Ao analisar o DNA
de pessoas enterradas na Inglaterra antes e depois da Peste Negra, surto de bactéria que eliminou mais de 30% da população europeia em meados do século XIV, pesquisadores descobriram que a doença não causou, ao contrário do que se pensava antes, uma mudança genética ou na imunidade dos seres humanos. Na verdade, há pouca evidência disso, e estudos mais profundos terão de comprovar o achado, tanto a partir de outros restos quanto na reavaliação de estudos passados.
Arqueólogos e cientistas moleculares e genéticos participaram da pesquisa, que avaliou os genomas de 275 indivíduos enterrados em Cambridgeshire, cidade no Reino Unido. Foram buscadas variações genéticas nas populações entre o período anterior e o posterior à ocorrência da peste bubônica, bem como alguma mudança na suscetibilidade dos sobreviventes a doenças genéticas.
A Peste Negra e o DNA
Em estudos anteriores, cientistas já correlacionaram a incidência da bactéria causadora da peste bubônica ( Yersinia pestis
) à evolução de genes responsáveis pela imunidade
em algumas populações. No estudo britânico, no entanto, não foram encontradas variações genéticas grandes quanto à imunidade contra a bactéria pandêmica
ou mesmo diversidade dos genes.
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Como diferentes genes significam diferentes respostas à doença e esta eliminou grande parte da população
, esperava-se ver uma queda na diversidade, o que não foi visto na pesquisa. É possível, segundo os cientistas, que a resposta imune contra a Y. pestis
possa envolver diversos caminhos biológicos ainda desconhecidos, e, justamente por isso, seria difícil tirar conclusões quanto às mudanças que a doença causou. Ela até mesmo foi usada como arma biológica pelos mongóis
.
O contexto social não deixa de ser importante em relação à Peste Negra
— os indivíduos mais afetados eram os mais pobres, que apresentavam desnutrição e outras doenças que podiam resultar em alguma comorbidade, sucumbindo muito mais fácil do que populações abastadas e com cuidados de saúde à disposição. Houve, por exemplo, uma queda significativa nos casos de hanseníase na Europa medieval, já que os que sofriam da doença e os propensos a ela foram mais afetados pela peste bubônica.
O estudo em Cambridgeshire mostrou detalhes da composição social da cidade, revelando mudanças na ancestralidade genética a longo prazo por conta de migrações de pessoas vindas dos Países Baixos, Noruega e Dinamarca, por exemplo. Os resultados não querem dizer que a Peste não teve impacto na variação genética do local, mas indicam que a questão é mais complexa do que parece.
Outros estudos podem, por exemplo, ter atribuído mudanças genéticas à pandemia medieval
sem considerar outros fatores, como migrações ou outras doenças.
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