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Review Super Mario RPG | Jogo é obra-prima que (ainda) não sabe falar português

Durval Ramos

Review Super Mario RPG | Jogo é obra-prima que (ainda) não sabe falar português

Devo confessar que nunca joguei o Super Mario RPG
original. Sei de sua importância e influência para o gênero, mas, como um brasileiro que cresceu nos anos 1990, dependia exclusivamente do que tinha na locadora. E vamos combinar que um game repleto de diálogos não era tão interessante nem para as donas e muito menos para quem jogava e não entendia uma palavra em inglês.

Por isso mesmo, encarei a nova versão lançada para Nintendo Switch
como uma reparação histórica tanto da minha parte, que finalmente ia conferir um dos títulos mais aclamados e queridos da geração SNES, como da própria Nintendo
, que finalmente deixaria o jogo mais acessível para um número maior de pessoas que, assim como eu, não puderam conferir essa simpática aventura quase três décadas atrás.

E não é preciso ir muito longe para entender que todos os elogios feitos ao jogo são mais do que justificáveis. Não apenas por introduzir mecânicas e ideias que são replicadas até hoje, mas por ser um tipo de game do Mario como não se faz mais. Só é uma pena que, mesmo 30 anos depois, ele ainda não seja tão acessível quanto a Nintendo gostaria que ele fosse.


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Carisma extra e incomum

Embora nunca tenha jogado o Super Mario RPG
original, conheço bastante os demais jogos do herói bigodudo dentro do gênero. De Paper Mario
à finada franquia Mario & Luigi
, me aventurei em algumas das outras aventuras do personagem no combate por turnos. Por isso mesmo, conferir a raiz disso tudo foi bastante interessante.

Trata-se de um RPG bem tradicional, daqueles com um grupo formado por três personagens e com uma variedade de opções de ataques e magias. Quem jogou qualquer
Final Fantasy

clássico vai rapidamente entender a dinâmica — o que é mais do que compreensível, já que o game de 1996 foi desenvolvido pela então Square.

E esse é o grande diferencial de Super Mario RPG
na época de seu lançamento original e que fica ainda mais aparente no remake do Switch. Por ter sido produzido por uma equipe de fora da Nintendo, muitos dos padrões e das características que a Big N adotou em seus jogos não estão presentes aqui, seja por decisão estilística do estúdio ou por ainda não terem sido criados. E isso faz toda a diferença.

Todo o universo de Mario sempre esbanjou carisma, mas esse jogo em específico emana uma aura diferente. Há um tipo de humor, que oscila entre o ingênuo e o sarcástico, que a gente não vê mais em nenhum outro jogo da Nintendo, muito menos de seu mascote. E é o que faz com que o game se torne algo único, principalmente hoje.

Da cena em que Mario precisa ser contido para não socar uma criança até o casal de Toads querendo apressar o casamento para ir logo à lua de mel, são pequenas situações que dão um tempero especial para essa aventura, diferenciando-a daquilo que os jogos que vieram depois apresentaram.

Guardada as devidas proporções, é como se Super Mario RPG
fosse o Pica-Pau maluco da Nintendo, uma versão um pouco mais ácida daquela que todos conhecem — reflexo de uma Square muito livre para criar e subverter coisas que viriam a se tornar canônicas e impensáveis hoje em dia. E é incrível ver que tudo isso está presente na versão para Switch.

Mesmo para quem nunca jogou o clássico do SNES, é perceptível como o remake da ArtePiazza — estúdio ligado à Square Enix
e que trabalhou em vários jogos da série Dragon Quest
— manteve todas essas características intocadas, trazendo pequenas e leves alterações muito mais no diálogo do que nas situações em si. Por isso mesmo, aquele absurdo tão característico do original retorna em grande estilo.

Parece um detalhe, mas é o que torna Super Mario RPG
tão diferente de todos os demais jogos do gênero que a Nintendo lançou posteriormente. Paper Mario
e Mario & Luigi
bebem um pouco desse humor mais irreverente, mas são bem mais ingênuos e até bobinhos, sem esse carisma todo que vemos retornar aqui. É o que sempre fez o título de SNES único e que segue presente.

Refinado ao máximo

Um ponto que eu não esperava e que me surpreendeu muito é como o combate de Super Mario RPG
é dinâmico e variado de um modo que nem mesmo jogos modernos conseguem fazer. Sabia da sua importância por introduzir o sistema de Action Command, mas ele tem bem mais do que isso.

