No Passado, as duas Guerras do Ópio (1839 a 1842) e (1856 a 1860), travadas contra o Império Chinês pelo Império Britânico (primeira) e pelos Impérios Britânico e Francês (segunda), culminaram na assinatura do “Tratado de Nanquim”, que obrigou o Imperador Xianfeng (Yìzhǔ (奕)), a ceder parte de seu Território por 100 anos para os Ingleses ( Hong Kong). Os invasores traziam da Índia, volumes gigantescos de ópio (entorpecente extraído da papoula) e vendiam na China, obtendo lucros imensos para compensar suas importações de sedas e especiarias. Por vezes o Imperador proibiu essa comercialização, pois identificou a forte dependência química gerada pela droga e nítida debilitação física e moral dos usuários. Já era tarde, não resistiu e sucumbiu diante da massificação do ópio que viciou grande parte da população.
Será que agora os países em Desenvolvimento, outrora colonizados, não estão diante de Novas Caravelas, onde o “Ópio Digital” assume a nova forma de dominação e conquista de territórios? Seria a nova fronteira das dominações globais, os cérebros de todos nós?
As perdas impostas pelos vícios químicos são mais do que conhecidas e propagadas, mas a intoxicação tecnológica é relevada com muita facilidade.
Os invasores da atualidade, assim como os do passado, possuem métodos para a massificação dos seus efeitos alienadores, sendo os atuais, baseados no vício tecnológico impostos aos seus “usuários”. O efeito é nítido, basta recorrer as estatísticas que apontam os impactos emocionais, como a ansiedade e a depressão, entre as doenças que mais crescem no mundo. Acrescenta-se aí outra “coincidência” entre passado e presente, no que se refere a recente declaração do CEO da empresa Meta (Facebook, Instagram, Whatsapp e Threads) de alterar sua política de checagem de fatos (frouxidão no combate as Fake News) e um alinhamento explícito a ideologia política de direita, representada pelo Presidente recém eleito nos Estados Unidos, Donald Trump. Zuckerberg comprometeu-se publicamente com a proteção dos interesses norte-americanos ao redor do mundo.
Chama a atenção o pragmatismo financeiro de Zuckerberg, ao conduzir a estratégia da empresa com base no “Follow the Money” (Siga o Dinheiro). Sob as ameaças de Trump, a Meta resolveu jogar o jogo e se aliar ao novo mandatário, sob pena de perder mercado para seus amigos e concorrentes, explícitos apoiadores do Republicano. Elon Musk da Plataforma “X”, especialmente, ocupará uma Pasta de modernização e eficiência no Governo Federal. Em sua declaração, o Trilionário e CEO da Meta, afirma que a mudança na política de checagem das informações publicadas em suas plataformas, representa uma “volta às origens”. Ele tenta ressoar o espírito romântico, quase bucólico, de um jovem que criou uma rede para facilitar o namoro e a amizade entre colegas da sua Universidade, com toda a liberdade de expressão e faz sugerir que é essa a “Origem” para a qual pretende retornar. Nada é tão ingênuo quanto parece. No caso específico, parece que a volta às origens diz respeito a vantajosa relação entre a empresa e o presidente eleito.
Em 2016, no processo eleitoral que resultou na primeira eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o mesmo método de utilização de “Bots” e disseminação de ódio e “Fake News” que interferiu no Referendo Popular do Reino Unido sobre a permanência ou saída da Comunidade Europeia, foi aplicado (resultou na escolha pela saída – Brexit). No caso das eleições norte-americanas, os “Bots” nas redes sociais eram “teleguiados” e tinham como alvo a candidata Democrata, Hilary Clinton. Tanto num episódio quanto noutro, o “DNA” da empresa Cambridge Analytica esteve presente. No início de 2018, os periódicos: The New York Times, The Guardian e Channel 4News, revelaram a denúncia de um ex funcionário da Cambridge Analytica, “Christopher Wylie”, sobre esse método nefasto e invasivo, contra a maior democracia do mundo. Rapidamente, as digitais da Meta, na ocasião chamada de Facebook, apareceram. O New York Times noticiou que a empresa vazou para a Cambridge, dados pessoais de aproximadamente 70 milhões de “usuários-eleitores”, apenas nos Estados Unidos.
Apesar de sempre negar, pedir “mil vezes”, desculpas, prometer aperfeiçoar seus mecanismos de proteção de dados pessoais dos usuários, Mark Zuckerberg, parece não ter se sensibilizado com os prejuízos amargados e a forte desconfiança pública que sofreu. A empresa teve que firmar em 2019, um Acordo de Privacidade de US$ 5 bilhões com a Comissão Federal de Comércio dos EUA e outro de US$ 100 milhões com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA que reclamavam indenização por entenderem que seus investidores foram enganados ao aplicarem nas ações da empresa, sem conhecimento desse tipo de método ilegal de atuação.
