Raphael Rossatto, dublador, cantor e ator em entrevista ao podcast iGeek na BGS.
O podcast iGeek produzido pelo Portal iG e apresentado por Raphael Silva recebeu nesta quinta-feira (9), o dublador, cantor e ator Raphael Rossatto, diretamente da Game Show Brasil 2025.
Em um bate-papo animado, o iG conversou com Raphael Rossatto, que compartilhou o início de sua trajetória como dublador, curiosidades do mundo da dublagem e também relembra como foi dar voz a personagens mundialmente conhecidos.
Quem é Rapahel Rossatto?
Logo no início da conversa, Raphael Rossatto se apresenta ao público que talvez ainda não o conheça pessoalmente, ou que apenas reconheça sua voz, e relembra alguns dos personagens marcantes que já interpretou, ajudando os espectadores a fazerem essa conexão.
“Eu sou artista desde berço. Nasci em uma família circense e morei no circo até os 20 anos. Nesse meio tempo, fiz teatro, cantei, tive banda e comecei a dublar aos 22 anos” , conta.
“Meu primeiro trabalho foi em Enrolados, da Disney, fazendo o Flynn Rider nas partes cantadas, o José Bezerra. Quem dublou foi o Luciano Huck, mas eu fiz a parte musical. Depois vieram o Kristoff, de Frozen, o Senhor das Estrelas, de Guardiões da Galáxia, o Alexios, de Assassin’s Creed Odyssey, o Ethan Winters, de Resident Evil Village e o Jesse, de The Last of Us”.
Rossatto ainda lembra com entusiasmo de papéis marcantes no cinema e nos games: “Tem muita coisa legal. Dublei o Will Traynor em Como Eu Era Antes de Você, participei de A Culpa é das Estrelas e, claro, não poderia deixar de citar o Mario!”.
O início de tudo
Questionado sobre o que o motivou a seguir carreira na dublagem, Raphael Rossatto compartilha como tudo começou, uma trajetória que, segundo ele, surgiu de maneira inesperada.
“É como eu falei, eu já vim de família circense e a arte sempre esteve enraizada, mas a dublagem ela veio de um lugar que eu não esperava. Eu nunca fui fã de dublagem, apesar de sempre gostar de filme dublado desde criança, eu nunca tinha pensado no que era dublagem de fato, né?”.
Ele relembra que tudo aconteceu durante o período em que trabalhava com o pai em casas de festas, após a família deixar a vida circense. Do nada, alguém se aproximou e fez a pergunta que mudou tudo: “Sua voz é bonita. Eu já ouvi sua voz de algum lugar. Você é dublador?”.
A coincidência virou ponto de virada. Raphael comenta que, ao conversar com o pai sobre o episódio, o universo parecia conspirar a favor:
“Foi uma parada que o universo conspirou naquele momento. Eu comentei com ele que tinham falado comigo e, no dia seguinte, ele viu na televisão um anúncio de um curso de dublagem que ficava dois quarteirões da casa de festas que a gente trabalhava. Aí eu fui fazer uma aula experimental e me apaixonei”.
Após seis meses de curso, o professor o levou a um estúdio para conhecer o ambiente profissional, e o talento foi rapidamente reconhecido.
“Já tive a sorte de eles gostarem de mim. Me chamaram pra fazer o teste para Enrolados. E a partir daí tudo fluiu. Enrolados foi a grande porta de entrada para mim, mas tudo começou com alguém falando ‘eu acho que já ouvi sua voz em algum lugar’”.
Super Mario
Questionado pelo entrevistador Raphael Silva se havia algum personagem que considerasse seu “xodó” entre todos os que já dublou, Raphael Rossatto admite que a resposta não é simples.
“É difícil, porque todo dublador vai falar que é como se fossem nossos filhotinhos, né? Mas eu tenho muito carinho pelo Mario”.
