Alexandre de Moraes, ministro do STF
Em uma aula magna na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que as big techs promovem “lavagem cerebral” nos eleitores e corroem as bases democráticas. Segundo ele, essas plataformas são instrumentalizadas por grupos extremistas que utilizam a tecnologia para manipular a opinião pública e minar instituições democráticas. Moraes destacou: “As big techs não são enviadas de Deus, não são neutras. São grupos econômicos que querem dominar a economia e a política mundial, ignorando fronteiras, as soberanias nacionais, as legislações, para conseguir lucro.”
Ao longo do dia de hoje, suas declarações serão amplamente debatidas. Provavelmente, as big techs emitirão notas de resposta; talvez Elon Musk até publique um comentário a respeito. Mas, enquanto escrevo este texto na noite de segunda-feira, posso afirmar que, nesse assunto, o ministro está coberto de razão.
As recentes ações de Elon Musk e Mark Zuckerberg deixaram tudo muito claro. Musk, proprietário do X, confrontou o STF ao desafiar decisões judiciais que determinavam o bloqueio de contas ligadas a redes de desinformação e ataques à democracia. Zuckerberg, por sua vez, anunciou o fim do sistema de checagem de fatos da Meta, alegando que a empresa defenderá um modelo mais descentralizado, o que, na prática, pode significar menos controle sobre a circulação de fake news e conteúdos manipulados.
Mas nada do que Alexandre de Moraes diz parece importar. Sabe por quê? Porque a polarização global, intensificada pelo avanço da tecnologia e das redes sociais nos últimos 15 anos, cega a todos. O eleitor que consome apenas conteúdos filtrados por algoritmos viciados e bolhas informacionais dificilmente perceberá que as palavras de Moraes são uma defesa da soberania nacional. Da mesma forma, muitos que apoiaram o governo atual ignoram o aumento desenfreado nos gastos públicos.
Como diria Vanessa da Mata: “não tem mais jeito, acabou, boa sorte.”
O excesso de informação solidificou opiniões sobre certos personagens e, para parte da população, Alexandre de Moraes é visto como alguém que ataca a liberdade de expressão, não como alguém que busca regular um ecossistema digital descontrolado. Há de se admirar a audácia do ministro, pois o jogo que ele se propõe a jogar é ingrato.
Veja o paradoxo: grande parte dos brasileiros tomará conhecimento das declarações de Moraes por meio das big techs. Nesses mesmos espaços, ele será exaltado, refutado, revisado, idolatrado e, claro, muito odiado. Para Alexandre, o adversário é dono do estádio, da bola e das regras do jogo. Para o cidadão comum, o fato de a mensagem do ministro circular nessas plataformas pode até “inocentar” as empresas.
O embate de Moraes contra as big techs lembra a história de Davi contra Golias. Infelizmente, para quem torce pelo mais fraco, é improvável que o magistrado consiga, sozinho, derrotar uma legião de bilionários. Mesmo que o fizesse, suas ações não seriam vistas como imparciais.
No fim das contas, a democracia não será defendida apenas no campo jurídico. Assim como Alexandre, o Grande, precisou de aliados e estratégias inteligentes para construir seu império, Alexandre de Moraes necessita de uma aliança ampla e global para combater a desinformação em um mundo dominado pelas big techs. Sem esse exército, a batalha contra o extremismo e as fake news estará perdida antes mesmo de começar.
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