quinta-feira, 19 de junho de 2025

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O fim da família Doriana

Existe uma ilusão coletiva que atravessou gerações e foi plastificada nas fotos de porta-retrato e, mais recentemente, nos feeds perfeitamente editados do Instagram: a tal da família Doriana.

A mesa posta, o pai amoroso, a mãe sorridente, as crianças bem vestidas — aquela cena que, na prática, quase sempre esconde rachaduras, silêncios, traições discretas e uma boa dose de hipocrisia social.

O episódio dessa semana do Inteligência Orgânica é uma desconstrução desse mito. E ninguém melhor pra isso do que Ana Cury, idealizadora do Fashion Weekend Kids e do Family Hub, alguém que há mais de duas décadas observa, como poucos, os bastidores das famílias — e não só nas fotos.

A inteligência orgânica é, no fim, sobre a gente reaprender a ser genteReprodução

A verdade que ela escancara é simples e desconfortável: a terceirização da criação dos filhos, o distanciamento emocional, os casamentos performáticos e as relações baseadas em aparência não começaram com a internet. Sempre existiram. O que mudou foi o palco. Antes, era no jantar de domingo. Agora, é no Instagram.

Ana fala sobre mães que largam os filhos no lobby do hotel pra subir sozinhas pro quarto. Sobre crianças berrando por atenção, enquanto a avó responde: “Tinha que ter uma placa dizendo que não pode pular”. Sobre adultos tão viciados nas próprias telas que já não sabem o que fazer com seus filhos no offline.

É duro? É. Mas é real.

E, curiosamente, no meio desse diagnóstico, Ana também traz um certo otimismo. Porque ainda é possível criar espaços de encontro real. Onde, por algumas horas, as pessoas se olham, se escutam e entendem que aplauso de avô vale mais que curtida.

Nosso papo também deixou claro que o colapso não é só da infância. É dos adultos. Uma geração inteira que só consegue se relacionar embriagada — de álcool, de dopamina digital, de validações vazias. Gente que não sabe mais sentar pra conversar sem uma taça na mão, um story postado e uma trilha de fundo.

A inteligência orgânica é, no fim, sobre a gente reaprender a ser gente. Fora do filtro. Fora do palco. E, principalmente, fora da lógica das aparências.

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