segunda-feira, 16 de junho de 2025

Rádio SOUCG

  • ThePlus Audio

Tecnologias nas Guerras: A Criatividade Humana e o Futuro

Internet

Robô Autômato Mitologia Grega

Rússia, Ucrânia, Israel, Líbano, Irã …. A História é cíclica e a tecnologia sempre está presente

Adrienne Mayor, historiadora da ciência na Universidade de Stanford e autora do livro “Gods and Robots: Myths, Machines and Ancient Dreams of Technology”, afirma que há mais de 2000 anos, na Antiguidade Clássica, os seres humanos já tinham sido apresentados à Inteligência Artificial, aos Robôs e à Máquinas Imortais. Talos era um robô assassino de cobre que protegia a Ilha de Creta (épico Jasão e os Argonautas) e Pandora (Caixa de Pandora) era uma mulher artificial, uma autômata. Ambos foram criados pelos deuses do Olimpo onde eram bons, divertidos e inofensivos, porém os deuses tiranos e autocratas: Zeus e Hefesto (Deus da Tecnologia e da Inovação) os enviaram para conviver com os mortais provocando imensa devastação.

Da mesma forma nas batalhas épicas dos Vedas hindus, são descritas naves voadoras denominadas Vimanas que também navegavam em terra e na água.

De onde provêm essa necessidade humana de poder, confronto e controle? Ao mesmo tempo em que o conflito, a competição se estabelecem, parece que o senso criativo se direciona e é apropriado por esses instintos como a alimentar o desejo hegemônico de nações e impérios, assumindo a forma de tecnologia. Mas será que em pleno século XXI e tendo experimentado os horrores provocados pelo mal direcionamento da capacidade criativa em prol de tecnologias dizimadoras de pessoas e do meio ambiente, faz sentido não canalizarmos essa imensa capacidade para um viver pacífico e regenerativo em nosso planeta? Até quando nossa espécie reproduzirá em novas roupagens o primitivismo da autossabotagem existencial? 

Tecnologias na História das Guerras e Confrontos Militares

Ao longo da história humana, a criatividade e engenhosidade que poderiam ter sido direcionadas exclusivamente para o progresso da civilização foram frequentemente canalizadas para o desenvolvimento de tecnologias de guerra. Desde os primórdios da civilização até os conflitos contemporâneos, a corrida armamentista tem sido um motor paradoxal de inovação tecnológica, gerando avanços que posteriormente migram para o uso civil, mas cuja origem está profundamente enraizada na necessidade de dominação e destruição . Este artigo traça uma linha do tempo das principais inovações bélicas, analisando seu impacto nos conflitos humanos, na estratificação social global e no meio ambiente, enquanto projeta os impactos que as tecnologias emergentes podem trazer para os campos de batalha do futuro.

Estribo
Internet

O Estribo – Inovação Militar

As Inovações Antigas e seu Impacto Militar

O Estribo e a Revolução Equestre

A invenção aparentemente simples do estribo, aquele lugar onde você encaixa seus pés ao cavalgar, aconteceu por volta do século IV na China e revolucionou a guerra medieval. Essa  inovação permitia ao cavaleiro maior estabilidade e controle durante o combate, transformando a cavalaria na força dominante nos campos de batalha. O exército de Gengis Khan soube aproveitar essa tecnologia melhor que qualquer outro, combinando-a com arcos compostos para criar uma máquina militar móvel e letal que conquistou o maior império contíguo da história  . A vantagem militar proporcionada pelo estribo foi tão significativa que alterou permanentemente a balança de poder na Eurásia, demonstrando como uma única inovação tecnológica podia redefinir a geopolítica global.

A Pólvora e as Armas de Fogo

A descoberta da pólvora pelos chineses no século IX e sua subsequente aplicação militar marcariam outro ponto de virada na história da guerra. Quando essas tecnologias chegaram à Europa e foram refinadas, permitiram que pequenos contingentes de soldados com arcabuzes e canhões derrotassem exércitos muito maiores. Durante as conquistas coloniais, as armas de fogo deram aos europeus uma vantagem decisiva sobre os povos nativos das Américas, África e Ásia. Cortés, por exemplo, com apenas alguns centenas de homens armados com mosquetes e alguns canhões, conseguiu derrotar o império Asteca. Essa disparidade tecnológica não apenas facilitou a dominação colonial, mas também estabeleceu um padrão de estratificação global que persiste até hoje, com nações tecnologicamente avançadas mantendo vantagem militar e econômica sobre as demais.

