A crise na OpenAI continua: uma carta aberta dos funcionários da empresa pede para que o conselho de diretores renuncie ao cargo e traga de volta o ex-CEO, Sam Altman, e o ex-presidente, Greg Brockman. Caso contrário, essas pessoas garantem que há uma proposta para trabalharem na nova divisão de IA liderada por Altman na Microsoft.
De acordo com a Wired, o documento foi assinado por mais de 600 dos 770 funcionários da criadora do ChatGPT. O texto acusa o quadro de diretores de não oferecer evidências escritas sobre a demissão de Sam Altman, que ocorreu na última sexta-feira (17) e afirma que “a conduta deixou claro que não possuem a competência para supervisionar a OpenAI”.
Outra parte do documento revela que o time de liderança da OpenAI tentou cooperar com a diretoria e oferecer o melhor resultado possível. No entanto, a troca da CEO interina Mira Murati por Emmett Shear também atrapalhou o processo e foi “contra os melhores interesses da companhia”, de acordo com os profissionais.
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Um print da carta publicado pela jornalista Kara Swisher mostra alguns nomes conhecidos da empresa que assinaram o documento. O primeiro é o de Mira Murati, CTO da OpenAI que assumiu o cargo de Altman interinamente após a saída do executivo.
O segundo é o de Ilya Sutskever, co-fundador do projeto, cientista-chefe e membro do quadro de diretores — alguns rumores até apontam que a demissão foi resultado de desavenças entre Sutskever e Altman, que culminaria num “golpe” interno para minar o então CEO.
Breaking: 505 of 700 employees @OpenAI
tell the board to resign. pic.twitter.com/M4D0RX3Q7a— Kara Swisher (@karaswisher) November 20, 2023
O diretor, inclusive, comentou no X (antigo Twitter) que se arrependia das decisões tomadas no quadro e que “nunca quis prejudicar a OpenAI”.
I deeply regret my participation in the board’s actions. I never intended to harm OpenAI. I love everything we’ve built together and I will do everything I can to reunite the company.
— Ilya Sutskever (@ilyasut) November 20, 2023
Veja a nota completa, traduzida para o português:
Para o Quadro de Diretores da OpenAI,
A OpenAI é líder mundial em IA. Nós, funcionários da OpenAI, desenvolvemos os melhores modelos e abrimos campo para novas fronteiras. Nosso trabalho em segurança e controle de IA molda as normas globais. Os produtos que construímos são usados por milhões de pessoas ao redor do mundo. A companhia em que trabalhamos e valorizamos nunca esteve numa posição tão forte, até agora.
O processo no qual vocês demitiram Sam Altman e removeram Greg Brockman do quadro prejudicou todo esse trabalho e minou nossa missão e empresa. Sua conduta deixou claro que vocês não tinham a competência para supervisionar a OpenAI.
Quando nós inesperadamente soubemos da decisão, o time de liderança da OpenAI atuou rapidamente para estabilizar a empresa. Eles ouviram suas queixas com cuidado e tentaram cooperar em todas as frentes. Apesar de muitos pedidos de fato específicos sobre suas alegações, vocês nunca mostraram nenhuma evidência escrita. Eles também perceberam que vocês não eram capazes de carregar com suas responsabilidades e estavam negociando em má-fé.
O time de liderança sugeriu que o caminho mais estável — aquele que melhor serviria nossa missão, empresa, investidores, empregados e público — seria que vocês pedissem demissão e colocassem no lugar um quadro qualificado para liderar a empresa com estabilidade.
A liderança trabalhou com vocês para encontrar um desfecho mútuo. Mesmo assim, dois dias após a decisão inicial, vocês novamente substituíram a CEO interina Mira Murati contra os melhores interesses da empresa. Vocês ainda informaram a liderança que permitir que a companhia fosse destruída “seria consistente com a missão”.
Suas ações tornaram claro que vocês são incapazes de supervisionar a OpenAI. Nós não podemos trabalhar com pessoas que não possuem competência, julgamento e zelo pela nossa missão e funcionários. Nós, do abaixo-assinado, podemos optar por sair da OpenAI e ingressar na nova subsidiária anunciada pela Microsoft liderada por Sam Altman e Greg Brockman. A Microsoft nos garantiu que existem vagas para todos os funcionários da OpenAI nessa subsidiária caso queiramos participar. Tomaremos essa decisão de forma iminente, a não ser que todos os membros do quadro atual peçam demissão e o conselho anuncie dois novos diretores independentes, como Bret Taylor e Will Hurd, e recontrate Sam Altman e Greg Brockman.
Entenda o ocorrido
A OpenAI pegou muita gente de surpresa com a demissão do CEO Sam Altman. Em nota, os diretores revelaram que o executivo “não era consistentemente sincero nas suas comunicações com o conselho” e colocou Mira Murati como interina no cargo.
Investidores da OpenAI, como a Microsoft, tentaram pressionar o conselho para que a decisão fosse revertida, mas sem sucesso. Então, a empresa fundada por Bill Gates anunciou a contratação de Altman
como CEO de uma nova equipe de pesquisa em IA na manhã desta segunda-feira (20).
Internamente, a decisão não foi bem recebida pela falta de clareza das informações: o presidente da companhia, Greg Brockman, saiu do cargo, também foi contratado pela Microsoft e ainda levou outros funcionários para a empresa.
A OpenAI fez mais uma movimentação com a chegada de Emmett Shear para o cargo de CEO interino
, substituindo Mira Murati. Shear é o co-fundador da Twitch, teve a mesma função de liderança na plataforma de streaming até 2023 e já anunciou que vai iniciar uma investigação para apurar o que aconteceu com a saída de Altman.
Vale lembrar que a OpenAI opera em duas frentes: uma organização sem fins lucrativos, chamada Open AI Inc., com o respectivo quadro de diretores que toma decisões com base na missão do projeto; e uma subsidiária com lucros limitados, chamada OpenAI LP. Essa empresa precisa seguir todas as decisões do conselho.
Ainda não há um posicionamento oficial da diretoria da OpenAI sobre o assunto, mas a pressão está ainda maior com a possibilidade de demissão da maioria dos funcionários. Como resultado, boa parte das lideranças e da equipe poderia partir para a Microsoft, que já é uma das investidoras no projeto e poderia ampliar a força sobre a empresa.
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