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MicroRNAs, engrenagens do funcionamento extremamente complexo do genoma

Joseph Prezioso

O Vencedor do Prêmio Nobel de Medicina, Victor Ambros, durante uma coletiva de imprensa na Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts, em Worcester, Massachusetts, em 7 de outubro de 2024

Joseph Prezioso

A descoberta dos microRNAs, premiada nesta segunda-feira (7) com o Nobel de Medicina, evidencia o funcionamento extremamente complexo do genoma.

Ainda é incerto, no entanto, até que ponto esses conhecimentos podem permitir o desenvolvimento de tratamentos médicos eficazes.

– O que são os microRNAs? –

São fragmentos de ácido ribonucleico (RNA), presentes nas células e sintetizados pelo organismo a partir de genes contidos no DNA.

Os microRNAs não desempenham o papel mais conhecido do RNA, que é o de intermediário entre os genes e a produção das inúmeras proteínas indispensáveis para o funcionamento de um organismo, de onde vem o seu apelido de RNA mensageiro.

Os microRNAs fazem parte do chamado RNA “não codificante”, ou seja, não são traduzidos em proteínas. Mas isso não significa que não desempenhem um papel.

A descoberta dos microRNAs nos anos 90 por Victor Ambros e Gary Ruvkun — ambos agraciados com o Nobel nesta segunda-feira — demonstrou que o genoma não era uma simples linha reta entre o DNA, o RNA e as proteínas.

– Como funcionam os microRNAs? –

“A descoberta dos microRNAs trouxe um nível adicional de complexidade ao revelar que regiões que pensávamos que não codificam também desempenham um papel na regulação genética”, explicou Benoît Ballester, pesquisador do Instituto francês de pesquisa médica Inserm e especialista em genoma não codificante.

Esses microRNAs interferem no funcionamento do RNA mensageiro: “É como um velcro que se adere a ele e impede que seja traduzido em proteínas”, afirma Ballester. A consequência é que certos genes são inibidos enquanto outros são intensificados.

No entanto, não devemos imaginá-los como uma espécie de parasitas que prejudicam o bom funcionamento do genoma, mas sim como “parte integral da regulação do nosso genoma, algo tão importante quanto a tradução de um gene em proteína”, enfatizou.

– Por que isso é tão interessante? –

A descoberta em 1993 do primeiro microRNA por Victor Ambros não foi imediatamente aclamada como um grande avanço. O pesquisador era especialista em certos vermes e foi em um deles (um verme redondo de um milímetro, chamado C. elegans) no qual ele identificou a existência de microRNAs.

“Ninguém realmente nos deu atenção”, recorda Eric Miska, geneticista da Universidade de Cambridge, admitindo que foram necessários anos para que as pessoas vissem algo além de “algo estranho sobre os vermes”.

Foi em 2000 que Gary Ruvkun identificou a existência de mecanismos semelhantes em humanos, abrindo caminho para uma área completamente nova.

“Esse minúsculo pedaço de RNA, tão importante para o desenvolvimento desse pequeno verme, também está presente em nós e desempenha um papel essencial, pois previne o surgimento de tumores”, acrescentou Miska.

– Quais os benefícios concretos? –

Embora o conhecimento sobre os microRNAs já permita uma compreensão muito melhor do genoma, ainda é incerto se poderão servir como uma alavanca para curar doenças.

Várias empresas de biotecnologia investem há anos nessa área. Trata-se de um campo especialmente promissor contra o câncer, com a ideia de estabelecer tratamentos muito específicos.

Esta pesquisa faz parte de um processo mais amplo para entender como os tumores podem se desenvolver de maneira diferente em nível molecular entre diferentes pacientes.

No entanto, contra o câncer ou outras patologias, ainda não há “nada que se aproxime de uma aplicação real”, afirmou à imprensa Gunilla Karlsson Hedestam, professora do Instituto Karolinska, durante o anúncio do Prêmio Nobel em Estocolmo.

Mas, sem necessariamente convertê-los na base de um tratamento, muitos pesquisadores esperam utilizá-los primeiro como um “biomarcador”, ou seja, uma ferramenta de diagnóstico.

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