Com um sorriso, ele explica que o famoso encanador da Nintendo ocupa um lugar especial em sua trajetória:
“O Mario é o Mario, não tem jeito. Eu jogo desde sempre. Então, é um personagem que nunca na minha vida eu pensei na possibilidade de poder dublar. Pra mim era uma coisa impossível. Não impossível, mas era uma coisa impensável”.
Raphael também conta sobre a primeira vez que foi chamado para dublar o aventureiro de chapéu vermelho.
Ele diz que ao ouvir a voz original do personagem, sentiu que algo não estava certo:
“Era muito distante da voz do Mario que a gente conhece. […] E na hora de gravar, eu pensei: ‘Putz, isso não bate no meu coração’. Aí falei com o Manolo e perguntei se podia propor uma coisa. Ele aceitou”.
Raphael diz que decidiu seguir o instinto de fã e criou a versão que o público brasileiro conhece hoje em dia, com o sotaque italiano e toda a energia do personagem.
“O Manolo gostou e disse: ‘Rafael, ficou muito legal, você quer manter assim?’ E eu disse: ‘Quero’. Aí teve uma briga, a Universal não gostou a princípio, me reprovou no teste. E eu fiz o teste de novo. Até que a Nintendo bateu na porta e falou: ‘Não, é esse ai. É esse o Mario que a gente quer’”.
Raphael conta que foi uma experiência marcante e pessoal:
“Foi uma coisa de fã, sabe? Eu sou muito fã do Mario e não queria ir ao cinema para ouvir algo que não fosse o Mario de verdade. Como o Charles Martinet já estava se aposentando, acho que foi também uma forma de homenagear.”
Ele ressalta também que o trabalho brasileiro teve um toque especial:
“Acho que só o Brasil, e se não me engano, a Itália, fez essa voz mais caricata do Mario. O resto do mundo fez algo mais neutro, igual o Chris Pratt (voz do Mario no original) fez no original”.
Outras carreiras além da dublagem
Raphael revela que, além da dublagem, também se dedica à música e atualmente integra duas bandas.
A primeira é a Duck Tales, que ele define como “mais irreverente” e formada em parceria com o também dublador Fred Mascarenhas. Segundo ele, o grupo apresenta um repertório variado: “tocamos músicas de filmes, animes, fazemos paródias… é uma mistura de coisas”.
Raphael descreve o projeto como “um show para a galera ir se divertir, pular à beça e rir”.
A segunda banda, ainda inédita nos palcos, é um tributo ao Bon Jovi chamada Bad Name. O dublador adianta que o show de estreia acontecerá no dia 23 de novembro deste ano, no Calabouço, no Rio de Janeiro.
Durante a entrevista, o apresentador Raphael Silva também perguntou sobre o trabalho do artista como streamer. Ao comentar suas transmissões, Rossatto explicou:
“A minha carreira de cima era uma coisa muito louca, porque eu quase não tenho muito tempo para streamar. Então fica sendo uma coisa meio que um hobby mesmo. E eu faço bem esporadicamente. A galera até me cobra, mas é que realmente às vezes falta tempo, né?”
Ele contou que começou a fazer lives em 2020, durante a pandemia, jogando títulos como The Last of Us (partes 1 e 2). “Também tinha o dia do jogo retrô” , relembra, mencionando Chrono Cross, que cita como seu jogo favorito e Chrono Trigger.
Após uma pausa com o retorno da rotina de trabalho, ele conta que retomou as transmissões no início deste ano. “No momento eu estou jogando Silksong” , acrescenta.
Universo Marvel
Ao ser questionado sobre como é fazer parte do Universo Marvel, especialmente integrando o grupo dos Vingadores, Raphael comenta:
“Dublei todos os Guardiões, Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato, e Thor: Amor e Trovão também”, relembra o dublador, referindo-se aos filmes em que deu voz ao personagem Peter Quill (Senhor das Estrelas), interpretado por Chris Pratt.