O Action Command foi uma saída bem criativa criada pela Square na época para dar mais variedade aos combates. Ao fazer com que o jogador apertasse o botão no momento exato do ataque para conseguir benefícios como dano extra ou esquiva perfeita, o game foge da coisa mais parada do combate por turno. O resultado é um dinamismo impressionante.

O recente
Sea of Stars

, por exemplo, bebe muito dessa influência ao trazer uma mecânica semelhante para as batalhas. A diferença é que Super Mario RPG
está a todo momento transformando a dinâmica das lutas ao fazer com que os equipamentos dos personagens mudem seu comportamento.

Mais uma vez, é uma saída bastante simples encontrada pelo clássico, mas que o coloca à frente até mesmo de jogos que vieram depois. Mario ataca com socos, cascos e marretas que mudam de forma significativa os embates, fazendo com que você não fique com a sensação de estar apenas apertando botões e repetindo a mesma tarefa à exaustão.

Ainda restritivo

Trazer para uma nova geração e um público bem mais amplo um dos grandes clássicos da Nintendo é um dos maiores feitos do novo Super Mario RPG
. Depois de exatos 27 anos, pude conferir essa preciosidade que as limitações da época me impediam. No entanto, é frustrante ver que, quase três décadas depois, algumas dessas restrições permanecem.

Como disse, o idioma foi uma barreira enorme para uma geração que não era tão familiarizada com o inglês. Isso mudou bastante nesse tempo, mas não há como negar que deixar um jogo tão divertido apenas em inglês ainda mantém aquela mesma barreira que, no passado, impediu que eu e tantas outras crianças pudessem conferir um clássico. Por mais que elas não dependam tanto mais das locadoras, não entender o que está sendo dito vai seguir afastando uma parte considerável do público.

Na crítica de
Super Mario Bros. Wonder

, elogiei como a Nintendo abraçou uma nova geração que estava chegando ao seu universo agora — principalmente após o filme de seu mascote ter conquistado um público que não era tão ligado aos games. E é triste ver que o lançamento seguinte ignorou tudo isso e voltou a dar as costas para quem não domina o inglês.

Minha filha de cinco anos se apaixonou pelo visual fofinho de Super Mario RPG
, mas sei que ela vai precisar de mais alguns anos para poder jogar e aproveitar de verdade o game, entendendo não só a história, mas também o que precisa fazer. É uma barreira que não faz mais sentido em 2023 e que, apesar de todos os apelos e campanhas dos fãs, a Nintendo segue mantendo por aqui.

Reparação histórica

O novo Super Mario RPG
é um excelente jogo, mas muito mais pelo fato de ser idêntico ao original, de 1996, do que por reinventar a roda. E isso está longe de ser um problema, já que ele realmente não tinha necessidade de mexer em um jogo que sempre foi tratado como obra-prima — e seria até um crime caso ousasse mexer demais em suas estruturas.

E, mais do que ser esse atestado de qualidade atemporal, a nova versão é também um lembrete de um tempo que não volta mais e que tampouco a Nintendo foi capaz de reproduzir. Com um tipo de humor bastante peculiar e uma liberdade para ousar e brincar com um personagem como Mario, ela mostra o quanto esse é um game diferenciado — e que bom que ele ganhou uma nova roupagem para que possa ser conferido por que, como eu, não pôde conferir décadas atrás.

Por isso mesmo, a falta de atenção para outros mercados com a falta de opção de idiomas se torna um entrave que vai na contramão daquilo que o lançamento do remake propõe. Não se trata apenas de agradar aos velhos fãs, mas de levar esse clássico inquestionável para novas pessoas — então por que impedir que não falantes do inglês também possam rir das situações que Mario, Geno e Mallow se metem?

Foi esse tipo de coisa que, há 30 anos, impediu que a dona da locadora do meu bairro se interessasse em colocar Super Mario RPG
nas minhas mãos. O remake resolveu esse problema para mim, sendo essa “reparação histórica” de cinco gerações de consoles atrás. Mas quantos pais vão deixar essa preciosidade de lado por saber que seus filhos não vão entender?

Ainda assim, deixando essa questão de lado, estamos falando de um game que beira a perfeição. Divertido, carismático e cheio de coração, ele acerta tanto em termos de narrativa quanto na sua jogabilidade e mostra o poder que um encanador tem de encantar apenas com seus pulos. Só seria melhor se mais gente pudesse aproveitar essa joia também.

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.

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