Rio-Paris | Documentário do Globoplay causa polêmica ao usar dublagem por IA
Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447
é uma minissérie documental que foi disponibilizada no catálogo do Globoplay no dia 31 de maio. A produção conta a história da queda do avião da Air France em 2009, mas acabou chamando a atenção por outro detalhe. A série optou por utilizar inteligência artificial para dublar os entrevistados, abrindo mão de dubladores profissionais.
A escolha da produção, tocada pela área de jornalismo da Rede Globo, causou polêmica nas redes sociais após o lançamento da minissérie. A decisão de não contratar estúdios de dublagem para cuidar da tradução e gravação das vozes para os episódios foi avisada logo no início de cada um dos quatro episódios.
O aviso antes dos capítulos da série serviu como gasolina diante de um debate já bastante inflamado. Isso porque o Globoplay se tornou um dos primeiros streamings do mundo a adotar a tecnologia
na dublagem, ignorando tanto os apelos da categoria pela valorização da profissão quanto o próprio debate sobre os limites dessa susbtituição da mão de obra humana. E, obviamente, isso foi alvo de muita discussão.
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Depreciação de profissionais de dublagem?
A escolha da produção logo foi apontada por espectadores e vem sendo a narrativa em torno do documentário, mais do que o caso retratado nos episódios. Vários espectadores usaram as redes sociais para criticar a equipe da Globo por não ter utilizado dubladores e escolhendo usar a tecnologia que, segundo muitos, tem qualidade inferior à dublagem viva.
O lançamento de Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447
reacendeu a discussão em torno do uso de inteligência artificial em detrimento do trabalho de profissionais, algo que é levantado não apenas na área de dublagem, mas de jornalismo, design e artes em geral.
Com um aviso de que está usando tecnologia avançada para dublagem, Globoplay lança documentário onde inteligência artificial faz a voz em português dos participantes. pic.twitter.com/uQabmLBBxs
— PAN (@forumpandlr) June 1, 2024
Em janeiro, foi lançado o movimento Dublagem Viva
, que reúne profissionais do setor, entre atores e atrizes de voz, diretores, tradutores e mixadores, que pedem a regulamentação do uso dessas tecnologias para garantir o trabalho de milhares de profissionais no Brasil.
O movimento é a versão nacional do abaixo assinado internacional criado pela United Voice Artists, que já reúne mais de 120 mil assinaturas. O Dublagem Viva defende que IA não deve ser usada para reproduzir vozes de atores em outros idiomas para língua portuguesa com a finalidade de substituir os dubladores. Empresas como Crunchyroll, Sony
e mais já se comprometeram a incluir cláusulas de proteção de IA em seus contratos.
O streaming @globoplay
acaba de lançar um documentário com dublagem feita por inteligência artificial generativa.Quer entender por que isso é um retrocesso e como você, que faz parte do público, se prejudica no processo?
A língua portuguesa em sua variante brasileira é fruto… pic.twitter.com/P5jmjn0RW3
— Dublagem Viva (@DublagemViva) June 1, 2024
O documentário Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447
pode se encaixar em uma brecha desse pedido, vide que ele não utiliza vozes de dubladores internacionais para serem traduzidos por IA, mas sim dos próprios entrevistados do documentário. O aviso sobre a permissão dos entrevistados para usar a tecnologia também pode ser um ponto importante na discussão sobre essa produção em particular.
Ainda assim, de acordo com o movimento Dublagem Viva, essa brecha é algo que afeta tanto a qualidade do material como o próprio bolso do consumidor. “Mesmo usando as vozes originais como base, temos um produto de baixa qualidade, com a melodia e o ritmo de outro idioma”, expõe o grupo em uma postagem nas suas redes sociais. “Além disso, o barateamento dos custos de produção dessa dublagem não são repassados para o assinante, que continua pagando uma mensalidade alta para consumir um produto cada vez pior”.
A estimativa do grupo é que, com Rio-Paris
, cerca de 50 profissionais ligados à dublagem ficaram sem trabalho de forma direta ou indireta. “Imaginem só se todas as distribuidoras, serviços de streaming
e produtoras decidirem fazer isso a partir de agora? “, diz o texto.
O Canaltech
entrou em contato com a Globo para pedir um posicionamento sobre as críticas. Caso houver retorno, a matéria será atualizada.
Sobre o que se trata o documentário Rio-Paris?
Apesar de sua dublagem ter tomado toda a conversa sobre a produção, a minissérie Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447
trata sobre o acidente ocorrido em 31 de maio de 2009, que vitimou 228 pessoas.
Com quatro episódios, o documentário traz relatos de familiares das vítimas, técnicos, especialistas em aviação e jornalistas que fizeram parte da cobertura do acidente e mostra as mudanças nos protocolos de segurança de aeronaves que aconteceram após a tragédia.
Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447
está disponível na íntegra no Globoplay.
Leia a matéria no Canaltech
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