Ele descreve a experiência como algo grandioso: “Fazer parte desse universo da Marvel é maravilhoso. É uma parada que eu também nunca imaginei”.
Raphael Rossatto revela que, no início, nem ele mesmo conhecia muito bem os Guardiões da Galáxia, considerados à época “o lado C da Marvel” . No entanto, o sucesso foi bem surpreendente:
“Foi uma grata surpresa. A escolha dos atores, o enredo, as piadas na medida certa muita gente fala que são os ‘filhos amados’ da Marvel. E eu sou muito feliz por ter conseguido dublar o Chris Pratt e fazer parte desse universo”.
Ele ainda destaca a grande dimensão dos filmes dos Vingadores:
“Guerra Infinita e Ultimato foram mais que filmes, foram eventos cinematográficos. Fazer parte desse momento histórico foi, e ainda é, algo muito especial pra mim”.
Como é a dublagem na prática?
Rossatto também explica como funciona o processo de dublagem na prática, especialmente em produções de grande sigilo, como os filmes dos Vingadores. Ele revela que, nesses casos, os estúdios impõem restrições:
“Muitas vezes, em produções muito sigilosas como Vingadores, a tela é toda preta e só aparece uma bolinha em volta da boca do personagem, indicando quando ele fala”.
Ele conta que essa limitação torna o trabalho bem mais desafiador:
“É horrível, porque você não vê nada. Mesmo com as orientações do diretor, é difícil, já que a dublagem não é só som, é imagem também. A gente dubla expressão facial, corporal, tudo junto”.
Rossatto ressalta que, nesses casos, nem mesmo o diretor de dublagem recebe muitas informações sobre o conteúdo para ser dirigido.
Segundo o dublador, esses casos são exceções, mas mesmo em produções mais abertas, o elenco de voz normalmente não tem acesso prévio ao conteúdo:
“Na maioria das vezes, a gente chega sem saber nada. O diretor te explica rapidamente quem é o personagem, por exemplo: ‘Você vai dublar o Peter Quill, um humano raptado na infância e criado por saqueadores intergalácticos. Boa sorte!’, e pronto, você entra no estúdio”.
Rossatto reflete que essa dinâmica tem dois lados:
“Por um lado, é bom, porque você se emociona genuinamente ao longo da história, vivendo aquilo pela primeira vez. Por outro, é ruim, porque não tem tempo de preparação, como o ator do filme geralmente tem. Às vezes, sei lá, você queria se preparar melhor para uma cena de muita emoção, mas funciona justamente por estar te pegando de surpresa”.
Desafios da dublagem
Ao longo da entrevista Raphael também reforça a importância da atuação para a dublagem: “É por isso que pra ser dublador você tem que ser ator. Não basta só chegar lá e colocar a voz”.
Ele explica que a função vai muito além de reproduzir falas:
“Acho que talvez seja até muito mais difícil porque você está fazendo uma interpretação em cima de uma interpretação que já existe. E você não pode deixar que o idioma original influencie a melodia da sua voz. Então, é um trabalho difícil. Tem que ser ator e ter feito um bom curso de dublagem mesmo para compreender essas diferenças e não se deixar contaminar”.
Raphael dá um exemplo prático: “O americano canta muito do jeito que fala, então ele termina para cima. Por exemplo: ‘how are YOU?’ e se a gente falar: ‘como vai VOCÊ?’ vai ficar esquisto, né? É por isso que a bagagem de ator é legal para isso, para não cair nessas armadilhas”.
Próximos projetos
Questionado sobre seus próximos projetos, Rossatto comenta:
“Tem Wicked 2, que estreia em novembro se eu não me engano. Eu dublo o Fiyero. É um filme super hypado que a galera espera muito. É o único que eu posso falar porque é uma continuação, então a galera já sabe que sou eu, né? E tem o Super Mario ano que vem também, que eu espero muito que eu volte a dublar o Mario. Tem noventa e nove por cento que sim, mas nunca se sabe, né? Mas espero muito”.