Tão absurdo quanto a cobrança pela bagagem de mão, pela marcação de assento e até mesmo por um simples copo d’água a bordo, agora o passageiro se depara com algo ainda mais difícil de aceitar: pagar uma taxa apenas por entrar em um aeroporto. Em muitos casos, sem sequer ter tempo de usufruir qualquer estrutura que o espaço possa oferecer.
E eu pude sentir isso na pele ao retornar ontem de uma viagem de Nova York, com conexão em Lima, no Peru. Mesmo já sabendo da existência dessa cobrança (em vigor desde dezembro deste ano) é impossível não se indignar ao pagar US$ 11,38, cerca de R$ 56,00 no câmbio atual, simplesmente por estar em trânsito. No meu caso, a conexão era inferior a uma hora, tempo que não permitiria usufruir de absolutamente nada do aeroporto.
E não pense você que existe qualquer forma de “driblar” esse pagamento. Muito pelo contrário. Assim que desembarcamos do avião, somos automaticamente direcionados para a fila da cobrança. O pagamento pode ser feito em cartão de crédito, dinheiro em espécie ou online, por meio de um QR Code que o aeroporto faz questão de expor, exibir e escancarar por todos os lados: grande, pequeno, nos corredores, nas paredes, em totens. Não existe a menor possibilidade de alguém alegar que “não viu”. O aeroporto se certifica de que todos vejam (e entendam) que precisam pagar.
Para reforçar ainda mais esse controle, diversos funcionários ficam espalhados pelo terminal, todos com plaquinhas exibindo o QR Code ou o código de barras para pagamento. A sensação é de um verdadeiro cerco operacional, montado para garantir que ninguém passe sem pagar.
Somente após o pagamento é que o passageiro recebe um novo QR Code, que funciona como uma espécie de “liberação”. Sem ele, você simplesmente não acessa a área de embarque. Ou seja, não há escolha. Não há alternativa. É pagar ou não embarcar.
Tudo isso me soa muito mais como uma tentativa clara de reverter os altos custos da ampliação do aeroporto de Lima, que passou recentemente por uma expansão gigantesca. O novo terminal teve sua inauguração dia 1º de junho de 2025 (triplicando a capacidade do antigo) com investimentos bilionários, e alguém precisa pagar essa conta. Pelo visto, o passageiro em conexão foi o escolhido.
O que mais causa indignação é que essa taxa, na prática, já deveria estar embutida nas tarifas aeroportuárias tradicionais, aquelas que todos nós já pagamos quando compramos uma passagem aérea. Em quase nenhum grande hub internacional do mundo existe uma cobrança específica, separada e obrigatória apenas para passageiros em trânsito que não entram no país.
Mas a revolta aumenta ainda mais quando chegamos à área de embarque. O local destinado aos voos internacionais, inclusive para o Brasil, é absolutamente precário. Para cerca de 20 portões de embarque, há praticamente um único banheiro. Se o seu portão estiver no início da área, você precisa caminhar cerca de 10 minutos para chegar ao banheiro mais próximo.
Não há máquinas de venda de água ou bebidas. Não há lanchonetes. Não há cafés. Não há absolutamente nada. A área é inóspita, vazia, sem vida e sem estrutura. Em nenhum momento encontrei sequer uma tomada próxima para carregar o celular. Precisei caminhar cerca de cinco minutos até encontrar uma tomada mais próxima disponível.
Para completar o cenário, quase perdemos o voo. A conexão já era curta e todo esse processo obrigatório de parada para pagamento da taxa, somado às longas distâncias internas do terminal, transforma uma simples conexão em uma verdadeira corrida contra o tempo.
O passageiro paga uma taxa elevada, imposta sem opção de escolha, e em troca recebe zero estrutura, zero conforto e zero serviço. É difícil entender como um aeroporto que se posiciona como hub internacional aceita tratar o passageiro em trânsito dessa forma.
E aí fica a reflexão final, como venho dizendo com frequência nas minhas redes sociais e também aqui na coluna, viajar está ficando insalubre. Estamos sendo surpreendidos por cobranças sobre mala de mão, que sempre foi gratuita, por água a bordo em alguns voos, algo básico e antes incluído, e agora por taxas aeroportuárias duplicadas, cobradas de quem sequer entra no país. Estamos pagando cada vez mais por serviços que sempre fizeram parte da experiência de viajar. A pergunta que fica é: para onde estamos caminhando? Viajar deixou de ser uma experiência prazerosa e transformadora e está, pouco a pouco, se tornando um martírio logístico, financeiro e emocional. Até quando o passageiro vai continuar pagando a conta sozinho?









