Não se fala sobre outro assunto. Tudo virou IA desde 2022. A cada dia vemos novos lançamentos, modelos, recursos e investimentos bilionários. Muitos chegam a se questionar se não se trata de hype. Um daqueles momentos em que uma pauta domina amplamente, projeções futuras costumam ser excessivamente otimistas e suspende-se o julgamento quanto aos potenciais pontos fracos. A diferença entre hype e uma tendência é a capacidade de entregar resultados mensuráveis. E nesse ponto é seguro afirmar que a IA tem conseguido justificar o rótulo de uma tecnologia tão transformadora quanto a própria internet, seja no aumento de produtividade ou ao possibilitar que pessoas realizem tarefas com pouco ou nenhuma expertise em uma determinada área apenas descrevendo o escopo de entrega (prompt). Mas, nem tudo são flores.

Existe, sim, uma série de riscos e resistência na adoção da IA que precisam ser avaliados por qualquer gestor que pretenda acelerar a adoção em seu negócio de forma segura. Neste artigo gostaria de destacar alguns pontos primordiais:

1) Privacidade e segurança dos dados

O grande diferencial de cada organização na era da IA não é o uso dos modelos disponíveis, mas, o uso da IA com os dados que apenas aquela empresa possui. Ou seja, em alguma medida o jogo continua o mesmo, vence quem tem os melhores dados.O que mudou é que agora a distância entre dados brutos e insights que permitem tomadas de decisão ficou muito mais curta com a IA. E é onde reside o primeiro risco.

Ao compartilhar dados sensíveis com plataformas que os utilizam para treinamento, ou ainda pior, onde eles não são anônimos, corre-se o risco não apenas de infringir a LGPD, mas, de sofrer severas punições e uma verdadeira crise com seus clientes.

Grandes empresas estão adotando IAs que funcionam de forma privada justamente por esse motivo. É preciso investir em governança da IA, treinar todos que terão acesso a esse tipo de tecnologia e ter muito cuidado na hora de usar qualquer plataforma, especialmente, quando é feito o upload de informações confidenciais.

2) A adoção da IA é completamente diferente de qualquer software

Já parou para pensar como a IA é utilizada em uma empresa é completamente diferente de qualquer outra geração de software nas últimas décadas? Digo isso porque ao adotar um ERP ou um CRM, por exemplo, normalmente escolhe-se uma plataforma única para toda a empresa, a decisão é top-down, existe um treinamento padrão e uma fase de transição ou implantação para toda a organização.

Tudo isso é diferente com a IA. Temos distintos LLMs disponíveis e que entregam níveis diferentes de resultados para variadas demandas. Pode ser que a IA de determinada empresa seja a mais indicada para o departamento de marketing e não entregue bons resultados para o setor de operações. É preciso avaliar, testar e decidir segundo o contexto de uso. Isso cria uma camada de complexidade maior. Além disso, a descoberta de como a IA pode ajudar nas tarefas de cada profissional tem sido muito particular e individual, vemos uma adoção muito mais Ad hoc do que top-down.

Por essa característica é essencial a troca de boas práticas e descobertas entre membros das equipes.

Certamente nem todos estarão usando as mesmas ferramentas ou obtendo o mesmo nível de resultado. Apenas com essa troca será possível encontrar o melhor caminho.

3) Resistência

Apesar do entusiasmo com o tema, é preciso reconhecer a força lei da difusão da inovação que continua atualíssima mesmo com a chegada da IA. Os early-adopters correram para testar o ChatGPT ainda em 2022. Muitos começaram a ver notícias a respeito e apenas entraram em contato ao longo de 2023. Outros ainda não acreditam que a IA possa ser útil ou aumentar seu desempenho. Nada de novo. Estamos no início dessa era e o mesmo aconteceu com a internet, com os smartphones e as redes sociais. O importante é tentar identificar essas resistências e encontrar formas para mitigar as objeções. Normalmente a resistência é uma reação bastante natural com o desconhecido. Quando não existe conhecimento e domínio, tende-se a encarar a novidade como uma ameaça ou rechaçá-la como desnecessária. Apenas com o incentivo à descoberta é que se melhora esse cenário. Importante frisar também que muitos usam superficialmente e não percebem resultados imediatos e podem minar a iniciativa.