A Revolução Industrial e a Mecanização da Guerra

Submarinos: A Ameaça Silenciosa

Os primeiros submarinos militares práticos surgiram durante a Guerra Civil Americana, mas foi na Primeira Guerra Mundial que os U-Boats alemães demonstraram seu potencial devastador. Durante a Segunda Guerra, a Kriegsmarine aperfeiçoou essa tecnologia, com submarinos como o U-48 afundando 51 navios aliados . Essas “feras de aço” transformaram os oceanos em campos de batalha invisíveis, inaugurando a era da guerra submarina que continua relevante até hoje. O sucesso dos U-Boats não apenas mudou a estratégia naval, mas também demonstrou como tecnologias relativamente novas poderiam alterar drasticamente o curso de conflitos em escala global.

A Aviação Militar: Do Reconhecimento ao Bombardeio Estratégico

A Primeira Guerra Mundial viu a aviação evoluir de uma curiosidade tecnológica para uma arma decisiva. De um sonho humano tão lindo quanto o de voar, empreendido por inúmeras pessoas, mas realizado pelo brasileiro Santos Dumont, para um uso bélico destrutivo.  Inicialmente sua invenção foi usada para reconhecimento, contudo, para a sua infelicidade insustentável,  logo foram armados com metralhadoras, dando origem aos primeiros combates aéreos. O grandioso inventor sucumbiu diante da tristeza em ver a destinação nefasta do avião para ceifar vidas humanas e tirou a própria Vida.

O Barão Vermelho, Manfred von Richthofen, tornou-se lendário ao abater 80 aeronaves inimigas . Na Segunda Guerra, a aviação alcançou maturidade como arma estratégica, com bombardeiros como o B-29 sendo capazes de destruir cidades inteiras. Essa evolução culminou no lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945, quando um único avião carregando uma única bomba podia causar mais destruição que milhares de bombardeios convencionais . Com base na pedagogia do medo, os Estados Unidos assumiram a liderança da hegemonia global de poder.

A Era Atômica e a Guerra Fria

As Bombas Nucleares: O Ápice da Distorção Tecnológica

O desenvolvimento das armas nucleares durante o Projeto Manhattan representou um salto qualitativo no potencial destrutivo da tecnologia militar. As bombas “Little Boy” e “Fat Man” lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki mataram entre 129.000 e 246.000 pessoas, a maioria civis, e deixaram um legado de sofrimento através dos efeitos da radiação . Esse evento singular na história demonstrou que a humanidade havia desenvolvido a capacidade de destruir a si mesma em escala global, inaugurando a era do medo nuclear que dominou a Guerra Fria. A corrida armamentista subsequente entre EUA e URSS criou arsenais capazes de extinguir a vida no planeta várias vezes, um testemunho sombrio da criatividade humana voltada para a autodestruição.

A Corrida Espacial e a Tecnologia de Mísseis

A Guerra Fria também acelerou o desenvolvimento de tecnologias de foguetes e mísseis balísticos intercontinentais. O que começou como uma competição para colocar satélites em órbita rapidamente se transformou em uma corrida para desenvolver sistemas de entrega nuclear cada vez mais precisos e letais . Paradoxalmente, essa mesma tecnologia permitiu avanços na exploração espacial civil, demonstrando o duplo propósito de muitas inovações militares. 

As Guerras Contemporâneas e a Revolução Digital

Drones: A Desumanização da Guerra

O conflito entre Rússia e Ucrânia destacou o papel central que os drones assumiram na guerra moderna. O que antes eram equipamentos periféricos tornaram-se armas fundamentais, com a Ucrânia usando drones FPV (First Person View) modificados de modelos originalmente destinados a filmar festas e casamentos . Esses dispositivos, capazes de entregar cargas explosivas com precisão cirúrgica, transformaram a natureza do combate, permitindo que operadores a quilômetros de distância matem soldados inimigos com a frieza de um videogame. A “guerra de drones” representa uma nova fase na evolução militar, onde a distância física entre o agressor e sua vítima aumenta, enquanto diminui a barreira psicológica para matar .

Guerra Cibernética: Um Sofisticado Campo de Batalha

O advento da era digital criou um novo domínio para conflitos – o ciberespaço. Países desenvolvem agora armas cibernéticas capazes de desativar infraestruturas críticas, roubar segredos industriais e militares, ou manipular a opinião pública através de campanhas de desinformação em massa. Essas armas são particularmente insidiosas porque podem ser usadas sem declaração formal de guerra, criando um estado permanente de conflito latente entre nações. A guerra cibernética também democratizou em parte o conflito, permitindo que atores não estatais e pequenos países desafiem potências tradicionais em um campo de batalha onde o poder convencional é menos relevante.

Tecnologias no Campo de Batalha
Internet

Tecnologias no Campo de Batalha

O Futuro da Guerra: Tecnologias Emergentes e seus Perigos

Robótica e Inteligência Artificial no Campo de Batalha

Os avanços em robótica e inteligência artificial prometem revolucionar ainda mais a guerra. Sistemas autônomos de combate, capazes de tomar decisões letais sem intervenção humana direta, estão em desenvolvimento em vários países. A perspectiva de “robôs assassinos” levanta questões éticas profundas sobre a delegação de decisões de vida ou morte a algoritmos, além do risco de uma corrida armamentista em IA que poderia escapar ao controle humano. A militarização da inteligência artificial representa talvez o maior perigo existencial desde as armas nucleares, com o potencial de criar sistemas de guerra autônomos e imprevisíveis.

