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Crítica Lamborghini – O Homem Por Trás da Lenda | Capotando na reta

André Mello

Crítica Lamborghini – O Homem Por Trás da Lenda | Capotando na reta

A onda de filmes sobre empresários que criaram grandes marcas não é particularmente nova, mas existe um direcionamento que pode fazer essas produções darem certo ou não. Caso a figura em questão não seja particularmente interessante, algum momento crucial para a empresa precisa ser. Lamborghini – O Homem Por Trás da Lenda
consegue a proeza de não ser nenhum dos dois.

O longa baseado no livro Ferruccio Lamborghini. La storia ufficiale
, escrito por Tonino Lamborghini, filho do fundador da empresa, falha em ser interessante o suficiente para explorar uma figura que não chama atenção, com a história de uma empresa que não parece ter grandes desafios para se firmar no mercado. Tirando os carrões na tela, é um filme sobre nada.

Embelezando um começo complicado

Lamborghini – O Homem Por Trás da Lenda
começa com o retorno de Ferruccio Lamborghini após a Segunda Guerra Mundial, onde serviu na Força Aérea Italiana. Existe uma passagem muito rápida sobre esse fato, ignorando a história de que Ferruccio foi preso pelas forças aliadas no final da guerra, voltando para casa após um ano detido por trabalhar com a permissão de nazistas.


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O filme apenas coloca Ferruccio como um veterano de guerra que retorna à fazenda de sua família querendo construir um legado para si. Desde o início, é possível notar que Lamborghini tem uma vontade de ser lembrado pelos seus feitos e ter o seu nome marcado na história, mas, ao mesmo tempo, não parece se importar com sua própria família.

Isso é ampliado pelo fato de perder a sua esposa durante o parto do seu filho, algo que parece ter marcado profundamente a vida de Ferruccio.

O filme se desenvolve com certa rapidez, mostrando a criação de uma fábrica de tratores e começando sua fortuna dentro dessa indústria. Ao mesmo tempo, o longa tenta pintar a figura de Ferruccio como inovador, uma pessoa inquieta e à frente de seu tempo.

O problema é que a maneira como ele é interpretado quando jovem, pelo ator Romano Reggiani, e depois por Frank Grillo ( Capitão América: Guerra Civil
), entrega uma personificação antipática. Lamborghini não tem grandes qualidades além de ter dinheiro e querer que as coisas sempre saiam do jeito que ele deseja, o que faz com que seja muito difícil se engajar em sua jornada.

Uma rivalidade de um lado só

Essa figura pouco convidativa poderia funcionar em um filme que mostra o desafio da criação do primeiro carro da Lamborghini. Todo trecho que mostra esse desejo de Ferruccio de entrar no mercado de veículos, apesar de próximo da realidade, torna difícil torcer pelo sucesso da empresa.

Tudo acontece porque Lamborghini acredita que a Ferrari que comprou tem problemas de embreagem. Como tem conhecimento de mecânica, insiste que seu carro precisa ser melhor. Ele leva esse problema diretamente a Enzo Ferrari, dono da montadora e interpretado por Gabriel Byrne ( Hereditário
).

Quando ele é ignorado, resolve que vai criar o próprio carro para derrotar o “oponente”. O problema é que Ferrari sequer toma conhecimento dessa rivalidade até muito tempo depois. A impressão que passa é que toda a montadora de veículos foi criada por birra de um milionário contra outro milionário.

Não tem como torcer por nenhum dos dois nesse caso e, em momento algum, é mostrado que Lamborghini passou por um desafio que vai além de “o tempo para a criação desse carro é curto”. Inclusive, o tempo só é curto porque Ferruccio quer que seja assim por puro capricho.

Uma falha como homem de família e amigo

Ao longo de todo o filme, existem duas coisas que ficam bastante claras: Ferruccio Lamborghini teve visão de negócios, alcançando sucesso em parte de suas empreitadas, e ele era uma pessoa difícil.

A primeira coisa é bem direta e o filme não se esforça em mostrar grandes desafios enfrentados pelo empresário além daqueles impostos por ele mesmo. Já a segunda torna o longa um pouco complicado que é mostrar como ele falhou como amigo, como marido, pai, avô e até mesmo como criador.

Em dado momento, ele fala para um amigo e parceiro de negócios que ficou com a mulher por quem ele era apaixonado “porque podia”. Para essa mesma mulher, que se tornou sua esposa, que ele nunca a amaria.

Para engenheiros trabalhando no primeiro carro, além de dar prazos absurdos, ignora o conselho de profissionais e fala para eles fazerem o que ele quer. Tudo isso é feito para tentar mostrar Lamborghini como um homem firme, com ideias arrojadas e disposto a tudo para alcançar seus objetivos.

https://www.youtube.com/watch?v=1idRqhND4VM

Infelizmente, termina apenas mostrando um milionário que não se importa muito com os outros, desde que ele consiga aquilo que deseja. Se a ideia era criar essa aura inspiradora, o resultado consegue ser o exato oposto. Às vezes, a gente torce contra ele.

Vale a pena?

Em entrevista ao Canaltech
, o diretor do filme, Bobby Moresco ( Crash – No Limite
), comentou que não quis passar nenhuma grande mensagem com a história de Lamborghini, mas sim retratar a vida do homem que criou a empresa e colocar na mente do espectador uma pergunta: “Valeu a pena fazer tudo isso para terminar como terminou?”.

É uma pergunta bastante válida e, colocada no contexto do filme, faz com que ele tenha uma razão de existir. Isso porque, como falamos no começo, o filme não traz nenhum grande desafio para Lamborghini e ainda o mostra como uma pessoa pouco atrativa.

Porém, considerando o poder da marca Lamborghini e como a história do filme se conclui, realmente a questão sobre ter feito tudo aquilo para alcançar os seus objetivos fica na mente de todos. Assim como se valia mesmo a pena fazer um filme para contar tudo isso.

Leia a matéria no Canaltech
.

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