Sam Bridges retorna em Death Stranding 2 ainda mais equipado para enfrentar os desafios do novo mundo pós-colapso
Será que reconectar o mundo foi, de fato, uma boa ideia? Essa é a pergunta que move Death Stranding 2: On The Beach, sequência do polêmico, inovador e absolutamente singular jogo de 2019. Se no primeiro título Hideo Kojima nos convidava a costurar os cacos de uma civilização quebrada, agora ele questiona as consequências dessas conexões. E, como todo projeto que leva sua assinatura, a resposta não vem fácil — nem simples.
Mais acessível, mas ainda estranhamente desconfortável
Se você achou que o primeiro Death Stranding era “só um simulador de entregas”, talvez On The Beach te surpreenda — positivamente ou não. Kojima escutou parte das críticas e tornou o gameplay mais fluido, divertido e acessível, sem abrir mão da sua essência esquisita e profundamente filosófica.
O loop de entrega, planejamento e superação de obstáculos ainda é o núcleo, mas agora cercado por ferramentas, veículos e sistemas que tornam a travessia menos punitiva e mais estratégica. Uma árvore de habilidades dá profundidade ao progresso do personagem, enquanto dispositivos como monotrilhos, skates improvisados e impressoras 3D portáteis expandem as opções para lidar com os desafios do terreno.
Mas, se você odeia andar, sinto informar: ainda vai andar. E muito.
Mais cinematográfico do que nunca
Cenários cinematográficos e trilha sonora assinada por Woodkid criam a atmosfera única da sequência dirigida por Hideo Kojima
Se no primeiro jogo o visual já beirava o fotorrealismo, On The Beach extrapola qualquer expectativa. Cada enquadramento parece ter sido pensado como uma cena de cinema experimental — ou de um sonho lúcido regado a delírios existencialistas. A trilha sonora, agora comandada pelo aclamado Woodkid, amplifica o tom melancólico, poético e, curiosamente, otimista que perpassa a narrativa.
Kojima não faz jogos. Ele dirige experiências sensoriais que transitam entre o cinema, o game e a performance artística.
Ação digna
Legenda imagem: Combate repaginado: espadas de luz e gadgets inusitados elevam a dinâmica das batalhas contra BTs em On The Beach
Se havia uma reclamação unânime sobre o primeiro jogo, ela estava no combate. Desajeitado, truncado, quase opcional. Aqui, a situação melhora consideravelmente. O combate é mais ágil, dinâmico e recompensador, sem perder a estranheza. Armas não letais, gadgets absurdos e até uma espada de luz entram no arsenal de Sam.
As batalhas contra os BTs também ganharam melhorias. Ainda são tensas, ainda são grotescas, mas agora há mais espaço para estratégia e, principalmente, menos frustração.
Uma nova tripulação, um novo mundo
A embarcação DHV Magellan serve como nova base para Sam e sua tripulação, em uma trama que mistura filosofia e ficção científica
Sam Bridges volta, mas não está mais sozinho — nem psicologicamente, nem literalmente. Fragile, Deadman, Heartman e outros rostos conhecidos estão de volta, agora acompanhados de uma tripulação nova e excêntrica. A DHV Magellan, uma espécie de embarcação submarina que navega por mares de alcatrão, serve como uma segunda casa para essa galeria de personagens que parecem saídos de um crossover entre um filme do Christopher Nolan e um sonho febril de David Lynch.
E claro, Higgs retorna — ainda mais insano, armado com uma guitarra que dispara raios (!), em uma performance simplesmente inesquecível.
O jogo que explica o próprio jogo
Higgs está de volta, agora empunhando uma guitarra que dispara raios, em uma das performances mais surreais do jogo.
Se havia quem se perdesse nas metáforas e na densidade do primeiro, Kojima aqui decidiu mastigar boa parte das alegorias. O personagem Dollman, que praticamente se torna um tutorial ambulante preso na cintura de Sam, chega a incomodar pela obviedade com que aponta mensagens, fraquezas de inimigos e até referências filosóficas.
Esse excesso de didatismo tira um pouco do mistério, do desconforto e da reflexão silenciosa que tornavam o primeiro tão impactante.
Conclusão — Uma sequência mais redonda
Death Stranding 2: On The Beach é, sem dúvida, uma sequência melhor em praticamente todos os aspectos técnicos. Mais divertido, mais dinâmico, mais bonito, mais acessível. Mas, como todo filho de uma obra absolutamente inovadora, carrega o peso de não poder mais surpreender do mesmo jeito.
Se o primeiro era uma provocação à paciência, à conexão e ao isolamento, o segundo é uma reflexão sobre as consequências dessas escolhas. E, ainda que mais “palatável”, ainda é estranho, desconfortável e maravilhoso à sua maneira.
Se você gosta de experiências únicas, que transitam entre o gênio e o absurdo, prepare sua mochila. Kojima te espera — de novo — no fim do mundo.
Agradecemos à PlayStation por ter cedido uma cópia de Death Stranding 2: On The Beach para análise.