As escusas e promessas de melhoria dos sistemas de proteção de privacidade e verificação de fatos é uma retórica de Zuckerberg. Há apenas um ano atrás, o CEO da Meta em depoimento no Parlamento Norte-americano, viu-se diante de pais e vítimas de abusos sexuais, mentiras, calúnias, bullyng, sofrimentos emocionais, como depressão e até suicídios causados pela disseminação de ódio, e do vício algorítimico provocados pelo uso de suas redes sociais, sem os devidos controles e gestão eficiente de conteúdos por parte das suas Plataformas. O constrangimento lhe obrigou a pedir desculpas, embora não tenha sinalizado quaisquer indenizações pelos danos irreparáveis, apenas promessas vazias de que a moderação de conteúdos estava sendo aperfeiçoada, que a empresa estava comprometida a evitar esse tipo de ocorrência etc.
Há poucas semanas, Mark Zuckerberg publicou em uma de suas Redes que a empresa resolveu alterar a sua política de verificação de notícias. A fala foi repleta de recados direcionados à China, à União Europeia e às “Côrtes Secretas” da América Latina (uma alusão clara à Suprema Corte brasileira). Alinhamento mais conveniente e explícito do que ser ventríloquo do Presidente eleito, Donald Trump, impossível. É, de fato, uma “volta às origens”. Deixa claro, inclusive, a desonestidade em afirmar o compromisso com a preservação da privacidade e da saúde mental dos “usuários” (nome propício aos viciados). Ele simplesmente assumiu de público os seus interesses financeiros em detrimento de quem quer que seja, anunciando a descontinuidade da “checagem de fatos”, justificando que os mecanismos para evitar os abusos, as mentiras e toda ordem de distorção e de desagregação da sociedade via conflitos e polarizações é um atentado ao direito de expressão. Ou seja, se o ódio contra as pessoas for disseminado em suas redes, vamos supor, com afirmativas do tipo: “homossexualismo é uma doença de uma minoria pecadora e perigosa que precisa ser contida”, suas Plataformas não vão interferir para não ferir a liberdade de expressão? A empresa não assume quaisquer responsabilidades sobre os efeitos desse tipo de declaração absurda, lamentavelmente tão comuns no ambiente digital? Se os países que possuem legislações específicas como é o caso do Brasil, que considera crime a prática ou o incentivo da Homofobia, enquadrar a empresa, estará perseguindo a liberdade de expressão de quem difundiu o ódio contra a comunidade LGBTQIA+ numa das Redes da Meta ?
Qual é o limite das Big Techs no cabo de guerra contra os países adeptos a regulação de suas atuações? Elas reproduzirão o mesmo padrão da Meta? Penso estarmos próximos de um calculado esgarçamento nas relações entre a Tecnocracia e a Democracia! Para dar conta desse duelo insano em tempos de Inteligência Artificial Generativa, a caminho da Super Inteligência Artificial (AGI), que alternativas existem além da Regulação das Big Techs? A propósito, o alinhamento de Zuckerberg é tal, que admitiu no Conselho da Meta, um controverso aliado de Trump, o proprietário do UFC (Ultimate Fighting Championship), Dana White. Ou seja, parece que na Arena Digital Global desejam ver predominar, o mínimo de regras e o chamado “Vale Tudo”.
O Brasil será o Laboratório das Big Techs no enfrentamento das normas jurídicas e das tentativas de Regulação?
Exercito aqui a minha intuição de Futurista e acredito que ainda no primeiro semestre desse ano, veremos no Brasil, terra da admirada família Grace, do Jiu Jitsu, (que estiveram na origem do atual UFC) um confronto histórico.
O Primeiro Round já aconteceu e nós vencemos.
Recentemente o Supremo Tribunal Federal, sob a determinação do Juiz Alexandre de Moraes, enfrentou o afã colonizador do dono da Plataforma X (antigo twitter), Elon Musk. Fato é que depois de chiliques, fechamento do escritório oficial no Brasil, recusa em cumprir as determinações judiciais, sofreu bloqueio de seu funcionamento no país e até que as multas aplicadas à empresa fossem pagas, tanto o bloqueio do funcionamento da Plataforma como das contas de uma de suas empresas coligadas, a Starlink seguiu por tempo indeterminado. O grito, a disseminação da narrativa de cerceamento da liberdade de expressão, foram “impulsionados” de forma exponencial em outras Redes e na Bancada Liberal do Congresso Nacional brasileiro, mas não houve jeito a não ser atender as exigências legais do judiciário brasileiro. para a volta de sua atuação por aqui. O Bullyng global feito pelo dono do “X”, Elon Musk, contra o representante da Suprema Corte brasileira, a acusação de ditadura entre outros argumentos muito duros, demonstraram que esse pessoal sabe jogar a opinião pública contra seus governantes e o arcabouço legal que regula o funcionamento dos países. Desestabilizar é a Meta!
