Sempre que um novo jogo baseado em algum anime é anunciado, a primeira coisa que vem à mente é o pensamento que ele será exatamente como todos os games anteriores baseados em um desenho japonês, mas com uma skin diferente. É impressionante como basta ser uma história de ação para que o jogo se resuma a combates em arena, com algumas cutscenes que contam um pouco do fio de trama que conecta a pancadaria.

São raros os títulos que conseguem aproveitar de verdade o que os animes têm para oferecer, ficando sempre apostando no mais seguro. Isso causa uma fadiga imensa sempre que um novo título é anunciado e, confesso, ter imaginado que seria a mesma situação com Sand Land
.

Baseado no mangá criado pela lenda Akira Toriyama
, que faleceu em março
, o jogo segue o príncipe dos demônios, Beelzebub, que ao lado de Thief e do Xerife Rao, parte em busca de uma fonte de água para acabar com uma seca que assola o país há séculos.

–
Podcast Porta 101
: a equipe do Canaltech discute quinzenalmente assuntos relevantes, curiosos, e muitas vezes polêmicos, relacionados ao mundo da tecnologia, internet e inovação. Não deixe de acompanhar.
–

Por não conhecer muito sobre a obra original, imaginei que seria mais um jogo em que a história é contada em cutscenes feitas às pressas, e cenas de ação que se resumem a um cenário fechado em que você aperta botões sem pensar direito.

Para minha surpresa, Sand Land
não somente é um jogo que vai por outro caminho, aproveitando a história do mangá, traduz de maneira excelente a arte característica dos trabalhos de Toriyama, e mostra como não é difícil fazer jogo bom baseado em anime.

Fazendo suas maldades valerem a pena

Sand Land
sabe que está adaptando um anime que tem humor, ação e seus personagens viajando para alcançar seus objetivos. Em vez de saltar pelas cenas de ação, a desenvolvedora ILCA resolveu usar isso para saber exatamente qual seria o estilo do jogo.

No controle de Beelzebub, você tem todo o mapa de Sand Land
para explorar, encontrando missões secundárias e segredos por onde passa. Entendendo que deixar um personagem pequeno correndo por um mapa imenso deixaria o jogo entediante rapidamente, a desenvolvedora coloca à disposição diversos tipos de veículos, que podem ser armazenados em cápsulas e trazidos para fora quando você precisar.

Durante toda a primeira parte do jogo, você usa um tanque roubado do exército, lutando contra soldados e monstros que encontra pelo caminho. Confesso que, nos momentos iniciais do game, estava achando que a ação ficaria apenas nos momentos em que o pequeno demônio sairia na mão contra inimigos, mas fiquei bastante contente ao perceber que boa parte das grandes batalhas do jogo são com veículos.

Não demora muito para você pegar o jeito do tanque, bot de força ou de pulo, para sair destruindo tudo o que surge pela frente. Pensando apenas no gameplay
, Sand Land
é uma das adaptações de um anime para os videogames que eu achei mais competente e gostosa de jogar.

Os controles são bons, não é difícil de se localizar no jogo, a variedade de veículos ajuda bastante e o cenário é amplo e cheio de coisas para fazer. Foi então que eu percebi que a desenvolvedora de Sand Land
tem um histórico que faz com que não seja por acaso que ele pareça diferente de outras adaptações de animes.

A ILCA é responsável por One Piece Odyssey
, jogo de RPG baseado no mangá e anime criado por Eiichiro Oda. Assim como Sand Land
, a ideia de fugir do simples gênero de pancadaria em arena faz com que o jogo se destaque. Mesmo com problemas, algo que os dois jogos têm, só o fato de buscarem fazer algo diferente com as propriedades mostra que pelo menos alguém está tentando.

Apresentando um novo universo para os jogadores

Sand Land
claramente pega inspiração na recente adaptação do mangá, que foi transformado em anime, atualmente disponível no Star+. A história já foi publicado no Brasil, mas é o tipo de mangá que, mesmo sendo do mesmo criador de Dragon Ball
, não é particularmente popular por nunca ter sido adaptado — pelo menos até agora.

Conhecia a história por conta do anúncio do anime e do jogo, mas não tinha um profundo conhecimento sobre seu universo e particularidades. Novamente, para a minha surpresa, isso não alterou em nada a minha experiência, já que Sand Land
conta tudo em um ritmo bastante satisfatório, inclusive trabalhando muito bem com as reviravoltas que surgem pelo caminho. Fora que, assim como as outras obras do saudoso Toriyama, sabe usar muito bem do humor para ficar ainda mais divertido.

Apesar de a dublagem em inglês não ter me agradado tanto quanto poderia, as cutscenes e os momentos de conversa entre os personagens durante a exploração de Sand Land ajudam a não somente desenvolver a história mas os próprios personagens. Você começa a se importar com o que vai acontecer com eles, uma prova da eficácia de sua narrativa.

Nem tudo é alegria, mas o saldo é positivo

Sand Land
é um bom jogo, ainda que tenha alguns problemas. O progresso de boa parte dos diálogos se faz apertando um botão, mas às vezes o game parecia não avançar nunca, esperando para que a próxima fala fosse carregada. Em vários momentos, pensei que não estava apertando o botão e, por isso, os personagens tinham parado de falar, mas era só o jogo esperando mais do que deveria.

Os menus do jogo também podem ser traiçoeiros, já que em alguns momentos, não fica muito claro o que você deve fazer, o que me fez perder muito mais tempo do que deveria para fazer uma ação simples de criar novas peças para construir um veículo novo.

Mesmo assim, o saldo final de Sand Land
é bastante positivo. É um ótimo jogo para os fãs do saudoso autor Akira Toriyama e para quem gosta de jogos de exploração e ação. Voltando ao que falamos no início, o fato de a ILCA ter tentado uma ideia diferente da pancadaria desenfreada apenas mostra que não precisa reinventar a roda para entregar boas adaptações de animes.

Chega a dar uma esperança que o futuro nos traga jogos de propriedades que não se resuma a cutscenes mal feitas, tela piscando e apertando o mesmo botão milhares de vezes.

Sand Land
está disponível para PS4, PS5, Xbox One
, Xbox Series S
/X e PC.

Leia a matéria no Canaltech
.

Trending no Canaltech: