O incêndio que atingiu um prédio em Hong Kong nos últimos dias impressionou pela velocidade com que as chamas se espalharam. As imagens circularam pelo mundo, e especialistas começaram a levantar uma possível explicação para a intensidade do fogo: o uso de andaimes de bambu, uma prática extremamente comum na cidade, ainda que surpreendente para quem vem de fora.
Voltei de Hong Kong hoje, e um dia antes do incêndio, filmei exatamente o momento em que percebo que os andaimes de um prédio ao meu lado eram feitos de bambu. Naquele momento eu achei que fosse algo pontual daquela obra, mas registrei porque me chamou atenção. Só depois do incêndio é que entendi o quanto isso é relevante.
Apesar de parecer inusitado para brasileiros, o bambu é um elemento tradicional da construção civil em Hong Kong. Ele é leve, barato, flexível e fácil de montar, o que facilita muito o trabalho nas áreas urbanas superdensas. Por isso, é usado há décadas, inclusive em arranha-céus, com equipes treinadas especificamente para trabalhar com esse tipo de estrutura.
Mas existe um ponto crucial: o bambu é inflamável.
E essa característica pode ter contribuído diretamente para a velocidade do alastramento das chamas. Quando um prédio está envolto por estruturas metálicas, como o ferro, o fogo encontra mais resistência, o metal não alimenta nem espalha o incêndio com tanta facilidade. Já o bambu, por ser um material orgânico, pode criar um “caminho” para as chamas subirem mais rápido.
É curioso observar esse contraste: Hong Kong é uma das regiões mais tecnológicas do planeta, com trens ultrarrápidos, sistemas digitais avançados e soluções modernas em praticamente todos os setores. Ainda assim, a cidade mantém o uso de andaimes de bambu em grande parte de suas obras, uma tradição cultural que, diante de um incêndio dessa proporção, levanta discussões importantes sobre segurança.
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No vídeo incluído nesta matéria (retirado do meu instagram), você pode conferir exatamente o momento em que percebo essa estrutura um dia antes do incêndio. É o tipo de detalhe que passa despercebido na correria da viagem, mas que ganha outro peso quando analisado depois dos acontecimentos.