Penso que o próximo embate será muito mais difícil. Vamos enfrentar uma ameaça muito mais perigosa. Lembra-se da chantagem do invasor no episódio da Guerra do Ópio e o enfrentamento que culminou na tomada de parte de seu Território? Pois bem. A Meta, que controla o Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads, tem uma presença significativa no Brasil.
Aqui estão alguns números estimativos de usuários ativos da Empresa no país: WhatsApp: Cerca de 169 milhões; INSTAGRAM: 113,5 milhões; Facebook: 109,1 milhões.
Caso a Meta decida enfrentar as determinações judiciais brasileiras e por algum motivo suas operações forem suspensas por aqui, a grita será geral. A pressão dos políticos de direita sobre o governo, cooptando a opinião pública diretamente afetada, sensibilizada pela falta de acesso aos seus Grupos de Mensagem e Redes, criaria um nível de protestos muito mais significativo e massificado com consequências políticas assombrosas devido a possíveis impactos financeiros na população, com perdas de milhares de postos de trabalho. Alguns números para ilustrar essa previsão:
Marketing e Publicidade: Empresas brasileiras gastam bilhões de reais em publicidade digital. Em 2023, o mercado de publicidade digital no Brasil foi estimado em cerca de R$ 30 bilhões. Se considerarmos que uma parte significativa desse valor é investida em plataformas da Meta, a ausência dessas redes poderia resultar em uma perda muito sensível.
Vendas e Comércio Eletrônico: O comércio eletrônico no Brasil movimentou aproximadamente R$ 260 bilhões em 2023. Muitas vendas são impulsionadas por campanhas em redes sociais. A ausência dessas plataformas poderia impactar negativamente as vendas, resultando em uma perda potencial gigantesca.
Empreendedores e Pequenos Negócios:
Pequenos negócios e empreendedores dependem fortemente das redes sociais para promover seus produtos e serviços. Estima-se que cerca de 70% dos pequenos negócios no Brasil utilizam redes sociais para marketing. Imagine o estado de nervo dessa turma caso percam o acesso aos seus perfis?
Alertas sobre os perigos da Tecnocracia têm sido noticiados há alguns anos.
Por trás de um discurso libertário de “Troca de Espelhinhos por Ouro”, está a mesma prática de mais de 5 Séculos. É impressionante como seguimos encantados com os visitantes, dando-lhes tudo o que podemos e com medo de não atender a fome e a sede insaciável que eles têm pelos nossos recursos. Não é uma mera palavra, viramos mesmo “Recursos”, “Ativos” na estratégia de manipulação e faturamento orientado pelos algoritimos em nosso aprisionamento diante de Telas. Nossos cérebros e a nossa atenção têm sido profundamente manipulados de forma cada vez mais sofisticada e intuitiva, gerando lucros gigantescos. Apenas em 2024, estima-se que o faturamento global da publicidade “on line”, por parte das “Big Techs”, ultrapassou a marca de R$1 trilhão e meio.
A Ditadura Tecnocentrista navega nos Oceanos de Dados e suas Caravelas, como sempre, buscam tesouros, querem colonizar para explorar. A estratégia é a mesma: ”Dividir, para Conquistar”. Suas armas hipnotizantes são os algoritmos; O território a ser conquistado é o solo mental de cada um de nós. Que tenhamos discernimento e menos ingenuidade diante do Ópio Digital, assumindo o controle de nosso tempo e de nossa atenção, sem nos escravizarmos. Que a sabedoria guie nossos decisores diante das chantagens que virão!
A Ditadura Algorítmica tornou-se alvo de estudos sociológicos sérios e passou a ser retratada em séries e documentários premiados. Seguem algumas dicas desse Colunista, que vale muito à pena conferir:
“O Dilema das Redes”: https://youtu.be/7X54fS0SQyw
“Privacidade “Hackeada”: https://www.netflix.com/br/title/80117542
“Years and Years”: https://www.youtube.com/watch?v=SY41jhIP_xI
“Coded Bias”: https://www.netflix.com/br/title/81328723
“A Conspiração Consumista”: https://www.netflix.com/br/title/81554996
Namastech!