre cristais formados em Naica e em uma geoda descoberta em Pulpí, na Espanha. Lá, os cristais são mais transparentes, o que pode indicar variações nas condições de formação.

Riscos à conservação após drenagem da caverna

A exploração mineral exigiu o bombeamento constante da água do subsolo, o que expôs as galerias a riscos. A retirada da água comprometeu a integridade dos cristais, já que o gesso é um mineral frágil e se degrada fora do ambiente submerso. “ O tráfego de pessoas já desgastou a superfície de alguns cristais ”, relatou Van Driessche.

A pesquisadora María Elena Montero-Cabrera, do Centro de Pesquisa em Materiais Avançados de Chihuahua, conduziu experimentos para avaliar os efeitos do ambiente seco sobre os cristais. Foi identificada a formação de bassanita, uma versão desidratada do gesso, nas superfícies expostas. Isso confirma que a preservação fora da caverna não é viável.

Além da fragilidade dos cristais, a caverna impõe riscos aos visitantes: temperaturas próximas a 50 °C e umidade acima de 90% limitam o tempo de permanência para no máximo 15 minutos. O acesso é controlado e exige exames médicos prévios.

Desde 2015, o acesso à Caverna dos Cristais está suspenso após um vazamento de água dificultar o bombeamento. A atividade mineradora na região foi redirecionada e o nível da água voltou a subir, embora ainda não tenha alcançado a caverna.

Apesar da interrupção, cientistas continuam explorando outros depósitos de gipsita no mundo. García-Ruiz espera refinar a estimativa da idade dos cristais, enquanto Van Driessche segue investigando a formação dos nanoclusters que iniciam o crescimento do mineral.

María Elena Montero-Cabrera, embora hoje envolvida em outros projetos, ainda sonha com um retorno ao local. “ Só quero vê-los mais uma vez ”, declarou.

turismo.ig.com.br

Enquete

O que falta para o centro de Campo Grande ter mais movimento?

Últimas