Wearable Technologies e Bioinformática

No nível individual, soldados do futuro poderão ser equipados com wearables avançados que monitoram e aumentam suas capacidades físicas e cognitivas. Exoesqueletos poderiam permitir carregar cargas pesadas por longas distâncias, enquanto interfaces cérebro-máquina poderiam acelerar tempos de reação e melhorar a tomada de decisão. A bioinformática e a engenharia genética podem levar a tentativas de “melhorar” soldados biologicamente, criando questões éticas sobre o limite entre humano e máquina, e o potencial para uma nova forma de estratificação entre “soldados aumentados” e combatentes convencionais.

Consequências Sociais e Ambientais da Tecnologia Militar

A Divisão Global Tecnológica

O desenvolvimento e domínio de tecnologias militares avançadas tem sido um fator chave na manutenção da hierarquia global de poder. Países com capacidade de desenvolver e produzir armas sofisticadas mantêm vantagem estratégica sobre aqueles que dependem de importações ou ficaram para trás na corrida tecnológica. Essa divisão cria um ciclo vicioso onde nações ricas se tornam mais capazes militarmente, enquanto as pobres permanecem vulneráveis a intervenções e influência externa. A estratificação tecnológica reforça assim as desigualdades globais, tornando o mundo menos estável e mais propenso a conflitos. Sem falar no gigantesco impacto psicológico nas sociedades envolvidas nos conflitos. Quantos veteranos sentem dores em mebros perdidos em guerra ou se desequilibram pelo resto da Vida com o impacto das lembranças terríveis aos quais foram submetidos ou que foram os próprios agentes dos acontecimentos?

O Custo Ambiental da Guerra

Os conflitos armados estão entre as atividades humanas mais destrutivas para o meio ambiente. De acordo com o Conflict and Environment Observatory, as forças militares globais são responsáveis por cerca de 5,5% das emissões globais de gases de efeito estufa – se fossem um país, seriam o quarto maior poluidor do mundo . A guerra na Ucrânia, por exemplo, já gerou cerca de 175 milhões de toneladas de gases de efeito estufa e contaminou aproximadamente 29% do território ucraniano com explosivos e resíduos tóxicos . Os efeitos ambientais da guerra persistem por décadas ou mesmo séculos, como demonstrado pela “Zona Vermelha” na França, ainda inabitável mais de um século após a Primeira Guerra Mundial devido a bombas não detonadas e solo contaminado .

O Colunista
Pessoal

Gilberto Lima Jr Humanista Digital, Futurista e Iniciador do Movimento Namastech

A Encruzilhada Tecnológica da Humanidade

A história da tecnologia militar é um testemunho ambivalente da criatividade humana – capaz de feitos impressionantes de engenharia e inovação, mas frequentemente direcionada para a destruição mútua. Desde os estribos de Gengis Khan até os drones da Ucrânia, cada salto tecnológico trouxe consigo maior poder destrutivo e novas formas de violência institucionalizada. À medida que nos aproximamos de um futuro com guerras cibernéticas, robôs autônomos e soldados biotecnologicamente aumentados, a humanidade enfrenta uma escolha crítica: continuar a empregar seu gênio criativo principalmente para desenvolver meios mais eficientes de matar, ou redirecionar esses esforços para resolver os verdadeiros desafios globais – pobreza, desigualdade, mudança climática e sustentabilidade ambiental.

O custo ambiental da corrida armamentista, combinado com o potencial apocalíptico das novas tecnologias militares, sugere que a humanidade não pode se dar ao luxo de continuar neste caminho. A mesma criatividade que desenvolveu armas cada vez mais letais poderia ser direcionada para sistemas de defesa não letais, diplomacia preventiva e cooperação internacional. O desafio do século XXI não é tanto tecnológico quanto é ético – desenvolver a sabedoria para usar nosso poder criativo de forma responsável, antes que as tecnologias que criamos nos destruam. Por mais amor e espiritualidade.

Que o Poder da Consciência na Era Digital inicie uma Novo Tempo de Esperança e Paz, onde recursos financeiros, os insumos naturais e a criatividade tecnológica, estejam associados em favor da Vida, jamais em detrimento dela!

Namastech!

Gilberto Lima Junior é Palestrante Internacional e membro do Board de diversas empresas no Brasil e no Exterior – Redes Sociais: @gilbertonamastech

tecnologia.ig.com.br

Enquete

O que falta para o centro de Campo Grande ter mais movimento?

Últimas