O caso dos dois rapazes agredidos no sábado, dia 27 de dezembro, em Porto de Galinhas, revela de forma muito clara o quanto o nosso turismo ainda é despreparado, frágil e, em muitos aspectos, capenga.
Pra quem não acompanhou o que aconteceu:
os dois turistas alugaram cadeiras e um guarda-sol na praia. O valor combinado era R$ 50. Depois que eles já tinham usado o serviço, o vendedor resolveu cobrar R$ 80. A discussão começou, outros barraqueiros se juntaram, e um dos rapazes acabou sendo agredido fisicamente.
E esse caso não é sobre uma cadeira ou um guarda-sol. Ele escancara um problema estrutural do turismo brasileiro.
O Brasil está recebendo cada vez mais turistas. Os números são comemorados, os recordes são divulgados, os destinos são vendidos como paraísos. Mas a pergunta que precisa ser feita é simples: nós estamos realmente preparados para receber essas pessoas?
Porque turismo não é só paisagem bonita. Turismo é atendimento, profissionalismo, regra clara e respeito ao consumidor.
Quando alguém combina um preço e depois tenta cobrar outro, isso não é confusão. É má-fé. Quando o valor de uma caipirinha, de um prato de comida ou de uma cadeira muda de acordo com o rosto, o sotaque ou a aparência do turista, isso não é exceção. Isso é prática recorrente em muitos destinos do Brasil.
E eu falo isso como profissional de turismo. Já vivi esse tipo de situação.
Já paguei valores absurdos por serviços simples. Já questionei e já fui desacreditado quando contei publicamente.
Hoje, infelizmente, esses episódios não ficam mais apenas no relato.
Eles aparecem em vídeo, com agressão, com violência e com repercussão nacional.
E é importante deixar algo muito claro: o problema não é Porto de Galinhas. Esse mesmo tipo de situação acontece no Rio de Janeiro. Acontece na Bahia. Acontece em vários destinos turísticos do país O problema não é o lugar. O problema são pessoas despreparadas, não profissionalizadas, atuando diretamente com o turista, sem regra, sem fiscalização e, muitas vezes, sem o mínimo de caráter.
Turismo não pode funcionar no improviso. Turismo não pode depender do humor de quem está vendendo. Turismo não pode operar na base da intimidação.
Se o Brasil quer continuar crescendo como destino turístico, precisa urgentemente investir em qualificação, ordenamento e fiscalização.
Porque não adianta trazer milhões de turistas se a experiência que eles levam embora é de desorganização, abuso e insegurança.
Esse caso não é isolado. Ele é um alerta. E ignorar esse alerta é aceitar que o turismo brasileiro continue sendo grande em números, mas pequeno em profissionalismo.









