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Crítica Tartarugas Até Lá Embaixo | Adaptação é retrato dolorido da ansiedade

Diandra Guedes

Crítica Tartarugas Até Lá Embaixo | Adaptação é retrato dolorido da ansiedade

Depois de fazer o público chorar um rio com o livro (e o filme) A Culpa é das Estrelas
, John Green emplacou outros sucessos, entre eles
Tartarugas Até Lá Embaixo

, um drama muito bem construído e com potencial para tocar o coração do público, especialmente daqueles que têm TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)
.

Quem ouve o nome do autor imediatamente o relaciona com histórias românticas, cheias de altos e baixos e muito drama, mas neste caso o fio condutor da trama é a amizade e o poder que a ansiedade tem de roubar a vida de uma pessoa.

Aza (Isabela Merced) é uma adolescente que pensa demais em bactérias e microorganismos, e raciocina a todo momento se o seu corpo está sendo infectado e se ela vai morrer. Isso se agrava quando seu pai falece de maneira inexplicável bem na sua frente, quando ela ainda era uma criança. A partir daí, sua obsessão piora e faz com que ela se torne refém da própria cabeça, ao mesmo tempo que tenta levar uma vida comum.


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Sua melhor amiga Daisy (Cree Cicchino) é o seu oposto; animada e falante. As duas parecem se completar, mas quem observa com atenção percebe que Aza passa mais tempo lidando com seus pensamentos do que dando algum tipo de atenção para a coitada. Tudo isso é mostrado aos poucos ao longo da trama, e o maior acerto do enredo é, justamente, o filme não ter pressa de entregar um desfecho surpreendente ou plot twist incrível.

Ele até se debruça sobre um desaparecimento misterioso para atrair a atenção do público, mas esse arco serve apenas como plano de fundo para que a protagonista reencontre Davis (Felix Mallard), um garoto que ela conheceu quando participou do acampamento para crianças que vivenciaram o luto. Os dois têm química e se gostam, mas não podem ficar juntos porque, mais uma vez, a ansiedade da protagonista não permite.

Como ela vai namorar sem beijar? E como conseguirá trocar fluidos e bactérias com outras pessoas? Para o espectador, essas questões podem parecer absurdas, mas o filme é perspicaz em construir um enredo que faça com que qualquer pessoa com ansiedade se identifique. Mesmo que você não tenha TOC, se vivencia o pesadelo de ser uma pessoa ansiosa, sabe como pensar demais em problemas futuros ou mesmo inexistentes pode te roubar da vida real.

Isso fica ainda mais evidente quando Aza e Daisy discutem, e a melhor amiga despeja e prova por A+B como a protagonista nunca conseguiu olhar para fora dela mesma. Nesse ponto, não há certo ou errado, há apenas duas pessoas feridas e emocionalmente fragilizadas.

Apesar dessa trama intensa e cheia de questionamentos, a diretora Hannah Marks não esquece que o livro de Green é uma obra para adolescentes e mantém a leveza necessária para atingir o público alvo. O trabalho dos roteiristas Isaac Aptaker e Elizabeth Berger também não permite que o enredo se torne piegas, especialmente o arco amoroso da trama. Mas esse êxito já era esperado, já que a dupla trabalhou junta em
This is Us

, uma das melhores séries de drama da atualidade.

Do lado de fora da caixa de Pandora

Se viver com a ansiedade é todo dia lidar com uma caixa de Pandora e com os gatilhos que podem sair de lá, quem está do lado de fora e olha com amor para a pessoa ansiosa também sofre. No filme, esse papel fica com a mãe de Aza, uma mulher que teve que criar a filha sozinha e que tenta encontrar uma maneira de ajudá-la. Infelizmente seus esforços são pouco efetivos, mas o apoio que ela dá à filha na última metade do filme, reforça como às vezes o ansioso só precisa ser ouvido.

E é com todos esses acertos e com a participação do próprio autor na produção do filme, que Tartarugas Até Lá Embaixo
conquista os assinantes da Max. Apesar de ser um filme teen, ele tem capacidade de furar a bolha e se aproximar de outros públicos. Experimente dar uma chance a história emocionante!

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.

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