Resumo: O impacto da repentina chegada da startup chinesa de IA generativa Deepseek foi meteórico. Na mesma medida em que varreu das bolsas de valores mais de 1 trilhão de dólares em market cap (valor de mercado) das principais empresas do setor, também revisitou uma série de questionamentos em relação a temas como eficiência, capital alocado e vantagem competitiva. Neste primeiro artigo aqui no iG, ressalto alguns aprendizados que esse episódio evidencia.
A corrida da IA é uma maratona que mal começou
Quando o ChatGPT surgiu no final de 2022 muitos questionaram rapidamente se as big techs não estavam atrasadas, especialmente, aquelas que seriam mais afetadas como o caso do Google, uma vez que as possibilidades que a IA generativa propicia mudam completamente a forma como as pessoas interagem com a tecnologia. Google, Meta, Microsoft, Apple e outras reagiram e rapidamente incorporaram a IA como pauta essencial em suas estratégias, tanto pelo avanço da tecnologia como para atender a expectativa do mercado já que esse é o tópico do momento. Passados 26 meses, o mercado parecia caminhar para uma consolidação contando apenas com dois novos nomes: OpenAI e Nvidia. O surgimento da Deepseek mostra exatamente o contrário. O mesmo aconteceu com a internet nos anos 1990, quando o próprio Google foi um competidor tardio. Estamos apenas nos primeiros metros dessa maratona, é precipitado achar que os competidores que hoje se destacam estarão sozinhos no longo prazo.
Restrição promove inovação
Muitos acreditam que a inovação só acontece na abundância, seja de tempo, investimento, tecnologia, pessoas, etc. Historicamente temos incontáveis exemplos que provam o contrário. A combinação de um objetivo estabelecido e restrições claras estimulam a busca por soluções não convencionais. A Deepseek não tem acesso aos mais avançados chips da Nvidia por uma imposição do governo americano. Também não conta com o capital abundante do Vale do Silício ou parcerias com big techs como é o caso da OpenAI. O resultado? A empresa desenvolveu um sistema de treinamento da IA que busca usar menos número de parâmetros durante o treinamento, gastou abaixo de 6 milhões de dólares no processo e fez isso em dois meses. Para efeito de comparação, a OpenAI gastou mais de 100 milhões de dólares no treinamento do seu modelo. Com tecnologia considerada defasada, menos recursos e uma estrutura enxuta a Deepseek conseguiu atingir resultados comparáveis com o ChatGPT, até mesmo o superando em diversos testes de benchmarking. Sam Altman, da OpenAI, reconheceu o feito, classificando como “impressionante”. Além disso, a empresa desenvolveu sua solução com código aberto, possibilitando que mais empresas e pesquisadores ao redor do mundo possam incorporar inovações e aperfeiçoar a estratégia de treinamento.
A Guerra Fria da IA
Se no século XX presenciamos a corrida pela conquista do espaço, agora assistimos a corrida pelo domínio da IA. Entre 2014 e 2023, a China depositou 38.210 patentes que envolvem IA generativa contra 6.276 dos EUA, segundo levantamento da Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Fica evidente desde 2022 que a IA é a camada de tecnologia desta década. Ela se beneficia se todos os avanços anteriores (digitalização – internet – transformação digital – redes móveis – smartphones – nuvem) que criaram as fundações para coleta, armazenamento e tráfego de dados. Quem dominar a IA terá importante vantagem competitiva e a China entendeu esse cenário muito cedo. Ainda faltava um app de uso popular que conquistasse um espaço no ocidente, assim como aconteceu com o TikTok na era das redes sociais. Não falta mais. Certamente veremos uma escalada nos investimentos nos próximos meses. Até o presidente Trump mencionou a chegada da Deepseek como um importante “alerta”
Certamente o mercado de IA já não é o mesmo com a Deepseek. Quem pode ganhar com isso são os consumidores que terão acesso a IA generativa com menores custos e também se beneficiarão com as inovações que devem chegar ao mercado em tempo ainda mais curto depois do terremoto causado nesta semana. Vale acompanhar.