Papa Francisco
O falecimento do Papa Francisco, em 21 de abril de 2025, deixou o mundo em luto não apenas pela perda de um líder religioso profundamente humano e comprometido com os pobres, mas também por um visionário que soube dialogar com os desafios da modernidade. Seu pontificado foi marcado por reformas estruturais na Igreja Católica, uma abordagem pastoral inovadora e uma atenção especial aos dilemas éticos impostos pelo avanço tecnológico.
Francisco, o primeiro papa latino-americano e jesuíta, destacou-se como o pontífice mais tecnológico da história, utilizando plataformas digitais para aproximar a Igreja dos fiéis enquanto alertava para os perigos da dependência de telas, da desumanização nas redes sociais e da manipulação algorítmica. Suas reflexões sobre Inteligência Artificial( IA), fake news e o “paradigma tecnocrático” tornaram-se referências para debates globais sobre ética digital.
Neste artigo, eu abordo:
1. A modernização tecnológica do Vaticano sob Francisco – como ele transformou a comunicação da Igreja e enfrentou desafios digitais.
2. As principais declarações do Papa sobre tecnologia e humanidade – incluindo sua encíclica sobre o uso responsável da IA e os riscos da hiperconectividade.
3. O legado de Francisco para o futuro – como suas ideias podem guiar a sociedade em meio a revoluções tecnológicas.
O Vaticano na Era Digital: modernização e dilemas
O Papa tecnológico
Francisco herdou uma Igreja ainda hesitante diante da revolução digital, mas sua visão pastoral o levou a abraçar as novas tecnologias como ferramentas de evangelização e serviço. Entre suas contribuições estão:
– Presença nas redes sociais: com milhões de seguidores no Twitter (@Pontifex), ele usou plataformas digitais para disseminar mensagens de paz, justiça e esperança, traduzidas em múltiplos idiomas .
– Transmissões online: durante a pandemia de COVID-19, Francisco celebrou missas e orações transmitidas globalmente, garantindo que a fé não fosse interrompida pelo isolamento.
– Digitalização de arquivos: promoveu a modernização de documentos históricos do Vaticano, facilitando o acesso a pesquisadores e fiéis.
Ética e cibersegurança
O Papa não adotou a tecnologia de forma acrítica. Ele apoiou iniciativas de cibersegurança para proteger dados sensíveis da Santa Sé e alertou sobre os perigos do uso indevido da informação, como a vigilância massiva e a violação de privacidade .
Inteligência Artificial e o bem comum
Francisco reuniu-se com especialistas em IA, incluindo executivos do Vale do Silício, para discutir como a tecnologia deve servir à humanidade, não ao lucro desenfreado. Em discursos, criticou a “barbárie digital” — onde algoritmos privilegiam interesses econômicos sobre direitos humanos — e defendeu regulamentações globais .
As reflexões do Papa Francisco sobre tecnologia e humanidade
O perigo do “paradigma tecnocrático”
Em sua encíclica “Laudato Si’” (2015) e em discursos posteriores, Francisco condenou a mentalidade que coloca a tecnologia acima da ética. Ele argumentou que a obsessão por controle e eficiência leva à perda de valores fundamentais, como a solidariedade e o cuidado com os mais vulneráveis .
“Quando a tecnologia assume o lugar da sabedoria, o ser humano se reduz a um mero consumidor ou dado estatístico.”
Redes sociais: ódio e Fake News
O Papa foi um crítico ferrenho dos efeitos negativos das redes sociais:
– Desinformação: alertou que algoritmos podem amplificar notícias falsas, polarizar debates e minar a democracia.
– Erosão das relações humanas: criticou a substituição do diálogo face a face por interações virtuais superficiais, destacando que “a tela nos faz esquecer que por trás dele há pessoas reais”.
– Manipulação psicológica: denunciou como plataformas exploram dados pessoais para influenciar comportamentos, comparando-o a uma “ditadura algorítmica”.
Inteligência Artificial: serviço ou ameaça?
Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz (2024), Francisco dedicou-se exclusivamente à IA, destacando:
– Riscos: armamentos autônomos, discriminação algorítmica e desemprego em massa devido à automação.
– Valores éticos: defendeu que a tecnologia deve respeitar princípios como transparência, inclusão e dignidade humana.
– Chamado à regulamentação: urgiu governos e empresas a priorizarem o bem comum, não apenas a eficiência.
O Legado de Francisco: um chamado à humanização digital
O Papa não rejeitou a tecnologia, mas insistiu que ela deve ser guiada por uma “cultura do encontro”. Seu legado inclui:
1. Diálogo interdisciplinar: encorajou cientistas, teólogos e líderes políticos a colaborarem em soluções éticas.
2. Educação crítica: propôs que escolas e universidades ensinem a discernir entre informação e manipulação.
3. Tecnologia a serviço dos pobres: defendeu que inovações como a IA devem reduzir desigualdades, não aumentá-las.
Um farol em tempos de incerteza digital
A morte do Papa Francisco encerra um pontificado que equilibrou tradição e modernidade. Suas reflexões sobre tecnologia permanecem urgentes: em um mundo onde máquinas “aprendem”, mas não amam, sua voz ecoa como um lembrete de que o progresso só é válido se promover a fraternidade.
Como ele mesmo disse:
“A inteligência artificial pode calcular, mas só o coração humano sabe sonhar.”
Seu desafio persiste: garantir que a revolução digital não desfigure a essência do humano, mas a eleve.
Meus sentimentos à todos que de alguma forma identificam-se com os ensinamentos desse grandioso Pontífice, especialmente aos membros da fé católica ao redor do mundo. Quanto ao futuro da Igreja, meu desejo Franciscano de Paz e Bem!
Gilberto Lima Jr. é Palestrante, Futurista e Humanista Digital. Atua no Board de Empresas no Brasil e no Exterior.