terça-feira, 24 de junho de 2025

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Sensor brasileiro promete reduzir quedas em idosos dentro de casa

rawpixel/Freepik

Pessoa idosa caída

Após um acidente envolvendo sua sogra, que tem Parkinson e caiu no corredor de casa, o engenheiro de redes Lucas Fernandes decidiu criar um sensor de detecção de quedas, o FALLR1. A queda ocasionou fratura no maxilar e dez pontos no queixo.

Desenvolvido de forma independente em sua própria casa, o sensor utiliza tecnologia de radar e o protocolo de conectividade Matter, o que permite integração com diversos sistemas de automação residencial.

Lucas, que já atuava com automação residencial, importou módulos específicos da China e fez a adaptação para o mercado nacional, desenvolvendo desde o design 3D até a montagem eletrônica.

O sensor, ao contrário de modelos que usam câmeras, mantém a privacidade e pode ser usado até em banheiros. “ Se salvar uma vida, eu já estarei satisfeito ”, afirma o engenheiro.

Como o sensor funciona

O FALLR1 detecta quedas por meio de radar com 90% de precisão e atua também como sensor de presença.

Ele cobre uma área circular de cerca de 13 m², mas precisa de instalação correta para funcionar.

“S e a pessoa cair do lado da cama e não tiver visão direta, o sensor não vai conseguir identificar essa queda. Então existe uma importância muito grande na colocação em um local correto ”, alerta Lucas.

Sensor de queda Matter – FallR1
Mindêllo Casas Inteligentes/Reprodução

Sensor de queda Matter – FallR1

Três parâmetros ajustáveis garantem a calibração: altura do sensor, sensibilidade e tempo de detecção.

A queda só é confirmada se a pessoa permanecer imóvel por tempo determinado, entre 05 e 90 segundos. A partir disso, sistemas de automação podem acionar alarmes, luzes, enviar notificações ou fazer chamadas.

A conexão à internet é necessária apenas para configurar o dispositivo e integrá-lo aos sistemas. Uma vez calibrado, ele opera de forma autônoma na rede local.

Um diferencial é a adoção do protocolo Matter, que padroniza a comunicação entre dispositivos de diferentes marcas.

Isso permite que o FALLR1 se integre a assistentes de voz, sistemas de iluminação e segurança. “ Hoje cada marca tem seu próprio protocolo, o que dificulta muito. O Matter quebra essa barreira ”, explica o criador.

Brasil ultrapassa projeção de quedas

O Brasil registrou 179.922 internações hospitalares de pessoas idosas em 2024 devido a quedas acidentais, número que superou tanto o total de 2023, com 177.545 casos, quanto a projeção feita para 2025, de 150 mil internações.

O custo médio por internação foi de R$ 1.821,92, gerando um gasto total de aproximadamente R$ 328 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Apesar de serem eventos considerados evitáveis, os acidentes continuam crescendo acima do esperado e já superam também a previsão de gastos para o próximo ano, que era de R$ 260 milhões. As informações são do banco de dados do SIH-SUS e de estudo de Novaes (2023).

Ao longo do ano de 2024, 13.385 mortes resultaram de episódios de quedas em pessoas idosas.  Em 2023, o número de óbitos foi ainda maior: 16.385.

Idosos são os mais afetados por quedas

Segundo a fisioterapeuta e professora  Drª. Karina Gramani-Say, docente do Departamento de Gerontologia da UFSCar e coordenadora do Laboratório de Estudo da Dor e Funcionalidade no Envelhecimento, as principais causas das quedas incluem desequilíbrio postural, fraqueza muscular, tonturas, ambientes inseguros e o próprio medo de cair.

Estima-se que 30% dos adultos acima de 65 anos sofrem quedas, associadas ou não a desfechos negativos, que podem trazer consequências leves, como escoriações, isolamento social, perda da autonomia ou graves, como fraturas (fêmur, punho/rádio e coluna), traumas crânioencefálico, seguidas de hospitalizações e até mesmo óbito “, destaca a professora.

A pesquisadora afirma que tecnologias como os sensores de queda são especialmente úteis para pessoas idosas com demência ou que moram sozinhas. “A impossibilidade de levantar do chão, ou demora no socorro dos idosos que não conseguem se levantar está ligada ao bom prognóstico de reabilitação pós-quedas”, diz.

No entanto, o custo e a escolaridade dos idosos ainda são barreiras, segundo a pesquisadora. “ É importante dizer que o SUS disponibiliza bengalas, cadeiras de rodas e andadores, mas ainda não se tem uma política pública para fornecer esse tipo de tecnologias de cuidado e proteção pelo Sistema Público ”, relata Karina.

Expectativas para o futuro do produto

Com boa recepção inicial, Lucas planeja buscar investimentos para produzir o sensor em maior escala e expandir a distribuição para fora do Brasil, como Europa e Estados Unidos.

Ele acredita que a automação deve ser acessível e voltada à qualidade de vida, especialmente de idosos.

Automação não é luxo. Automação é melhora de qualidade de vida das pessoas, é fazer com que elas consigam viver e se relacionar da melhor forma com suas residências” , defende o profissional.

Entre os exemplos, ele cita sensores que ligam luzes ao sair da cama à noite, assistentes de voz que realizam chamadas com familiares, e fechaduras eletrônicas acionadas remotamente.

Prevenção exige ações integradas no sistema de saúde

Karina reforça que, além das alternativas tecnológicas é preciso também ações públicas, como a “ implementação de avaliação multidimensional da pessoa idosa para a manutenção do envelhecimento saudável na Atenção Primária em Saúde “, ação defendida pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa  (PNSPI) desde 2006. Assim como “que a pessoa idosa seja avaliada pelo menos 1 vez ao ano”, complementa.

A Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa é um instrumento de avaliação previsto na PNSPI que permite uma análise ampla da saúde e das condições de vida da pessoa idosa, considerando aspectos físicos, mentais, sociais e de funcionalidade. Esta avaliação visa identificar precocemente fragilidades e riscos, ajudando a planejar intervenções personalizadas e promover o cuidado centrado na pessoa idosa.

Ainda dentro das ações públicas, a doutora inclui a necessidade de ” avaliação específica para quedas e seus fatores de risco em caso de histórico e a implementação no SUS de programas de prevenção ”.

Ela também defende a criação de programas públicos de prevenção com foco multidisciplinar e destaca a realização do II Simpósio Internacional sobre Prevenção de Quedas em Idosos, ocorrido em São Paulo em novembro de 2024, com mais de 500 participantes.

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