Cientistas do Instituto Butantan descobriram um novo possível alvo de terapia para pacientes com esclerose múltipla (EM), a partir de estudo com animais tratados com uma neurotoxina presente no veneno da cascavel. Esta não é a primeira vez que a toxina da serpente
, estudada há mais de 20 anos pela instituição, é relacionada com descobertas científicas.
Apesar da diversidade de tratamentos contra a esclerose
, a ciência ainda não descobriu uma cura para essa doença que provoca comprometimento motor generalizado e causa dor crônica — no mundo, 2,3 milhões de pessoas convivem com a condição. Então, a maioria das terapias envolve o alívio dos sintomas, sem de fato tratar o problema.
Nesse cenário, a pesquisa do Butantan dá uma nova perspectiva para o tratamento da esclerose, mas ainda está em estágio inicial e, por enquanto, não há previsão para quando vai se tornar um remédio amplamente disponível nas farmácias.
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Veneno da cascavel contra esclerose múltipla
Publicado na revista Brain, Behavior, and Immunity
, o novo investiga os efeitos da crotoxina (CTX), uma neurotoxina isolada do veneno da serpente Crotalus durissus terrificus
, em dose não tóxica, no tratamento de casos de esclerose múltipla em roedores. Sabe-se que o composto pode ter ação anti-inflamatória, analgésica e antinociceptiva (que anulam os efeitos da dor), o que pode ser bastante útil em pacientes com EM.
Nos camundongos, a substância aliviou as dores e também desacelerou a progressão da esclerose
. “Os resultados demonstraram que a CTX não só induz analgesia no período anterior ao início dos sinais clínicos, mas também é capaz de diminuir a intensidade e a incidência desses sinais”, afirmam os pesquisadores, em artigo.
“Estes resultados sugerem que a CTX é um potencial tratamento não só para a alteração da dor, mas também para a progressão clínica induzida pela doença, bem como uma ferramenta útil para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para o controlo da esclerose múltipla”, acrescentam os autores.
Novo alvo para terapias
Há ainda outro benefício da pesquisa: a descoberta de um novo ponto alvo para terapias contra EM, que é o neurotransmissor acetilcolina. Em pacientes com a doença, as vias associadas ao neurotransmissor são afetadas, o que não ocorre com aqueles tratados com a neurotoxina e que responderam ao tratamento. É um indicador de que a regulação da via da acetilcolina pode ser importante no controle da doença.
Hoje, já existe um remédio contra a doença de Alzheimer, usado em alguns países, que inibe a degradação desse neurotransmissor. Também há uma nanopartícula, ainda em testes, com potencial ação nesses casos. Ambas as apostas são mais fáceis de serem testadas do que o veneno da serpente
por causa da eventual toxicidade.
Se ocorrerem testes clínicos no futuro, será possível observar o impacto desses medicamentos em pessoas com esclerose múltipla.
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