Na manhã desta segunda-feira, 10 de março de 2025, a plataforma X (ex-Twitter) sofreu uma pane global. Milhões de usuários foram impedidos de acessar seus perfis, postar ou visualizar conteúdos. A explicação veio rápido: Elon Musk afirmou que se tratava de um “ataque cibernético massivo” e sugeriu que poderia ter sido orquestrado por um grande grupo ou até mesmo por um país. Nenhuma evidência foi apresentada.
Se tem algo previsível no mundo da tecnologia, além das quedas ocasionais de servidores, é a capacidade de Musk de transformar qualquer crise em um confronto épico entre ele e seus inimigos imaginários. Nos últimos anos, ele colecionou antagonistas: primeiro foram os reguladores do governo americano, depois a imprensa “parcial”, as ONGs ambientais, os sindicatos, a “mídia woke” e, mais recentemente, os chineses. Agora, um novo vilão emerge: uma possível força oculta que teria deliberadamente atacado a sua rede social.
É uma estratégia conhecida. Quando algo dá errado, Musk não perde tempo assumindo a responsabilidade ou falando sobre fragilidades técnicas. Ele muda o foco da conversa. E funciona: logo após sua declaração, teorias conspiratórias começaram a se espalhar, levantando suspeitas de que o ataque teria sido orquestrado por algum governo rival dos Estados Unidos. Isso aconteceu sem qualquer prova concreta, mas a dúvida já estava plantada.
Se observarmos os últimos anos, Musk opera cada vez mais como um ator geopolítico, mais próximo de um chefe de Estado do que de um CEO tradicional. Ele controla comunicações estratégicas via Starlink, se posiciona ativamente em guerras, influencia o mercado financeiro e tem acesso a uma quantidade absurda de dados pessoais e empresariais através de suas plataformas. O X pode ser “apenas uma rede social”, mas está no centro de debates políticos globais e tem servido como arena para narrativas de desinformação e manipulação.
Mas há um problema com esse estilo “Musk de governar”. Criar vilões imaginários pode ser eficiente para desviar atenção, mas tem consequências perigosas. Ele sabe que sua base de fãs se mobiliza com esse discurso beligerante. Ele joga com emoções primárias — medo, raiva, paranóia — e com isso mantém seu controle sobre a narrativa pública, ao mesmo tempo em que obscurece as reais falhas de gestão e tecnologia dentro de sua própria empresa.
O problema da queda do X não é apenas técnico. O que estamos vendo é a transformação de uma rede social em uma ferramenta de disputa ideológica e geopolítica, nas mãos de um homem que usa crises para alimentar sua própria narrativa de combate. A pergunta que fica não é “quem atacou o X?”, mas sim: até quando Musk conseguirá manter sua retórica de guerra sem que o mundo real sofra as consequências?