Belém, no Pará, se prepara para receber os holofotes do mundo com a Conferência Climática das Nações Unidas, a COP30. Para muitos moradores, o evento representa uma oportunidade histórica de impulsionar a economia local, sobretudo setores como turismo, hotelaria e gastronomia.
Um levantamento recente do Ministério do Turismo, realizado entre os dias 18 e 22 de setembro com mais de 1,5 mil belenenses, mostra que oito em cada dez acreditam em efeitos positivos do evento para a cidade.
O estudo indica que o turismo gastronômico é apontado como o principal beneficiado (65%), seguido pelo turismo histórico-cultural (41%) e pelo ecoturismo (32%). Comércio e varejo também aparecem entre os setores favorecidos, embora em menor escala (33%).
A pesquisa reflete uma tendência nacional: o Brasil superou recentemente a marca de 7 milhões de visitantes internacionais em 2025, e a expectativa é ultrapassar os 10 milhões até o fim do ano, impulsionada por eventos globais como a COP30.
No entanto, especialistas alertam que os benefícios podem ser efêmeros se não houver planejamento de longo prazo.
Marcello Marin, contador, administrador e Mestre em Governança Corporativa, destaca que “a COP coloca Belém no mapa mundial, mas o desafio é transformar o brilho do evento em legado real. A visibilidade internacional pode atrair investimentos em turismo, bioeconomia e infraestrutura, mas, se não houver políticas para o pós-COP, será só um pico passageiro de consumo e não uma mudança estrutural na economia local”.
A preocupação com impactos sociais já é visível. Segundo Marin, “o aluguel disparou, há despejos e donos de imóveis pedindo desocupação para lucrar com hospedagem temporária. É o mesmo roteiro de sempre: o megaevento chega, o mercado infla e o morador comum paga a conta. Setores mais afetados são o imobiliário, a hotelaria e a alimentação”.
A gentrificação relâmpago também já se manifesta nas áreas próximas ao parque da cidade e à sede do evento. Marin reforça que a única forma de conter o fenômeno é com ação pública firme: “Controle de aluguéis, proibição de despejos injustos e garantias de reassentamento digno. A COP não pode virar sinônimo de expulsão dos mais pobres”.
Para que Belém colha frutos duradouros, o especialista defende investimento em capacitação local, turismo comunitário e infraestrutura básica.
“É preciso sair da lógica do ‘evento espetáculo’ e pensar em legado. A COP deveria ser vitrine da Amazônia viva, não só de contratos internacionais e diárias infladas” , acrescenta.
Apesar dos avanços nas obras de preparação, ainda faltam leitos, saneamento e transporte adequado. Se o foco continuar sendo apenas maquiar a cidade para os visitantes estrangeiros, o risco é repetir a história de outros megaeventos no país: “uma conta alta, poucos benefícios e muita gente excluída” , alerta Marin.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belém e com o Governo do Estado do Pará para comentar as ações de planejamento e mitigação dos impactos sociais e econômicos relacionados à COP30. Até o momento da publicação, não houve retorno de ambas as partes.








