No coração do sul de Minas Gerais e nordeste de São Paulo, uma região marcada por um passado geológico explosivo se transformou em um dos destinos mais fascinantes do Brasil. A Rota Vulcânica, que abrange cidades como Poços de Caldas, Andradas e Caldas, oferece uma experiência turística singular, onde a força de um vulcão extinto há 80 milhões de anos moldou paisagens deslumbrantes, solos férteis e uma cultura rica em sabores e tradições.
A paisagem, inclusive, foi um dos chamariscos para uma praticante de rapel, identificada como Daiane Marques, de 36 anos, faleceu após cair aproximadamente 100 metros durante uma descida na Pedra do Elefante, em Andradas (MG), no último sábado (5). Funcionária pública e natural do estado de São Paulo, ela fazia parte de um grupo com outros dois participantes, também paulistas, no momento do acidente.
O incidente ocorreu no período da tarde, enquanto o grupo realizava a atividade de aventura na região, conhecida por suas formações rochosas. As causas da queda ainda estão sob investigação.
Uma viagem pela história geológica
A região, formada pela antiga caldeira vulcânica, chama a atenção não apenas por suas formações rochosas impressionantes, mas também pela influência do solo mineral em produtos como cafés especiais, vinhos, azeites e cervejas artesanais.
Em Poços de Caldas, os visitantes podem explorar o Parque do Cristo, com vista panorâmica da cratera vulcânica, ou relaxar nas Thermas Antônio Carlos, onde águas sulfurosas brotam a 45,5°C com propriedades terapêuticas. Já o Museu Histórico e Geográfico guarda relíquias que contam a história geológica da região, incluindo rochas e minérios formados pela atividade vulcânica.
Aventura e natureza
Para os amantes de ecoturismo, a Pedra da Cruz, em Andradas, é um dos destaques, oferecendo trilhas, escalada e rapel com vistas espetaculares das lavouras de café.
Outro ponto imperdível é a Fonte dos Amores, em Poços de Caldas, uma cascata natural cercada por bosques, de onde parte uma trilha que leva até o alto da serra. Já em Caldas, o Balneário de Pocinhos oferece águas medicinais em um ambiente tranquilo, perfeito para relaxamento.
Turismo sustentável e futuro da rota
Criada para valorizar o patrimônio natural e impulsionar o geoturismo, a Rota Vulcânica tem investido em capacitação de guias, sinalização de trilhas e parcerias com produtores locais. Projetos em conjunto com universidades e órgãos de turismo buscam expandir o roteiro, incluindo novos atrativos como o Observatório de Andradas, que atrai astrônomos amadores.
Quando visitar?
A melhor época para explorar a região é entre abril e setembro, quando o clima seco facilita as trilhas e atividades ao ar livre. Agências locais oferecem pacotes que combinam aventura, gastronomia e relaxamento.
Pedra do Elefante
O local é ideal para a prática de escalada e outros esportes de aventura, como tirolesa e rapel. A formação rochosa recebe esse nome por sua semelhança com um elefante deitado e está situada na Serra do Pau D’Alho, a 1.460 metros acima do nível do mar. A região é cercada por matas de galeria, que acompanham os vales fluviais, abrigando uma diversidade de espécies vegetais. A fauna local inclui aves silvestres e animais de pequeno porte.
Para alcançar o cume, é possível optar por vias de escalada ou por uma trilha íngreme, com uma caminhada que dura entre 1h30 e 2h, dependendo do condicionamento físico dos visitantes.
Localização
A Pedra do Elefante está localizada na estrada que liga as cidades mineiras de Andradas e Ibitiúra de Minas. Saindo de Andradas pela via asfaltada em direção a Ibitiúra de Minas, após percorrer cerca de 8,5 km, é possível avistar a formação rochosa à direita, lembrando a silhueta de um elefante.
Embora extintos há milhões de anos, antigos vulcões deixaram marcas geológicas que ainda podem ser observadas em diferentes regiões de Minas Gerais — especialmente no Triângulo Mineiro e no entorno de Araxá. A informação é do professor Carlos Alberto Rosiere, do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) .
Segundo o especialista, os vulcões que existiram no território mineiro já não representam qualquer atividade ou risco. “ Eles estão completamente extintos. Em áreas como a região de Araxá, por exemplo, ainda é possível identificar relíquias de antigos edifícios vulcânicos que se mantiveram, em parte, preservados” , afirma ao iG Turismo.
Apesar das transformações significativas no relevo desde o período Cretáceo — há cerca de 160 milhões de anos —, algumas formações ainda chamam a atenção. “Nas proximidades de Patos de Minas, há formas geológicas bastante interessantes que indicam essa antiga atividade vulcânica”, explica Rosiere.
O professor tranquiliza a população ao reforçar que o Brasil está localizado sobre o que os geólogos chamam de “terreno de escudo”, uma formação geológica estável, o que significa que não há risco de erupções vulcânicas. “Não se preocupe com vulcões por aqui. O maior risco mesmo é tropeçar, ou ser picado por insetos e cobras” , brinca o geólogo.