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Crítica O Simpatizante | Espionagem, intrigas e vários Robert Downey Jr.

André Mello

Crítica O Simpatizante | Espionagem, intrigas e vários Robert Downey Jr.

A Guerra do Vietnã foi o pano de fundo de clássicos do cinema e TV que mexeram com o imaginário de gerações, mas poucas produções tentam mostrar as coisas pelos olhos dos vietnamitas, colocando-os no centro da história. O autor Viet Thanh Nguyen tentou fazer isso de um jeito diferente em seu livro O Simpatizante
, bra que virou uma série de mesmo nome da HBO e Max.

Mostrando um agente duplo, nos momentos finais da guerra, tendo que fugir para os Estados Unidos e continuar com sua função de espião. Enquanto isso, ele encontra figuras americanas, muitas interpretadas por Robert Downey Jr, que representam exatamente a posição do povo estadunidense da época aos olhos dos refugiados.

A série, dirigida por Park Chan-wook, da Trilogia da Vingança, com Mr. Vingança
, Oldboy
e Lady Vingança
, tem uma excelente ideia, mas uma execução que deixa um pouco a desejar.


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Lutando pela sua nação

O Simpatizante
conta a história do Capitão, personagem interpretado por Hoa Xuande (
Cowboy Bebop

), um espião do Vietnã do Norte infiltrado na polícia do Vietnã do Sul, às vésperas da tomada de Saigon. Ele trabalha praticamente como um mordomo de um general incompetente e de um agente da CIA, um dos personagens interpretados por Robert Downey Jr, cheio de maquiagem e um cabelinho engraçado.

Quando o general consegue fugir com os americanos no final da guerra, o Capitão é ordenado a acompanhá-lo para ficar de olho em suas atividades em solo americano. Já nos Estados Unidos, o Capitão acaba sentindo um pouco o gosto da vida no país e as possibilidades que teria.

Isso é potencializado com um relacionamento que ele começa a ter com uma mulher mais velha, interpretada por Sandra Oh ( Grey’s Anatomy
), e pelas figuras paternas que encontra, todas interpretadas por Robert Downey Jr.

Tendo isso em mente, é possível criar um dilema sobre a vontade de ter um mundo se abrindo perante seus olhos ou continuar com o seu dever à nação. O fato de o Capitão ser um mestiço, com uma mãe vietnamita e um pai francês, poderia aumentar mais esse dilema de não saber exatamente qual é o seu lugar no mundo.

Só que O Simpatizante
tem um problema que acaba minando um pouco o seu potencial, que é tentar complicar demais o desenvolvimento da sua trama, e buscar apresentar tudo de um jeito estilizado e exagerado que tira a seriedade de alguns momentos importantes.

Acho que tem Downey Jr demais

A escolha de ter Robert Downey Jr para interpretar quatro personagens é bastante interessante, mas a forma como isso é usado acaba distraindo bem mais do que deveria. Fica a impressão que a ideia era ótima no papel, já que colocaria o ator em mais episódios e daria a oportunidade de ele exercitar o seu talento. Só que, na prática, todas as cenas em que ele aparece tiram a atenção do que realmente importa.

Hoa Xuande consegue se segurar bem no papel do Capitão em vários momentos que demandam bastante do jovem ator australiano, mas a presença de Downey Jr, que no papel de coadjuvante poderia elevar a atuação, acaba sugando a energia da cena para si.

Seja pelo jeito exagerado que ele escolheu para atuar na maioria dos seus papéis, ou pelo visual às vezes ridículo deles, você acaba prestando atenção nele pelos motivos errados. A atuação ainda é interessante, mas destoa de todo o resto.

Para não falar que tudo é esquisito, o primeiro personagem interpretado por ele, Claude, é o que mais combina com a série. Um agente da CIA que trabalha no Vietnã, apoiando as tropas do sul, traz uma atuação muito mais condizente com a história.

Todas as outras são apenas “Olha o Downey Jr com uma maquiagem esquisita e uns trejeitos engraçados” que, infelizmente, acaba lembrando muito mais Eddie Murphy em seus piores momentos do que realmente ajudando essa trama de espionagem. E isso acaba sendo prejudicial para a série.

Felizmente, como comentado, Xuande consegue se segurar bem no papel principal e as cenas em que ele atua ao lado de refugiados ou da sua amante japonesa funcionam. O problema está realmente no desenvolvimento da trama, que muitas vezes parece ir para lugar nenhum, apenas para dar uma reviravolta que nem sempre é tão interessante como quer ser.

A série é cheia de talentos, alguns que confesso não conhecia antes por serem atores que trabalhavam em produções locais ao redor do mundo. Em conversa que o Canaltech
participou com os produtores Niv Fichman e Susan Downey, foi comentado que as buscas pelo elenco ocorreram nos Estados Unidos, Austrália, Ásia, tentando achar esses talentos muitas vezes escondidos do público americano.

O próprio showrunner Park Chan-wook é um excelente diretor, com uma visão muito interessante de mundo e que consegue expor isso de maneira incrível em suas produções. Fernando Meirelles, o diretor brasileiro de Cidade de Deus
e da série da Apple
TV+
Sugar

, é responsável pela direção de um dos episódios.

O Simpatizante
é cheio desses talentos, mas parece que falta algo na série para que ela seja realmente especial. Equilibrar esse tom de sátira política e social é bem mais complicado do que simplesmente mostrar algumas cenas absurdas dentro de um contexto sério, algo que todos os envolvidos sabem muito bem como fazer, mas parece não ter funcionado tão bem como poderia aqui.

Ainda assim, mesmo com esses problemas, O Simpatizante
é uma série ambiciosa e interessante. Ao contrário de
O Regime

, outra série do Max que tinha um conceito muito bom, mas que se perdeu rapidamente, a produção com Downey Jr consegue chegar à reta final com algum fôlego, ainda que aos tropeços.

Está longe de ser ruim, mas também poderia ser muito melhor, principalmente com o talento disponível na produção.

O Simpatizante
está disponível na Max e HBO, com episódios todos os domingos até o dia 26 de maio.

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.

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