O Sistema Android de Alertas de Terremoto falhou e exibiu um alerta falso ao Brasil
Na madrugada desta sexta-feira (14), celulares vibraram, sirenes soaram e o medo se espalhou em São Paulo e no Rio de Janeiro. O motivo? Um alerta de terremoto disparado pelo Google, avisando sobre um tremor que nunca existiu.
O aviso sumiu tão rápido quanto apareceu, mas a pergunta ficou no ar: como uma empresa privada tem o poder de, literalmente, chacoalhar milhões de pessoas?
O erro veio do Sistema Android de Alertas de Terremoto, que usa acelerômetros de celulares para detectar vibrações e identificar possíveis abalos sísmicos.
Quando vários dispositivos percebem movimentações semelhantes, o sistema cruza os dados e, se achar necessário, dispara um alerta. O problema? Dessa vez, o algoritmo se enganou. Não havia terremoto. Só um erro de leitura—e um susto coletivo.
Se isso fosse um caso isolado, poderíamos chamar de falha técnica. Mas o Google não é um novato em errar com consequências massivas. Em 2009, um bug fez com que a busca classificasse todos os sites do mundo como perigosos.
Em 2013, uma queda de cinco minutos nos servidores da empresa derrubou 40% do tráfego global da internet. Em 2018, mudanças no algoritmo de busca apagaram empresas inteiras do mapa digital.
Mais recentemente, em dezembro de 2024, o Google exibiu incorretamente a cotação do dólar a R$ 6,38 durante o feriado de Natal, quando o valor correto era R$ 6,15. A empresa fornecedora dos dados, Morningstar, admitiu o erro e o Google suspendeu temporariamente a ferramenta de cotação.
A reflexão aqui não é uma questão de falha técnica. É sobre poder. Quando o Google erra, milhões sentem o impacto. Mas a quem ele responde? Diferente de governos ou instituições públicas, que prestam contas à sociedade, big techs operam com pouca transparência e controle externo. Elas tomam decisões que moldam nossa percepção do mundo, sem que tenhamos qualquer voz no processo.
O economista Yanis Varoufakis chama isso de tecnofeudalismo: um sistema em que grandes plataformas digitais assumem o papel dos antigos senhores feudais, enquanto nós, usuários, somos os servos.
Fornecemos dados, confiamos nossas rotinas e até nossa segurança a essas empresas. Mas, quando algo dá errado, não temos a quem recorrer. O Google pede desculpas, promete investigar, e seguimos em frente—até a próxima falha.
Defesa Civil negou o alerta de terremoto em São Paulo
O alerta de terremoto foi um lembrete de que o poder das big techs já passou do ponto de “apenas facilitar a vida”. Ele interfere diretamente em nossas emoções, em nossa segurança e até em nossa percepção da realidade. O que acontece quando um erro desse tipo afeta eleições? Mercados financeiros? Sistemas de saúde?
A pergunta central é: estamos confortáveis em viver em uma sociedade onde empresas privadas têm esse grau de influência? Se o tremor fosse real, o alerta teria sido um avanço tecnológico. Como foi um erro, revelou um problema muito maior: quando uma big tech treme, somos nós que sentimos o abalo.