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Como seria possível o transplante de cérebro do filme Pobres Criaturas

Fidel Forato

Como seria possível o transplante de cérebro do filme Pobres Criaturas

Vencedor de quatro prêmios do Oscar, o filme Pobres Criaturas
retrata o pós-operatório e os desdobramentos de uma cirurgia ainda inédita na medicina: o transplante de um cérebro vivo
para outro corpo também vivo. Adiantamos que o feito não deve ser realizado nos próximos anos em uma sala de hospital do mundo real, mas há chances de ocorrer no futuro.

Nas telonas do cinema e também no streaming
, é possível assistir à saga de Bella Baxter
, interpretada por Emma Stone. [Alerta de spoiler]
Ali, vemos como o cérebro de um bebê se comporta, quando transplantado no corpo de uma mulher adulta, o que resulta em muita confusão, drama e surrealismo
.

“Tal como os bebês que desenvolvem um arsenal de pensamentos, comportamentos, competências e habilidades durante o seu desenvolvimento infantil, um cérebro transplantado pode fazer o mesmo”, afirma Dan Baumgardt, neurocientista e professor da Universidade de Bristol (Reino Unido), em artigo na plataforma The Conversation
.


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Apesar da lógica da afirmação, isso é mera especulação, quando o assunto são transplantes de cérebros. Afinal, não há nenhum cirurgião que tenha feito algo parecido ao procedimento realizado por Dr. Godwin Baxter, interpretado por Willem Dafoe, em Pobres Criaturas
. Na história recente, agumas promessas do tipo já foram feitas, mas nunca realizadas
.

Se alguém rompesse as barreiras éticas e tentasse um transplante de cérebro na vida real, esta pessoa, muito provavelmente, encararia inúmeros desafios, como explica o neurocientista Baumgardt.

Como transplantar um cérebro vivo

Em primeiro lugar, é necessário abrir o crânio de uma pessoa para a retirada do cérebro que será “doado”. Para isso, a estratégia mais simples seria a realização de uma craniotomia, ou seja, a remoção de uma parte do osso do crânio, feita com a ajuda da serra de Gigli e do craniótomo.

“Ao abrir o crânio e as meninges [as três membranas protetoras], haverá uma janela [grande o] suficiente para remover o cérebro. Esta seria a parte mais simples da operação”, aposta o pesquisador Baumgardt.

Se a inspiração para o procedimento for os saberes dos antigos egípcios no campo da mumificação, o cérebro pode ser removido em pequenos pedaços pelo nariz, sem a abertura do crânio. No entanto, é difícil imaginar que seria possível reconstruí-lo, de forma funcional, como um quebra-cabeça.

É possível religar o cérebro antigo em um novo corpo?

Segundo Baumgardt, “a remoção de um cérebro requer o corte dos 12 pares de nervos cranianos que saem diretamente dele e da medula espinhal”. Então, será preciso conectá-los ao novo corpo integralmente.

No entanto, os nervos não se unem naturalmente. Na verdade, assim que são cortados, eles começam a se desintegrar e a morrer. Em paralelo, é necessário religar as artérias, o que vai restaurar o fluxo sanguíneo.

Para essa finalidade, ainda não existem estratégias seguras, mas um cirurgião tão louco quanto Godwin Baxter poderia utilizar colas biológicas experimentais ou ainda enxertos de células que estimulam a recuperação neuronal — a segunda sugestão parece mais eficiente.

Resultado é igual ao filme Pobre Criaturas?

Se tudo der certo, o novo cérebro começará a receber informações sensoriais de todo o corpo e, consequentemente, enviará instruções de volta. Com isso, fará com que os músculos se contraiam, o coração bata, as glândulas secretem hormônios e a boca fale.

Entretanto, isso não é tão simples. Outro desafio será avaliar se a barreira hematoencefálica, escudo protetor do cérebro, foi adequadamente restaurada. Caso contrário, o órgão estará suscetível a qualquer infecção, o que pode culminar na morte do indivíduo.

Dito tudo isso, “o transplante de cérebro atualmente continua sendo matéria de ficção científica e de filmes premiados pela academia internacional [como Pobres Criaturas
]

”, afirma Baumgardt.

“A viabilidade, de acordo com a anatomia e fisiologia básicas, torna improvável o desenvolvimento de um procedimento tão complexo”, acrescenta o neurocientista. Apesar disso, ele não descarta que, no futuro, com novas ferramentas, tal missão se torne possível. Nesse dia, o procedimento pode ficar tão corriqueiro quanto um transplante de coração
.

Vale destacar que, hoje, a doação de cérebros já ocorre
, mas nenhum paciente é diretamente beneficiado. Os órgãos doados são usados no campo da pesquisa, ajudando na descoberta de novos tratamentos e ampliando a compreensão de doenças neurológicas.

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.

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