A ciência já sabe que ultraprocessados representam riscos para saúde mental
, e um estudo realizado pelo Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP mostra que esses alimentos aumentam em 42% o risco de sintomas depressivos.
A pesquisa se concentrou nos dados de 16 mil pessoas, que relataram semestralmente os principais alimentos consumidos e o estado de saúde mental.
Os participantes do estudo foram divididos entre os que consumiam mais ultraprocessados (38,9% do total de calorias ingeridas no dia) e menos (7,3% das calorias consumidas).
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Chega-se, então, a uma média: ultraprocessados representam 21,6% da dieta das pessoas analisadas. A conta dos pesquisadores também menciona um aumento de 10% de sintomas depressivos a cada 10% a mais de alimentos ultraprocessados no cardápio diário.
Eis, ainda, uma preocupação apresentada no estudo: comer frutas, verduras e legumes não anula o efeito nocivo do alto consumo de ultraprocessados.
Segundo o estudo, a causa dos problemas psiquiátricos está principalmente nos aditivos químicos presentes nos alimentos ultraprocessados, devido às alterações realizadas na microbiota intestinal, levando a um desequilíbrio na absorção dos nutrientes.
Estudos já mostraram que, justamente seguindo essa linha de raciocínio, as bactérias do intestino podem influenciar na depressão
. Por outro lado, outra estimativa feita pelo próprio Nupens é que nos últimos dez anos, o consumo de alimentos ultraprocessados pelos brasileiros teve aumento médio de 5,5%.
Ultraprocessados e saúde mental
De acordo com Renato Zilli — endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês — altos níveis de açúcares refinados podem causar picos rápidos de glicose no sangue seguidos por quedas bruscas, e essas flutuações de açúcar no sangue podem levar a mudanças de humor, irritabilidade e fadiga.
“Muitos alimentos ultraprocessados são ricos em gorduras trans e óleos vegetais refinados, que podem promover inflamação no corpo, um fator que tem sido associado à depressão. Esses alimentos geralmente têm baixo valor nutricional e podem levar a deficiências de vitaminas e minerais essenciais para a saúde mental, como o ômega-3, vitaminas do complexo B e magnésio”, explica o médico.
Esses alimentos são formulados principalmente a partir de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcares, amido, proteínas) ou sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, emulsificantes, conservantes).
Alimentação balanceada
Segundo o especialista, estudos longitudinais e ensaios clínicos têm mostrado que dietas ricas em alimentos integrais, como frutas, vegetais, peixes e grãos inteiros, estão associadas a uma menor incidência de depressão e ansiedade.
“Dietas ricas em alimentos anti-inflamatórios podem reduzir os níveis de inflamação e estresse oxidativo, que são fatores de risco para transtornos mentais. Alimentos integrais promovem um microbioma intestinal saudável, que tem sido associado à melhora do humor e do funcionamento cognitivo”, orienta.
Com isso, podemos observar que as dietas ricas em nutrientes essenciais ajudam a regular neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, que são fundamentais para o humor, uma vez que alimentos integrais podem ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade e depressão e uma alimentação balanceada pode levar a níveis mais estáveis de energia e melhor função cognitiva.
O especialista também sugere estratégias práticas para fazer a transição de uma dieta baseada em ultraprocessados para uma alimentação mais saudável: planejar e preparar refeições com antecedência pode ajudar a evitar a tentação de alimentos ultraprocessados. Ler rótulos e escolher alimentos com menos ingredientes e sem aditivos artificiais e cozinhar mais refeições em casa usando ingredientes frescos e integrais também pode ajudar.
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