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Lucidez antes da morte em quem tem demência intriga medicina

Fidel Forato

Lucidez antes da morte em quem tem demência intriga medicina

A demência é provocada pelo declínio cognitivo do cérebro
. Em outras palavras, o paciente começa a ter dificuldades para se expressar, esquece das coisas, não reconhece mais os familiares e pode ficar desorientado, além de apresentar outros inúmeros sintomas. No entanto, a ciência e a medicina têm identificado algo curioso envolvendo estes indivíduos: a lucidez terminal. É como se as funções cognitivas e a memória voltassem temporariamente, como lampejos, antes da morte para uma última conversa ou despedida.

Em média, 43% das pessoas apresentam este tipo de lucidez nas 24 horas que antecedem a morte. Considerando o intervalo de uma semana antes da partida, a retomada temporária das funções cerebrais é observada em 84% dos pacientes, segundo um pequeno estudo publicado na revista The Journal of Nervous and Mental Disease
.

As causas do momento de lucidez antes da partida em pessoas com demência ainda são um mistério, mas relatos dessa experiência são compartilhados há mais de 200 anos. Apesar dos relatos, a questão ainda é encarada com bastante ceticismo por alguns.


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O que é lucidez terminal?

Embora a lucidez terminal possa ocorrer em pacientes com demência, incluindo aqueles afetados pela doença de Alzheimer
, esta não é a única condição a ser associada com a retomada das capacidades intelectuais de forma temporária.

Episódios do tipo já foram observados também em pacientes com esquizofrenia, abscessos cerebrais, tumores no cérebro e após acidente vascular cerebral (AVC)
debilitante, por exemplo. Em todos esses casos, o cérebro deixa de funcionar da maneira esperada, mas, após algo acontecer, a pessoa experimenta breves e raros momentos de lucidez.

A condição é relativamente esperada antes da pessoa morrer, mas este tipo de lucidez não é obrigatoriamente um presságio de morte — há relatos dessa experiência que ocorreram seis meses antes do óbito. Por isso, há quem sugira usar a expressão lucidez paradoxal, já que é um paradoxo (uma aparente contradição) uma pessoa com doença neurodegenerativa avançada ter este nível de lucidez.

Independente do momento em que a experiência acontece, a lucidez pode surpreender os familiares, os amigos e os cuidadores. Afinal, a pessoa consegue desenvolver conversas profundas, compartilhar memórias já esquecidas, fazer piadas ou até pedir uma comida que gosta.

Episódios de lucidez intrigam a medicina

Ao longo da história, diferentes hipóteses já foram relacionadas com os episódios de lucidez terminal, como a ativação de gatilhos a partir da música ou da presença de entes queridos — as evidências ainda não confirmam essas ideias.

Outra possível explicação está numa suposta mudança no comportamento da atividade cerebral antes da morte, mas, novamente, faltam evidências concretas de que isso ocorra.

Dificuldade em estudar o fenômeno

Um dos fatores que explicam todo o mistério por trás da lucidez paradoxal é a dificuldade em estudá-la. Afinal, “nem todas as pessoas com demência avançada terão episódios de lucidez antes da morte”, explicam as pesquisadoras da Universidade Monash (Austrália), em artigo na plataforma The Conversation
. Por outro lado, quando ocorrem, os episódios são imprevisíveis, sem um gatilho específico conhecido.

“Como a lucidez terminal pode ser um momento de alegria para quem testemunha o episódio, seria antiético que os cientistas usassem esse tempo [precioso] para conduzir as suas pesquisas”, acrescentam as pesquisadoras Yen Ying Lim e Diny Thomson, da universidade australiana.

Sem uma explicação científica conhecida, os familiares buscam interpretações para estes episódios, com base em suas crenças. Neste caso, há quem acredite que essa experiência é permitida por um elo com outro plano. De forma menos encantada, outros indivíduos encaram o acontecimento como um último esforço daquela pessoa se despedir, concentrando as energias.

“É importante notar que estes episódios de lucidez são temporários e, infelizmente, não representam uma reversão da doença neurodegenerativa”, avisam as pesquisadoras.

Até o momento, a ciência também não descobriu como curar estes quadros que afetam o cérebro
, como os diferentes tipos de demência. As atuais linhas de tratamento buscam desacelerar este processo e proporcionar qualidade de vida aos pacientes, de diferentes formas.

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.

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