Nos últimos anos, Portugal se tornou um dos destinos mais desejados pelos brasileiros que buscavam qualidade de vida, segurança e facilidade com o idioma. Porém, a realidade de quem já vive no país mostra um cenário bem diferente daquele vendido nas redes sociais ou nos relatos animados de quem acabou de chegar. Cada vez mais brasileiros estão desistindo de morar em Portugal e optando por voltar ao Brasil, principalmente por causa do custo de vida, que disparou desde a pandemia.
Um dos principais motivos é o preço dos aluguéis. Em diversas cidades portuguesas, pagar 1.200 a 1.250 euros por mês se tornou comum para imóveis pequenos, muitas vezes com pouca infraestrutura. Para ter uma ideia, o metro quadrado em Portugal pode custar até 84% a mais do que em São Paulo, fazendo com que o sonho de estabilidade financeira simplesmente não feche a conta. Comprar uma casa própria é ainda mais difícil: a maioria dos brasileiros relata que teria que se endividar por décadas e, mesmo assim, abrir mão de lazer, qualidade de vida e investimentos básicos.
Esse descompasso veio acompanhado de outra mudança importante: a inflação em Portugal aumentou muito desde a pandemia. O preço de itens essenciais, como alimentação e serviços, disparou, enquanto os salários continuam estagnados. A sensação geral é de que “o mercado triplicou de preço”. Muitas famílias, inclusive, passaram a viver apenas para pagar contas básicas, sem margem para construir uma vida com conforto ou guardar dinheiro.
Outro ponto que pesa cada vez mais é o fator emocional e social. Diversos brasileiros relatam episódios diários de xenofobia, que vão desde microagressões no ambiente de trabalho e recusa de empregos até situações mais graves, com agressões verbais e físicas. Há relatos também de discriminação no mercado imobiliário, como proprietários que negam aluguel somente por saberem que se trata de brasileiros. Muitos atribuem esse aumento no discurso hostil à ascensão da extrema direita em Portugal, que intensificou pautas anti-imigração, inflamando o ambiente político e social.
Apesar de ainda não existirem dados concretos que mostrem quantos brasileiros estão voltando, o sentimento é nítido: o número só cresce. Muitos afirmam que a vida em Portugal retratada por influenciadores não corresponde à realidade, especialmente quando se trata de custo de vida e adaptação social. O que parecia fácil na internet acaba se tornando um processo cansativo, burocrático e, muitas vezes, decepcionante na prática.
No final, a decisão se torna não apenas financeira, mas emocional. Além dos desafios econômicos e sociais, existe a saudade: família, amigos e a sensação de pertencimento, algo que o dinheiro não resolve. Para muita gente, a equação não compensa. O sonho de recomeçar em Portugal foi substituído pelo desejo de voltar para casa, retomar projetos no Brasil e viver com mais conforto e liberdade, mesmo gastando em reais.
A realidade é que a migração mudou. Hoje, antes de fazer as malas, quem pensa em morar em Portugal precisa olhar muito além das vitrines coloridas das redes sociais. É preciso pesquisar, conversar com quem está lá há anos e, sobretudo, entender que o custo emocional pode ser tão alto quanto o financeiro.









