sábado, 20 de dezembro de 2025

Bluesky repete os erros do Twitter, acusa fundador da rede social

André Lourenti Magalhães

Bluesky repete os erros do Twitter, acusa fundador da rede social

Jack Dorsey
rompeu o silêncio sobre sua saída do Bluesky
, confirmada no começo da semana
. Em uma rara entrevista concedida ao site Pirate Wires, Dorsey disse que abandonou a rede social porque notou que o projeto estaria “repetindo os mesmos erros” do X (antigo Twitter
) e não gostou dos rumos tomados para a moderação de conteúdo na plataforma.

Para contextualizar, vale lembrar que ele era o CEO do antigo Twitter até a venda para Elon Musk
e deixou a empresa para focar na Rede do Céu Azul. Durante a conversa, Dorsey criticou o método de faturamento do X com base nos anúncios, elogiou a estratégia atual de Musk e revelou investimentos num projeto liderado por um brasileiro.

Moderação foi um problema

Um dos pilares das discordâncias entre Dorsey e a operação do Bluesky foi a moderação de conteúdo da plataforma. O fundador defende a ideia de um protocolo descentralizado, na qual não haveria restrição sobre o que as pessoas publicam por lá, e não gostou da ideia de ter um controle com pessoas banidas na rede.


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A decisão parece ter revivido alguns pesadelos de Jack Dorsey, para quem o projeto abandonaria as ideias de descentralização para se tornar o produto de uma empresa com conselho e direção própria:

“A ferramenta foi criada para ser controlada para as pessoas. Acho que a melhor ideia é de ter uma loja de algoritmos, na qual você escolhe como ver as conversas. Porém, aos poucos, eles começaram a pedir ferramentas de moderação e que banissem pessoas para a Jay [CEO do Bluesky] e a equipe. E infelizmente eles seguiram com isso.

Foi o segundo momento que pensei ‘ah, não’. Isso está literalmente repetindo os erros que cometemos como empresas. Não é um protocolo verdadeiramente descentralizado, é outro aplicativo. É outro app que meio que segue os passos do Twitter, mas para uma diferente parte da população. Tudo que queríamos sobre descentralização e sobre um protocolo aberto de repente virou uma empresa com conselho e capital de risco. Não era isso que queria”.

De qualquer forma, Dorsey não quis deixar rusgas com a saída: durante o papo, ele disse que respeita a CEO Jay Graber, mas não “se alinha” ao posicionamento dela. Ainda segundo o ex-executivo, havia um consenso de que ele e o conselho queriam coisas diferentes.

A conversa sobre moderação nas redes sociais é recorrente, principalmente envolvendo a propagação de discursos de ódio e a prática de crimes digitais em diversas plataformas. Isso foi, inclusive, o pilar da discussão entre Elon Musk e o ministro do STF Alexandre de Moraes
sobre contas banidas no X.

Migração para o Bluesky e a era Musk no X

Jack Dorsey também discordou da forma em que o Bluesky começou a fazer sucesso como um “anti-Twitter” — na visão dele, as pessoas migraram para a nova rede para fugir do X e isso “não seria uma forma de criar algo de sucesso”.

Sobre a antiga rede que comandou, Dorsey diz que Elon Musk fez a escolha certa ao assumir o comando da empresa e pensar em novas formas de monetização. O ex-CEO foi crítico à estratégia antiga de faturamento da companhia, que dependia diretamente das verbas de anunciantes e fazia a plataforma seguir o que essas empresas desejavam.

“O X ainda é uma empresa, ainda tem que fazer uma escolha consciente sobre os direitos garantidos aos usuários. O lado bom é que não é mais uma empresa pública com um incentivo de lucro baseado no modelo de anúncios, que pode ser fortemente influenciado pela vontade dos anunciantes de mover o orçamento se não gostarem do que você faz. Então, Elon fez uma escolha, e eu acho que é a certa. Acho que ele comprou na hora errada, obviamente, mas a escolha foi de sofrer o custo para manter as políticas que ele mesmo deseja. Anunciantes saíram e o modelo de negócios balançou, mas você tem que criar mais coisas, como assinaturas, o que Elon está fazendo”.

Investimento em projeto de brasileiro

Jack Dorsey falou de projetos futuros e mencionou que o seu foco está no Nostr, um protocolo aberto criado por um brasileiro conhecido como fiatjaf, que prefere não revelar a identidade.

O Nostr não é um aplicativo em si, mas um protocolo que pode servir como base para outras plataformas — algo que segue a ideia de ambiente descentralizado promovida pelo ex-Bluesky. De acordo com a Forbes, Dorsey já investiu pelo menos US$ 5 milhões no projeto.

Bluesky ganhou novos recursos

A vida segue para o Bluesky, que aos poucos ganha mais ferramentas para competir com X, Mastodon
e Threads no segmento de microblogging. A plataforma anunciou que desenvolve o suporte a mensagens diretas entre contas e publicação de vídeos
.

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